Muitos dos membros de todos estes movimentos, entre os quais me incluo de quando em vez devido ao meu cepticismo nato na concretização de resultados visíveis a curto ou a médio prazo, acreditam que Portugal e os países lusófonos terão um papel relevante no futuro colectivo do planeta, alguns apontam a já existente CPLP como uma organização que, bem trabalhada, poderá vir a obter o seu relevo internacional nos campos cultural, económico, social e inclusive militar uma vez ultrapassados os traumas existentes entre a antiga potência colonizadora, que foi Portugal, e as antigas colónias, e já é bem a Hora de ultrapassarmos todos esses traumas e construirmos, unidos, uma comunidade de destino comum: a Lusofonia!
Nações vs Pátrias
Pela minha parte tendo a crer que a CPLP poderá não ser suficiente, como o próprio nome indica aceita somente países e não as nações lusófonas que não possuam nem Estado ou país seu, assim de memória consigo realçar Macau, a Galiza, a Goa portuguesa e comunidades isoladas no Bangladesh, outras certamente existirão e, excepcionalmente, já ouvi de diversos açorianos e madeirenses que gostariam que os Açores e a Madeira tivessem uma voz própria na CPLP, podendo os governos regionais colaborar onde o governo nacional não o faz… mas é uma questão delicada esta, já que acaba por insinuar algumas tendências separatistas – se é certo que as afirmações “o Porto é uma nação” ou “o Norte é uma nação” passam sem enervar ninguém, ou passavam dado que se a Norte se mantiver o hábito de hastear bandeiras espanholas a coisa pode mudar, as de “a Madeira é uma nação” ou “os Açores são uma nação” causem de imediato uma qualquer reacção adversa, certamente por se confundir o termo Pátria pelo de Nação, numa Pátria podem coexistir muitas nações! Goa, Macau e Galiza portanto, comunidades lusófonas que não são países, onde se incluem? Poderá a CPLP criar um estatuto especial para estas regiões de modo a participarem na mesma? Estou em crer que sim (volta e meia sou muito crente, dado que é difícil ser céptico 365 dias por ano).
Um Novo Bloco Geopolítico
O mundo avança a um ritmo cada vez mais rápido, a Rússia desperta, o Império americano mantém-se, agressivamente como antes embora com novo timoneiro, o Movimento dos Não Alinhados acaba por se ir alinhando, aos poucos, num dos lados… surge-nos a Lusofonia como via paralela, uma comunidade internacional espalhado pelos continentes europeu, africano, americano e asiático.
Poderá advir daqui um novo bloco de influência internacional? Uma vez mais, creio que sim, mesmo a nível militar já imaginaram um contingente constituído por militares brasileiros, portugueses, timorenses, moçambicanos, angolanos e etc.? Um bloco de países nitidamente desfavorecidos e tidos, a Ocidente, como “terceiro-mundistas”, países que, como um todo, contam com uma riqueza material e cultural tão diversa quanto única, todos diferentes mas com uma língua que os une.
Já prevendo a existência do dito bloco geopolítico lusófono, a Telesur, televisão sul-americana fundada pelo governo da República Bolivariana da Venezuela, subvencionada pelos governos de Cuba, da Argentina e da Bolívia, emite noticiários em língua portuguesa, há já dois anos, para a Guiné Bissau, Angola e Moçambique.
Estruturas Conjuntas
Em Janeiro dois investigadores da Universidade do Minho (Joaquim Carneiro e Vasco Teixeira) sugeriram a criação de uma Agência Espacial Luso-Brasileira, dado que o Brasil, como referi anteriormente nestas páginas, se encontra extremamente avançado no domínio da tecnologia aeroespacial e Portugal é membro da Agência Espacial Europeia.
"Ao nível académico, há muita abertura para que se concretize este projecto estratégico para os dois países. Seria a volta das caravelas com a união Brasil-Portugal em tecnologia", referiu por seu lado Sérgio Mascarenhas, director do Programa Internacional de Estudos e Projectos para a América Latina e coordenador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, ao “Ciência Hoje” (3 de Janeiro).
No rescaldo desta notícia o Movimento Internacional Lusófono emitiu um comunicado apoiando a iniciativa e sugerindo que a mesma incluísse as restantes nações lusófonas, dando origem a uma Agência Espacial Lusófona.
Fundado em 1992, sedeado actualmente no Palácio da Independência, existe já o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e, graças à dinamização da Associação de Cultura Lusófona e do Instituto Camões, a Texto Editora publicou recentemente um “Dicionário Temático da Lusofonia”.
Estaremos prontos para esta comunidade de destino? Uma vez ultrapassadas todas as réstias de complexos de colonizador, por parte dos governantes e dos cidadãos portugueses, e de complexos de colonizados, por parte dos governantes lusófonos, faltará somente vontade política.
Creio que o primeiro sinal está à vista: existem actualmente mais emigrantes portugueses em Angola do que imigrantes angolanos em Portugal, se isto não é sintomático de que algo está a mudar, não sei o que será!
O Diabo, semanário independente
8 de Junho, 2010
1 comentário:
Abraço MIL
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