MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia
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Agostinho da Silvasábado, 13 de fevereiro de 2010
Faria hoje 104 anos...
AGOSTINHO DA SILVA
Eu, Agostinho, a quem dizem sábio,
Devagar ao fim da minha vida chegado,
De conluio entre o cadáver e o menino,
Por herança vos deixo a pomba e a espada.
Cada um somos o monge e o cavaleiro –
Os mansos fazem a guerra; o fogo, a paz.
O erro acerta, a verdade é ilusão.
Com pátios e palmares, ilhas e terraços
Abram o meu sudário toalha em mesa posta.
Esperem-me na última alba, por vir,
Toda luz estendida de filigrana de asas,
Azul pura como no mundo dos azulejos.
Vosso, servidor, nunca servo, livre.
In NOVA ÁGUIA, nº 3, 1º Semestre de 2009, p. 100.
5 comentários:
Os mortos sempre contaram com os possessos... Fenómeno ancestral, muito anterior à invenção do telemóvel... :)
Abraço
Sinto orgulho em fazer anos no mesmo dia!
Abraço.
Vê-se logo que és boa pessoa...
Abraço MIL
Uma inconfidência: de como surgiu este poema.
Estava a almoçar num restaurantezito ao fim das Escadinhas do Duque (no início, para quem venha de baixo), no primeiro andar (que é rés-do-chão para quem venha do Quartel do Carmo, LOL, Lisboa faria as delícias do Escher); a almoçar, dizia, em frente a um magnífico painel de azulejos de tema rural... e o verso «Azul pura como no mundo dos azulejos» surgiu-me inteiro como uma voz por dentro do miolo; azul pura, o quê?, pensei que talvez uma outra vida, transcendente, paradisíaca, e não sei porquê mas pareceu-me a voz do Agostinho; aquele tom de «menino, vou-te contar um segredo», ou algo do género, e logo de seguida a voz desenrolou-se no poema, começou «Eu, Agostinho, a quem dizem sábio»... Depois foi só pegar na caneta e dar melhor uso ao guardanapo.
Simples, inteiro, um poema. Por vezes há quem me pergunte onde vou buscar a inspiração, com ar de burro que olha para um palácio... Na verdade não custa nada, não faço nenhum esforço, dão-me tudo, e à borla... :)
O Agostinho não era um homem comum - devíamos meditar nisto mais vezes.
Parabéns, ao Ruela, e ao Agostinho (quem sabe é ele que tem mexido uns cordelinhos celestiais para que nos viessemos a embricar todos cá por baixo - é homem para isso...).
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