Fonte: Jornal de Negócios
1. Não é preciso ser grande politólogo para ver que estes resultados estão bastante inflacionados. Desde logo, os de Cavaco Silva. Se o seu “prestígio” ainda é suficiente para impedir que outro candidato do PSD e do CDS se apresente, mesmo no seio destes partidos a sua candidatura não gera o menor entusiasmo. O que não espanta – Cavaco cometeu inúmeras “trapalhadas” (escutas, comunicado sobre o estatuto dos Açores, etc.) e, nos momentos essenciais, esteve com o Governo (apesar de toda a espuma). Terá garantido o “voto católico” (dada a sua posição na questão do aborto, casamentos gay, etc.), mas esse é, também ele, um voto inflacionado…
2. Quanto a Alegre, o “Soares” destas eleições, será fatalmente o candidato oficial do PS – isso dar-lhe-á, por si só, um número de votos superior às últimas eleições mas, simultaneamente, gerar-lhe-á muito mais anti-corpos. Mesmo no PS, de resto, este será um apoio calculista (dados os danos que traria um não apoio). Sócrates, como é bom de ver, prefere dar-se, apesar de tudo, com Cavaco…
3. Quanto a Fernando Nobre, 13,8% é um excelente ponto de partida. Tanto mais porque, ao contrário dos outros dois candidatos, Fernando Nobre não está confinado a um alinhamento partidário. Com o seu discurso “nem de esquerda, nem de direita” tem ainda muitos votos por conquistar em ambos os lados do espectro partidário. À direita – em todos aqueles (e são muitos) que não se revêem em Cavaco. À esquerda – em todos aqueles (e são alguns) que preferem um discurso menos sectário. Aliás, ao contrário das análises mais comuns que se vão lendo por aí, até acho que o Fernando Nobre tem tanta margem de progressão à direita como à esquerda: a esquerda é, por defeito ou feitio, bem mais “clubística” (veja-se, por exemplo, o que acontece nas eleições autárquicas, onde é frequente ver personalidades mais de direita a apoiar candidatos de esquerda; o contrário nunca ou quase nunca acontece). O discurso “nem de esquerda, nem de direita” provocará a muita da esquerda alguma desconfiança (a suficiente, por exemplo, para o Bloco optar decididamente, sem estados de alma, pelo Alegre, com o mero argumento de que “ele é, apesar de todos os defeitos, um dos nossos”). Para um bom esquerdista, de resto, quem se diz “nem de esquerda, nem de direita” só pode ser…
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