Com 23 anos conhece o grupo de Filosofia Portuguesa. Álvaro Ribeiro, José Marinho, Eudoro de Sousa, Agostinho da Silva são alguns dos nomes com que António Telmo travou conhecimento. «Na Universidade?», perguntámos. «No café! Tínhamos uma “Universidade” no café». Quisemos, então, saber como travou conhecimento com o grupo: «Foi Deus que me encaminhou para lá, através de uma coincidência. O meu irmão, Orlando Vitorino, estava a estudar Ciências e Letras em Arruda-dos-Vinhos, e precisava de um explicador de Filosofia. Na altura, foi indicado ao meu pai o melhor que existia, que era, precisamente, o José Marinho. Foi assim que o conheci. Quando fui para Lisboa estudar, conheci o Álvaro Ribeiro na rua. Foi assim que tomei conhecimento e entrei no grupo de Filosofia Portuguesa».Do grupo «restam vivos Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes, Braz Teixeira, Luís Furtado, António Cândido Franco, Joaquim Domingues...». Carlos Aurélio, Luís Paixão e António Duarte completam o grupo.
Agostinho da Silva, um outro amigo que viria a fazer parte da sua vida, marcou-o definitivamente. A seu convite e de Eudoro de Sousa, viaja para Brasília, onde ficou durante três anos a leccionar Literatura Portuguesa. Uma história um tanto ou quanto insólita que o escritor conta com especial relevo: «Estava em Lisboa, a almoçar com um amigo, quando ele teimou comigo para ir consultar um astrólogo famoso, na época, de nome Hórus. Fui, mas de má vontade. O indivíduo disse-me em Agosto que, no ano seguinte, em Fevereiro, iria para o Brasil. Disse-me o dia e tudo. E eu não acreditei, claro! Pessoalmente, ir para o Brasil era uma ideia que me desagradava... Gostava de estar em Portugal. Lembro-me de ter pedido ao astrólogo que me indicasse outro destino que gostasse mais (risos), mas ele teimou comigo que iria para o Brasil, precisamente naquela data. Disse-me também que dia 1 de Outubro conheceria a minha mulher. E este primeiro prenúncio cumpriu-se. Entretanto, o António Quadros tinha ido ao Brasil fazer umas conferências e transmitiu-me que o Eudoro de Sousa e o Agostinho da Silva me queriam lá. O Hórus tinha-me dito para aceitar todos os convites que me fossem feitos em vida. E quando o Quadros me disse aquilo, escrevi ao Reitor da Universidade de Brasília, que me respondeu que já era professor naquela universidade e para ir o mais depressa possível, pois ia começar o semestre. Estava preparado no dia 20 para embarcar no aeroporto de Lisboa, quando anunciaram que o voo havia sido cancelado devido a um vidro partido no avião, tendo sido adiado para o dia seguinte. Precisamente a 21 de Fevereiro, como o astrólogo tinha anunciado, cheguei ao Brasil».
E não chegou sozinho. A família acompanhou-o, a amizade com Agostinho da Silva cresceu naturalmente, uma época que António Telmo recorda com bastante enlevo.
«Todas as manhãs, o Agostinho vinha ter comigo ao meu gabinete. As minhas aulas eram poucas, passava muito tempo a ler e a estudar. Como o Agostinho da Silva era uma pessoa de muita autoridade naquela universidade, ninguém me censurava por largar o meu posto de trabalho tão frequentemente... Então, andava a passear com ele, falávamos muito... Mesmo quando saí do Brasil, subscrevia-me muito com ele, isto já em Granada».
Porquê Granada e não um regresso a Lisboa? «Fui para Granada só para ocupar o espaço, para tomar posse. Quando fui para Espanha, havia um capitalista conhecido do Agostinho da Silva, que me pagava para ali estar. E, depois, que estava eu lá a fazer? O Agostinho dizia-me: “você está aí... a Espanha está dominada, portanto deixe-se estar.” E estive ali um ano! Passeava, lia, estudava...» Fazemos aqui um pequeno parêntesis. Segundo o nosso anfitrião, Agostinho da Silva tinha um sonho: pôr um português em cada lugar do mundo, marcando assim a nossa cultura em todo o planeta. Os mecenas advinham de uns "capitalistas" que tinham por Agostinho uma admiração espantosa, patrocinando o que Telmo chama de “nacionalismo místico”. E como ele, várias outras pessoas viajaram para o estrangeiro, sem fazer qualquer tipo de relatório. Estavam, pura e simplesmente, estudando, fazendo conferências, leccionando. E depois? «Ao fim de um ano vim-me embora para Portugal, para Sesimbra. Fui director da Biblioteca de lá, e só depois é que voltei para o ensino, para Estremoz... tenho andado por muito lado... Uma casa só não dá», explica.
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1 comentário:
António Telmo, no seu melhor.
Esta entrevista é de Março de 2003. Orlando Vitorino viria a falecer a 14 de Dezembro desse mesmo ano.
DÓ...
RÉ...
MI...
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