Do grupo «restam vivos Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes, Braz Teixeira, Luís Furtado, António Cândido Franco, Joaquim Domingues...». Carlos Aurélio, Luís Paixão e António Duarte completam o grupo.
Agostinho da Silva, um outro amigo que viria a fazer parte da sua vida, marcou-o definitivamente. A seu convite e de Eudoro de Sousa, viaja para Brasília, onde ficou durante três anos a leccionar Literatura Portuguesa. Uma história um tanto ou quanto insólita que o escritor conta com especial relevo: «Estava em Lisboa, a almoçar com um amigo, quando ele teimou comigo para ir consultar um astrólogo famoso, na época, de nome Hórus. Fui, mas de má vontade. O indivíduo disse-me em Agosto que, no ano seguinte, em Fevereiro, iria para o Brasil. Disse-me o dia e tudo. E eu não acreditei, claro! Pessoalmente, ir para o Brasil era uma ideia que me desagradava... Gostava de estar em Portugal. Lembro-me de ter pedido ao astrólogo que me indicasse outro destino que gostasse mais (risos), mas ele teimou comigo que iria para o Brasil, precisamente naquela data. Disse-me também que dia 1 de Outubro conheceria a minha mulher. E este primeiro prenúncio cumpriu-se. Entretanto, o António Quadros tinha ido ao Brasil fazer umas conferências e transmitiu-me que o Eudoro de Sousa e o Agostinho da Silva me queriam lá. O Hórus tinha-me dito para aceitar todos os convites que me fossem feitos em vida. E quando o Quadros me disse aquilo, escrevi ao Reitor da Universidade de Brasília, que me respondeu que já era professor naquela universidade e para ir o mais depressa possível, pois ia começar o semestre. Estava preparado no dia 20 para embarcar no aeroporto de Lisboa, quando anunciaram que o voo havia sido cancelado devido a um vidro partido no avião, tendo sido adiado para o dia seguinte. Precisamente a 21 de Fevereiro, como o astrólogo tinha anunciado, cheguei ao Brasil».
E não chegou sozinho. A família acompanhou-o, a amizade com Agostinho da Silva cresceu naturalmente, uma época que António Telmo recorda com bastante enlevo.
«Todas as manhãs, o Agostinho vinha ter comigo ao meu gabinete. As minhas aulas eram poucas, passava muito tempo a ler e a estudar. Como o Agostinho da Silva era uma pessoa de muita autoridade naquela universidade, ninguém me censurava por largar o meu posto de trabalho tão frequentemente... Então, andava a passear com ele, falávamos muito... Mesmo quando saí do Brasil, subscrevia-me muito com ele, isto já em Granada».
Porquê Granada e não um regresso a Lisboa? «Fui para Granada só para ocupar o espaço, para tomar posse. Quando fui para Espanha, havia um capitalista conhecido do Agostinho da Silva, que me pagava para ali estar. E, depois, que estava eu lá a fazer? O Agostinho dizia-me: “você está aí... a Espanha está dominada, portanto deixe-se estar.” E estive ali um ano! Passeava, lia, estudava...» Fazemos aqui um pequeno parêntesis. Segundo o nosso anfitrião, Agostinho da Silva tinha um sonho: pôr um português em cada lugar do mundo, marcando assim a nossa cultura em todo o planeta. Os mecenas advinham de uns "capitalistas" que tinham por Agostinho uma admiração espantosa, patrocinando o que Telmo chama de “nacionalismo místico”. E como ele, várias outras pessoas viajaram para o estrangeiro, sem fazer qualquer tipo de relatório. Estavam, pura e simplesmente, estudando, fazendo conferências, leccionando. E depois? «Ao fim de um ano vim-me embora para Portugal, para Sesimbra. Fui director da Biblioteca de lá, e só depois é que voltei para o ensino, para Estremoz... tenho andado por muito lado... Uma casa só não dá», explica.
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1 comentário:
António Telmo, no seu melhor.
Esta entrevista é de Março de 2003. Orlando Vitorino viria a falecer a 14 de Dezembro desse mesmo ano.
DÓ...
RÉ...
MI...
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