Rei Kasimir, filho da Europa, tanto tempo passou. No coração de pedra e perda trazes ainda a águia estreita, o sonho que a Polónia é de ser, simplesmente, a Polónia. No nevoeiro tão longe os cavaleiros de Katyn e os estandartes.
Não sei, Kasimir-rei, quem eram os filhos que hoje te morreram. Fica longe a Polónia, não tão longe que o ghetto de Varsóvia não esteja mesmo ao lado da casa onde vivo, mas fica longe a Polónia mesmo nas noites de não dormir, nas noites de insónia e Europa. Não sei quem eram, eram como somos sempre os bons e os maus. O mesmo com os cavaleiros de Katyn, pois não teria havido neles quem mesmo antes do fim já não era um homem mas uma violência? E, neles, quem mesmo antes do fim já não era uma pedra, mas um homem? Mas hoje, Rei, mortos foram ao encontro dos mortos e nessa história as pedras da Polónia e as águias da Polónia e o Requiem polaco de Zbigniew Preisner vieram doirar as águas do Tejo. Sim, já não há Pirinéus que te escondam de mim, que me separem de Varsóvia-a-ilegível. Os guerreiros antigos e os políticos de agora, os judeus e os eslavos e os alemães e os russos, os santos e os usurários e os tecelães de Cracóvia e as raparigas que fizeram dezasseis anos na noite de Alcácer-Quibir: hoje a história e o vento sabem todos os nocturnos de Chopin.
Nos bons e nos maus, a Polónia ia hoje ao encontro da Polónia. Sim, não há História que não seja história de morte, história do fim. Mas às vezes a História e a Morte unem-se na breve dança que é símbolo e mistério e águia gravada na pedra e no coração. E a Finisterra é também a pátria de todos os mortos que ainda sabem dançar.
1 comentário:
É difícil conceber uma história mais trágica do que esta...
Belo texto!
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