Não é
necessário dizer, recordar, o que Eusébio da Silva Ferreira fez, o que foi e é,
o que simbolizou e simboliza, agora e para todo o sempre. Dos muitos factos,
das muitas memórias, relativas ao grande desportista e ao grande homem, escolho
o simbolismo da selecção nacional de futebol que participou no Campeonato do
Mundo de 1966, em Inglaterra; uma selecção europeia cujas duas principais
figuras – o seu capitão (Mário Coluna) e o seu melhor jogador – eram ambos
africanos, de cor de pele escura; nenhum país verdadeiramente racista
permitiria isso; os afrikaners nunca o aceitariam – e por isso a África do Sul,
ao contrário de Portugal, esteve banida das competições internacionais (até ao
fim do apartheid); os segregacionistas (herdeiros dos esclavagistas) do Partido
Democrata nos EUA nunca o aceitariam.
Mais do que
através das condolências, das elegias e dos elogios fúnebres, do luto oficial,
das bandeiras a meia haste, da repetição constante das suas melhores jogadas e
dos seus melhores golos, a melhor forma de homenagear o «Pantera Negra» estaria
em os seus sucessores, no Sport Lisboa e Benfica e na «equipa de todos nós»,
fazerem melhor… dentro das quatro linhas, nos estádios, nos relvados, nos
terrenos de jogo. Infelizmente, e nos quarenta anos que se seguiram depois de
ele ter «arrumado as chuteiras», nem o seu clube nem o seu país voltaram a
alcançar, ou sequer chegaram a alcançar, a glória para a qual ele tanto
contribuiu, o sucesso cujos alicerces ele ajudou a colocar. O Benfica, que com
ele foi campeão europeu – aliás, vencedor de um troféu internacional – pela
última vez, ergueu-lhe uma estátua ainda em vida mas é hoje uma instituição degradada, diminuída, sem identidade e mal dirigida. E a selecção nacional
nunca chegou, verdadeiramente, a fazer melhor do que o terceiro lugar que ele e
os seus companheiros «Magriços» conseguiram em Londres (é melhor nem falar de
Lisboa em 2004…), sucedendo-se os «foi quase»…
No seu último
ano de vida, Eusébio assistiu ao (triplo) fracasso do Benfica, a uma «morte na
praia» (nos últimos instantes de jogo) três vezes repetida; e soube que a final
da Liga dos Campeões da época 2013-2014, que se realizará no seu Estádio da
Luz, não contará, mais uma vez, com as (muito «depenadas») «águias»; desportivamente,
a despedida foi muito triste. Resta que, como um derradeiro tributo póstumo,
Cristiano Ronaldo e os seus colegas finalmente se superem e tragam do Brasil o
supremo troféu mundial, quais Pedro Álvares Cabral e seus marinheiros
«reencarnados». Porém, e dados os antecedentes, não há verdadeiros motivos para
se estar optimista, não existem reais razões para se ter esperança.
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