E a ela, mais do que uma luz que brilhasse na noite atlântica, os pescadores enviavam esperanças e desesperos quando em graves riscos se viam nas cavas e lombas do mar. Porque ficava alta, ao fim de íngreme, pedregoso carreiro, raras gentes lá iam, salvo em dia de festa, com morteiros e filarmónica, uma vez cada ano. Fascinado pela sua solidão e largueza panorâmica, eu encontrara, porém, maneira de a atingir, naquelas tardes de Estio, sem me fatigar. Para subir às montanhas, um livro sob o braço, punha-me a caminho.
Logo que as pernas se cansavam, sentava-me e lia, enquanto os melros iam cantando nas velhas árvores da encosta. Sem o livro, pequeno seria o meu repouso e continuaria a ascensão antes de refeito, que a tendência de quem anda, leve rodas, leve hélices ou apenas, modestamente, os pés com que nasceu, é, já se sabe, chegar com brevidade ao ponto de destino – mesmo que nada tenha lá que fazer. Com um livro, é outra coisa. Sendo bom, prende-nos mais tempo do que os braços de uma mulher e só desejamos interromper a sua leitura no final de um capítulo ou em parágrafo onde possamos retomá-la facilmente. […]
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