O Mostrengo, Azeituna, Tuna de Ciências da Universidade do Minho, ao vivo no Centro de Congressos de Aveiro, 2007
Portugal tem... lusófonos! Apesar da sua dimensão, ou por isso mesmo, o Brasil nunca conseguirá envolver na causa lusófona mais que uma pequeníssima percentagem das suas elites – a lusofonia é, e será durante muito tempo, ignorada pelo Povo Brasileiro. Mas é possível, numa década, envolver uma parte expressiva do Povo Português na causa lusófona – esta é a grande vantagem dos povos pequenos sobre os grandes: a sua unidade é maior.
Dos PALOP (e de Timor), nem vale a pena falar no que diz respeito a «sentimento lusófono» na maioria da população: não existe. É certo que «lusofonia» é um termo de recente cunhagem política, ainda equívoco e a forjar o seu próprio trilho – mas os PALOP (Timor ainda mais) têm outro sentimento que substitui aquele: o de se sentirem ligados a Portugal. A separação política foi há menos tempo. Enquanto que no concernente ao Brasil vivemos desde 15 de Novembro de 1889 (data da implantação da República do Café-com-Leite) no romantismo dos «povos irmãos», com pouquíssimas consequências políticas de aproximação, muitas palmadinhas mútuas nas costas, etc, e só muito recentemente, com a descoberta do Portugal-país-da-Europa-Comunitária e o fenómeno migrante brasileiro, medidas políticas, com alguma espessura, foram tomadas.
A realidade é esta: o Povo Brasileiro, o povo humilde (e esse é sempre o Povo) sabe tão pouco da lusofonia quanto de Portugal. Gostam de Portugal, é certo, mas do mesmo modo ideal e sonhador com que qualquer Português humilde gosta de Viriato.
K. N.
18 comentários:
Adam Smith, o fundador da teoria económica do capitalismo, disse que não contava com o amor do padeiro para lhe dar um pão saboroso pela manhã, mas com a sua ambição egoista - a de enriquecer vendendo mais pães que o padeiro da outra esquina.
Poucas vezes repara a 'esquerda' que isto não é 'ideologia' - é descrição científica da realidade; e poucas vezes repara a 'direita' que o que se aplica a padeiros de esquina talvez se não aplique a entidades do tamanho de impérios.
Não quero dizer com isto senão que é difícil antecipar o que pode acontecer - a natural empatia dos portugueses e a igualmente natural ambição das elites políticas e financeiras brasileiras conjugar-se-ão, ou não, de modos imprevisíveis.
Por essas e por outras, tenho as maiores reservas a uma certa impaciência lusófona que não faria mais do que repetir o 'europeísmo' entusiasta de há trinta ou quarenta anos atrás - sem ter depois a frieza norte-europeia para assegurar a construção das coisas concretas...
Falta a Portugal, ainda, um D. Dinis - e quer já sonhar-se um Gama...
Um D. Dinis lavrador, plantador e poeta...
É um problema análogo à aceitação, na prática, do acordo ortográfico pela maioria do povo português. Ainda que a ministra Gabriela seja dotada de charme suficiente para fazer qualquer um aprender japonês em braile. Como vê, o problema maior não reside no tamanho da população.
Um abraço!
Vivo no Brasil.
No início tive talvez essa impressão. Mas ao fim de um tempo, encontrei muita atividade lusofônica da parte, também, de pessoas que talvez não esperasse: pessoas com sobrenomes alemães, italianos, etc. de origem evangélica ou macônica.
Então posso resumir que não concordo com essa ideia.. Algo de muito mais complexco se passa. A falta de tempo me impede de descrever.
O problema do Acordo Ortográfico é de diferente teor, que se prende com o facto dos Portugueses se considerarem «donos da Língua»; essa «mania psicológica» tem sido a raiz da maior parte dos entraves por cá.
Abraço, Guilherme!
Meu caro Paulo, espero que venha a ter tempo, porque tenho o maior interesse em inteirar-me da sua posição.
De qualquer modo, me parece que o que relata se inscreve no âmbito das elites que referi; embora o conceito de «elite», aplicado ao Brasil, careça de esclarecimento, uma vez que a classe média brasileira (se é que pelos padrões portugueses podemos considerar que existe, uma vez que o fosso entre esta e povo é imenso, comparado à nossa) só pode ser considerada elite, se compararmos o seu conhecimento da história do Brasil, por exemplo, com a dos «humilhados e oprimidos» (não resisti à referência).
Mas falando de quem é, de facto, elite no Brasil, podemos considerar que têm uma grande predisposição «lusófona»: são os herdeiros do colonialismo português e continuam a ser colonos sobre o seu próprio Povo - para estes saber de Portugal e gostar de Portugal é luxo e pompa social e cultural, como o era para um patrício Romano valorizar a Grécia e falar o Grego...
Certo, Casimiro, e a verdade é esta (e o sabemos ambos): a lusofonia só estará realizada quando for o ideal quotidiano dos «comedores de batatas»...
Existem várias elites e grupos. Isto demoraria muito tempo para descrever. Existe por exemplo um lobby italiano muito entrusado nas universidades com certeza bem anti-lusofônico. Existem os descendentes de portugueses de segunda (que vieram no sec. XX) leva que são de classe média-baixa e bem lusofônicos. Existe a elite de professores de português que é em boa parte lusofônica (muitos com sobrenomes da europa de norte). Existem aqueles descendentes dos que fugiram de países como alemanha, etc. que por contraposição amam a lusofonia.
Por outro lado, me parece evidente, que uma pessoa comum, com o que aprende nas aulas de história, não terá muita inclinação para ser lusofônico. De fato para se ser um lusofônico elucidado precisa de um certo grau de cultura e daí de alguma forma pertencer a uma elite. No entanto, não vejo relação com a continuidade colonial.
Como disse tive várias surpesas resultantes de diversos preconceitos de "católico" que sou com convicção. A ideia de que o protestantismo é uma arma imperialista anglo-saxônica conta os lusofônicos se me deparou falsa. A realidade se mostra muito mais complexa. As televisões que mais fizeram arrojados elogios a Portugal, etc., eram de origem evangélica ou afins...
Podemos dizer sim que no Brasil há de tudo e de todas as combinações. Esse é o Brasil...
Não falo de religião... mas de quem detém o poder e a riqueza desde a independência do Brasil.
À toda causa, se faz necessário três parâmetros: a clareza da causa, as circunstâncias do alvo - neste caso, os países lusófonos - em certo momento do espaço-tempo, e da conveniência dos possíveis adeptos. Veja, por exemplo, este site, a página oficial do MIL. Aqui, a única informação disponível sobre este movimento refere-se a "um movimento cultural e cívico". Isto é muito pouco, além de vago, para quem jamais ouviu falar do MIL e, até mesmo para aqueles que já o conhecem um pouco mais.
Outro aspecto fundamental a fim de que este movimento prospere, é o apagar da chama da fogueira das vaidades. Quando o MIL ainda residia numa dependência do blog Nova Águia, assisti a uma verdadeira rede de intrigas e duelos dignos daqueles promovidos por Darth Vader e Luke Skywalker, em Guerra Nas Estrelas. A propósito, em tais movimentos, o estrelismo atua como nitroglicerina, implodindo-os.
Suponho que na criação deste site, está implícito o apaziguamento dos ânimos e o saneamento da "casa". Por conseguinte, é hora de centrar o fogo da artilharia na questão: "por que devo aderir ao MIL?". Isto já seria um bom começo, ao menos para deixá-lo na condição de semente. E aguardar. Aguardar pacientemente o tempo propício, a compreensão da sua real necessidade, e exibir para o público-alvo que os seus interesses são os mesmos do MIL. Do contrário, refletirá a imagem de mais uma confraria de intelectuais [sic] para passar o tempo entre doses de Dom Perignon.
Um abraço!
Existe uma boa parte de políticos lusofônicos sim. É preciso ser muito burro para não ver as vantagens disso... No entanto a maioria não o é. Tanto o mercosul como os complexos históricos, etc. destroiem muitas inclinações para este lado.
Do que conheço do Brasil (eu nunca fui ao Brasil) e da sua relação com Portugal, é que o povo em geral é fortemente prejudicado com essas aulas de História que refere o Paulo Pereira. Portugal continua a ser visto como o país que «prejudicou», e ainda hoje é veiculada uma ideia muito incorrecta do país que somos - não sei de deliberadamente. Só uma minoria, dentro dos intelectuais, tem uma visão diferente e aproximada dos ideais de fraternidade que nos regem por cá.
Caro Oliver
Este é o blog do MIL: essencialmente, um espaço de discussão. O nosso site é: www.movimentolusofono.org (lá poderá encontrar todas as informações mais detalhadas que procura). Quanto ao passado, não vale a pena falar disso. Estamos aqui e somos cada vez mais...
Abraço MIL
Acho oportunos alguns dos reparos, Oliver, muito, porém repare que este espaço ainda é recente, e vai evoluir com os contributos de todos nós...
Abraço!
Olá, Renato! Obrigado pela informação, jamais soube deste endereço. Por sinal, fui lá e dei uma olhada superficial, e, de fato, tem as informações as quais reclamava no comentário mais acima. Prometo visitá-lo e conhecer um pouco mais.
Olha aí, Klatuu! Bem que podia colocar um link lá n'O Bar.
Um abraço a todos!
O link referido sempre esteve neste blogue, ao fundo do mesmo. O blogue ainda se encontra em construcção, e alguma coisa ainda está por fazer. De qualquer modo, a Declaração de Princípios e Objectivos, que se encontra linkada no texto de apresentação deste blogue, remete para o site do Movimento Internacional Lusófono.
Abraço MIL.
Não é má ideia Oliver, mas terá que ser decidida pela Redacção d'O Bar do Ossian, e, talvez, a forma de o fazer, discutida com os amigos do MIL.
Abraço!
No editorial de apresentação, não percebi que a "Declaração de Princípios e Objetivos" - escrito em vermelho - era um link. Sou do tempo em que qualquer link da internet era representado pela cor azul. Contudo, derrubar padrões também tem certo sabor.
Um abraço a todos!
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