Depois dos prazeres da caça e do campo nas propriedades da Casa de Bragança em Vila Viçosa, a Família Real decidira regressar ao Palácio das Necessidades a 1 de Fevereiro de 1908. Parte, de Vila Viçosa, no comboio das 11.40, rumo ao Barreiro. À entrada da estação de Casa Branca, o comboio sofre um ligeiro descarrilamento. É enviado telegrama a João Franco, Presidente do Conselho de Ministros, a informar que a Família Real chegaria com uma hora de atraso.
Chegada ao Barreiro, embarca no vapor dos Caminhos de Ferro de Sul e Sueste, «D. Luís», e aporta ao Terreiro do Paço por volta das 17.00 horas. É recebida por populares, fotógrafos, jornalistas e por outras gentes que sempre recebem os Reis. Cumprido o cerimonial de chegada, o Rei Dom Carlos, a Rainha Dona Amélia e os seus dois filhos, Dom Luís Filipe e Dom Manuel sobem para uma carruagem descoberta, seguida por uma segunda, onde vão aias, aios, gente importante que sempre segue os Reis, etc.
Quando a carruagem real se aproxima da penúltima arcada do lado Oeste do Terreiro do Paço, ouve-se um tiro no meio do Terreiro, que não tem por alvo a carruagem, mas sim se destina a atrair a atenção da escolta para o lado oposto. Eis que Alfredo da Costa, empregado de loja, salta para o estribo traseiro da carruagem real e, com a pistola Browning nº 349.432, alveja por duas vezes, pelas costas, o Rei, que ainda leva a mão à algibeira do capote, onde tem um revólver com bala na câmara, mas morre quase de imediato. A carruagem vira para a Rua do Arsenal, entre o pânico e a confusão, a Rainha Dona Amélia fustiga a cara do regicida com um ramo de rosas que recebeu à chegada, Dom Luís ergue-se na carruagem e com o seu revólver atinge Alfredo da Costa, que cai do estribo.
É então que um homem de gabão e longa barba sai da sombra da arcada do Ministério do Reino, trata-se de Manuel Buiça, professor de colégio, que fere mortalmente Dom Luís Filipe com a sofisticada carabina Winchester, modelo de 1907, nº 2137 e, ainda, ligeiramente num braço Dom Manuel, quando este ampara o irmão. Um oficial de cavalaria da escolta, o Tenente Figueira, carrega sobre o regicida de sabre em riste, Buiça ainda o fere numa perna, mas tomba morto com uma estocada na cabeça e face. Mais tarde este oficial declara que Alfredo da Costa, ferido no rosto, ainda vivia e gritava que lhe acabassem com o sofrimento, quando um disparo de parte incerta o calou. O cocheiro fustiga os cavalos e a carruagem acoita-se a galope no Ministério da Marinha.
A polícia carrega sobre a multidão e mata um inocente.
Foi instaurado um processo, falava-se pelas ruas em cinco atiradores no Terreiro do Paço, numa conjura que implicava republicanos e monárquicos, o processo chegou a ter centenas e centenas de páginas e, misteriosamente, após a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910, desapareceu.
1 comentário:
Um dos meus preferidos...
Abraço.
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