Fénix, Ruela, 2009
[...] A minha imaginação havia já começado a diminuir, começava já a aproximar-se do que viria a ser a imaginação dos homens. Criei um pássaro e os outros foram apenas variantes. Utilizei o primeiro modelo e fi-lo de todos os tamanhos, desde a avestruz, tão grande que pode ser cavalgada, até ao colibri, que, de minúsculo, se confunde com um insecto. A seguir, fi-lo de todas as cores e com todas as combinações de cores. Depois, em vez de criar, pus-me a exagerar determinadas parcelas do que já havia feito. E cheguei, assim, até a caricatura da minha própria obra. A algumas das aves limitei-me a esticar-lhes as pernas, as caudas ou os bicos, de tal forma que estes ficaram grotescos e muito maiores do que o corpo. As outras dei-lhes uma amplitude de asas de que não careciam ou deixei-lhes apenas uns simples cotos. Variei-lhes, também, o fulgor dos olhos e a composição dos seus gorjeios, deixando umas eternamente mudas e obrigando outras a cantarem até na hora da morte. Mas tudo isso eram simples pormenores, porque, no fundo, a ave, a ideia fundamental, eram a mesma. Eu parecia um desses artistas que realizou, certo dia, uma descoberta feliz e passou, depois, o resto da vida a lutar desesperadamente para dar a ilusão de que não se repetia, quando, em realidade, não fazia outra coisa senão plagiar-se a si próprio… [...]
Ferreira de Castro in O Senhor dos Navegantes, Colecção 98 Mares – Expo'98, Lisboa, 1998
1 comentário:
Por cá optámos pela Águia, mas a Fénix foi o símbolo da Renaixença Catalana...
Abraço!
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