1. O MIL é um movimento cívico, cultural, filosófico e político que se reivindica a) do legado de Agostinho da Silva e Gilberto Freyre (os nossos contemporâneos que mais desbravaram o caminho do que idealmente a lusofonia poderá ser), e b) também do legado da Renascença Portuguesa, onde se destacam, entre muitos outros, os nomes de Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, António Sérgio e Fernando Pessoa (homens que tentaram indicar rumos a Portugal, aos Portugueses e aos políticos numa altura de crise do regime republicano).
1. 1. Esta dupla filiação espiritual do MIL marca a abrangência do Movimento Internacional Lusófono: por um lado, fazer da lusofonia uma realidade civilizacional para além da mera política e das divisões nacionais; por outro, erguer Portugal a exemplo modelar de justiça social, de democracia, de liberdade e de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos. Este ideário, para que se cumpra no espaço lusófono, requer alterações políticas cruciais, porque somente realizaremos a lusofonia: se cada um dos países lusófonos concretizar a nível interno as sementes deste ideal de civilização comum.
2. O MIL é um movimento apartidário, que tem tentado convocar esforços e alertar consciências para uma nova forma de entender a política e a lusofonia. Ao ser apartidário, conserva o MIL a sua equidistância em relação a ideologias e grupos de interesse, e é essa equidistância que tem constituído a grande abertura que lhe vem sendo reconhecida, e que tem permitido a conjugação no seu seio de pessoas das mais diversas convicções ideológicas e religiosas; no MIL estão pessoas de Esquerda e de Direita, de diferentes religiosidades e sem nenhuma (ateus, agnósticos), e ainda com diferentes concepções de sociedade e regime (republicanos, monárquicos, anarquistas); enfim, mundos... na constelação de boas intenções, reflexão e iniciativas que o MIL já é.
2. 1. Ao ser o MIL apartidário não significa que é apolítico ou contra os partidos – o livre exercício político é um direito da cidadania democrática e os partidos o garante da própria democracia. Não obstante, a vida política e a cidadania, no sentido essencial e filosófico profundo, não se esgotam nos partidos e na historicamente precária e socialmente fracturante e parcial visão das ideologias... e no início deste novo século, em que estamos, imensos são já os sinais do estertor das ideologias que herdámos do século XX; a deriva política de partidos que se afastam do seu próprio património ideológico; práticas governativas corruptas e pactuantes com um sistema económico global responsável pelas assimetrias na distribuição da riqueza, numa promiscuidade intolerável entre políticos (eleitos pelos povos) e os agentes económicos (que nenhum povo elege e que perseguem interesses egoístas e individuais, quase nunca preocupados com o bem estar colectivo e sem outra pátria, que não o dinheiro); a redução da democracia a partidocracia, transformando eleições livres numa mera caça ao voto por parte de quadrilhas políticas, que tudo prometem com débeis intenções de cumprir, fazendo do voto democrático uma espécie de mal necessário que permite o acesso a cargos públicos. Tudo isto é uma perversão da própria democracia, e uma perda de legitimidade da política partidária, que alastra pela maioria dos regimes democráticos, com o crescimento da abstenção a números preocupantes e a que os políticos têm feito vistas grossas.
3. O MIL tem um ideal de civilização lusófona, de sociedade, de civismo e de prática política que não aceita pactuar com o actual estado de baixa política, de injustiça social e de incumprimento da Carta dos Direitos Humanos, seja em Portugal, seja em qualquer das nações lusófonas... e bem sabemos da gravidade de muito que se passa no espaço lusófono e de como está por cumprir esse ideal e da luta que temos, e teremos, pela frente.
3. 1. É neste âmbito que, no meu entender, o apoio do MIL à Candidatura do cidadão Fernando Nobre à Presidência da República Portuguesa, que se apresentou aos Portugueses sem requerer o apoio expresso de nenhuma força partidária e com claro ideário lusófono, realiza os valores espirituais, civilizacionais e de justiça que são a alma do Movimento Internacional Lusófono. A personalidade humanista do candidato e o seu valor dispensam elogios, porém o modo superiormente ético de abraçar o acto político de se propor ao mais elevado cargo da nação como um simples cidadão – são um exemplo de política e cidadania, cada vez mais raro, que pode anunciar uma nova época para Portugal, motivadora de todos os países lusófonos, por onde a democracia também anda enferma.
Este apoio em nada partidariza o MIL, ou o encerra adentro de fronteiras – muito pelo contrário, é um acto de política maior, e de humanismo universalista, que só nos pode inspirar a todos.
Um abraço a todos os lusófonos.
Queluz, 21 de Fevereiro de 2010,
Jesus Carlos
13 comentários:
Nada a acrescentar. Excelente texto!
Abraço MIL
Acredito que todo o que saiba o que o MIL de facto é... concordará.
Abraço, Renato.
Como sou Monarquico...não compreendo a candidatura de um Monarquico a Presidente da Républica, acham que isto tem alguma lógica?!?
Mai um anjo que caiu...que Pena Dr. Fernando Nobre.
Serias um forte candidato!
Abraço.
Pagava para o ter escrito. Excelente!
Forte abraço.
Desculpa lá, mas linkei no meu face.
Outro abraço.
Caro Orlando Góis... terá a lógica que nós, monárquicos, lhe soubermos dar. Enquanto monárquico, eu não encontro nenhuma contradição. O regime em que estamos é republicano. Ora, uma das coisas que mais me faz ser monárquico é a figura supra-partidária do chefe de estado...
Um grande abraço, Ruela e Pires.
O texto diz exactamente o que eu gostaria de ter dito ao MIL no momento em que tomei conhecimento do seu apoio à candidatura do Doutor Fernando Nobre à Presidência da República. Obrigada Jesus Carlos.
Como já afirmei, mantenho a minha disponibilidade para colaborar com o MIL nesta campanha.
Abraço MIL a todos os MILitantes,
particularmente à Comissão Executiva
pela forma como conduz a nossa reflexão.
Um excelente texto, e um convite a uma grande reflexão, não apenas para o MIL mas para todos - concorde-se ou não com os méritos do candidato e a oportunidade da candidatura (que são diferentes coisas).
A saltaricada permanente do "apartidário" para o "apolítico" chega-nos de curiosíssimos e às vezes subtilíssimos quadrantes... ou não.
Abraço
Casimiro
Tomei conhecimento do texto! Um abraço do Pedro Marçal
A lusofonia é um conjunto dos países em que o português é a língua oficial ou dominante.
A reflexão, principalmente, acerca do que o MIL é... E clarificar que o MIL não é uma mera associação cultural, em que a lusofonia seria uma mera troca-baldroca entre culturas; aquela «lusofonia» dos actores de telenovela brasileiros, que, assim que aterram na Portela, dizem logo que gostam muito do Fernando Pessoa, e até lhes sai um verso... Nem aquela outra «lusofonia», tão na moda, de novos contrabandistas de culturas, alimentados a «bacalhau com cachupa»...
Abraço, Casimiro e Paula Viotti.
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