Ao decidir
promulgar – e, logo, não vetar – a lei que autoriza o «casamento» entre pessoas do mesmo sexo, Aníbal Cavaco Silva mais uma vez confirmou aquilo que é: um medroso calculista. E hipócrita, porque como que esperou que Bento XVI «voltasse as costas» para, apenas três dias depois da visita do Papa a Portugal, «capitular» na «guerra» de valores perante aqueles contra quem o Sumo Pontifície tanto tem avisado. O casamento não é uma questão menor, não é uma «distracção»: é, pelo menos, tão importante quanto a crise económico-financeira; e esta não pode, não deve continuar a servir de justificação, de desculpa para tudo.
Porém, a decisão do presidente tem pelo menos o «mérito» de demonstrar inequivocamente a inferioridade, e mesmo a inutilidade, do «sistema» republicano face ao monárquico. É para não exercer poderes, não utilizar prerrogativas, que se
gastam dezenas de milhões de euros num «inquilino» para Belém? Para isso
um Rei fica mais barato... Eleito por sufrágio directo e universal (e por maioria logo à primeira volta), Cavaco tem uma legitimidade pelo menos idêntica, se não superior, à da Assembleia da República; órgão de soberania unipessoal, o presidente é por isso eleito não só pelo seu programa de candidatura mas também pela sua personalidade, pelas suas ideias e opiniões, pelas suas características e convicções. Muitos, se não mesmo todos, que votaram no algarvio em 2006 fizeram-no também por ele ser contra o «casamento
gay». Agora eles sentem-se, e com razão, desiludidos, e mesmo traídos. Se vetasse, o parlamento reconfirmaria? Que se recusasse a promulgar! Crise institucional? Que dissolvesse o parlamento, demitisse o governo! Não faltariam motivos para o fazer, a começar pelas muitas trafulhices do «menino Zézito».
No entanto, nesta como em outras circunstâncias, a diferença está em «tê-los no sítio» ou não. O Rei Balduíno da Bélgica teve-os, ao abdicar durante um dia em 1990 para não assinar a lei de despenalização do aborto. A sua atitude nenhum efeito concreto teve? Serviu, pelo menos, o que não é pouco, para preservar a sua dignidade, a sua coerência. Pelo contrário,
o boliqueimense preocupa-se mais com a sua reeleição... ou não (um Rei não tem esse problema, pelo que pode decidir sempre de acordo com o superior interesse nacional). Prefere manter os «bons moedeiros» que, do estatuto dos Açores às «escutas», raramente perdem um pretexto para o desvalorizar. O comportamento de Cavaco, que vai já em duas promulgações de leis desnecessárias, «fracturantes» e impopulares – o «acordo ortográfico» é outra que está ao mesmo (baixo) nível – poderia permitir, teoricamente, que outros candidatos presidenciais o aproveitassem, o denunciassem, e, desse modo, aumentassem as suas possibilidades eleitorais. Todavia, não é provável que tal aconteça...
Prova de que este país se transformou – definitivamente? – numa piada de mau gosto é que a decisão do Sr. Silva foi anunciada – deliberadamente? – no «dia internacional contra a homofobia»! E no mesmo dia, aliás, em que o Sr. Sousa declarou em Madrid – em «castelhano técnico», ou «portunhol» - ter encontrado no Sr. Coelho, finalmente,
um «parceiro para dançar o tango»! Ele que vá ao palácio cor-de-rosa e lá encontrará outro... A ILGA e a Opus Gay têm genuínos motivos para se sentirem orgulhosos. Quanto à grande maioria dos portugueses, apercebem-se de que «dançar o tango» não os livra do «discurso da tanga».
(Adenda: Nada melhor para aferir o fanatismo quase demencial dos «g-activistas», para além da sua habitual demagogia e desonestidade intelectual, do que ler as verborreias «vitoriosas» de Fernanda Câncio e de Miguel Vale de Almeida. Acredite-se, eles não vão querer ficar por aqui...)
1 comentário:
O Cavaco, como se viu mais uma vez, não é um Presidente. Mas a Bélgica também não é um país. Como em breve se verá...
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