Camilo Pessanha (Coimbra, 7 de
Setembro de 1867 - Macau, 1 de Março de 1926) e Venceslau de Morais (Lisboa, 30
de Maio de 1854 - Tokushima, 1 de Julho de 1929) foram dois exemplos
paradigmáticos da historicamente reconhecida capacidade portuguesa de
miscigenação: no caso de ambos, não só pessoal como cultural.
Com efeito, tanto um como
outro, ainda que talvez mais o segundo do que o primeiro, não foram apenas poetas
portugueses no Oriente – foram-se tornando, cada vez mais, poetas portugueses
do Oriente: de Macau, no caso de Camilo Pessanha, do Japão, no caso de Venceslau
de Morais.
Tal como muitos portugueses em
África se tornaram verdadeiramente africanos, tal como muitos portugueses no
Brasil se tornaram realmente brasileiros – ou “portugueses à solta”, como diria
Manuel Bandeira –, o mesmo aconteceu no Oriente: em Macau, em toda a China, no
Japão, em Timor-Leste e em muitos outros países. Camilo Pessanha e Venceslau de
Morais foram apenas mais dois exemplos disso – ainda que, pela qualidade
literária da sua obra, dois exemplos paradigmáticos disso: dessa capacidade
portuguesa de miscigenação.
Com efeito, ao contrário de
outros povos europeus que, no Oriente, em África e nas Américas, sempre
mantiveram a maior distância com as populações locais – seja no plano mais
cultural, seja no plano mais pessoal (e, inclusivamente, sexual) –, os
portugueses que século após século deambularam pelo mundo primaram, em geral, por
essa diferença. Desde logo porque muitos deles eram comerciantes – precisando,
assim, dessa proximidade.
Sabemos que, em muitos casos,
essa proximidade estava pré-condicionada por relações hierárquicas e também por
políticas de Estados – outros homens europeus eram incitados a levarem consigo
as respectivas mulheres, para haver menos “risco”. Mas nem todas as relações
obedeceram a esse padrão. Também aqui o exemplo de Camilo Pessanha e,
sobretudo, de Venceslau de Morais foi eloquente. Venceslau de Morais amou, de
igual para igual, mulheres japonesas e, nelas, todo o Japão, todo o Oriente.
Como o seu Outro. Como o nosso Outro.
Daí também, enfim, a sua
paixão pela poesia japonesa – como escreveu a esse respeito: “Para estudiosos
portugueses, todavia, o tanka e o hokku não devem merecer tanta estranheza
(…). Dá-se também a circunstância de serem certos processos de construção, de
uso vulgar na poesia japonesa, como o jogo de palavras, o calembur, ou então a reunião de dois períodos, independentes um do
outro no sentido, também vulgares na quadra portuguesa. Em minha opinião, a
nossa quadra, quando habilmente manejada, seria susceptível de dar excelentes
traduções dos poemas japoneses”.
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