Numa época em
que, cada vez mais, nos centramos muitas vezes no mais circunstancial – no que,
passada uma semana, ou nem sequer isso, se torna absolutamente irrelevante –, é
um excelso exercício higiénico determo-nos no que mais resiste à voragem do
tempo – falamos, neste caso, da Obra filosófico-hermenêutica de António Braz
Teixeira, que, contrariando essa voragem, tem sido, nestes últimos anos, cada
vez mais profícuo.
Licenciado em
Direito na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1958 – a mesma
Universidade que, em 2006, lhe atribuiu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia –, António Braz Teixeira teve um
percurso profissional particularmente rico – apenas para referir alguns cargos
que desempenhou: Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
(1980-81); Secretário de Estado da Cultura (1981); Director do Teatro Nacional
D. Maria II (1982-85); Vice-Presidente da RTP (1985-92); Presidente da Imprensa
Nacional-Casa da Moeda (1992-2008).
Após a sua
retirada de cargos públicos, António Braz Teixeira não se quedou, porém, no
descanso a que teria mais do que direito. Para além de ter continuado a ser
Professor convidado em várias Universidades e a desempenhar outros cargos – em
particular, no Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, que fundou em 1992, e em
que é, desde 2016, Presidente da Direcção –, António Braz Teixeira não se tem
cansado, nestes últimos anos, de ler e de investigar. E. sobretudo, de
escrever.
Só neste último
ano publicou mais três livros (com a chancela do MIL: Movimento Internacional
Lusófono): A Vida Imaginada: Textos sobre
Teatro e Literatura (2020); Interrogação
e Discurso: estudos sobre filosofia luso-brasileira e ibérica (2021); A
saudade na poesia lusófona africana e outros estudos sobre a saudade (2021).
Três livros que atestam bem o que nós próprios, num volume em sua Homenagem (António Braz Teixeira: Obra e Pensamento,
Universidade do Porto, 2018), já havíamos escrito: “Nas mais diversas áreas da
cultura – da filosofia à poesia, do romance ao cinema, do teatro à música, da
pintura à arquitectura –, António Braz Teixeira parece andar sempre à procura
de ‘coisas novas’”.
Não que a sua
formação jurídica não se faça ainda sentir – sobretudo, no seu estilo de
escrita, sóbrio e sólido: “no osso”. Simplesmente, essa formação de base nunca
impediu António Braz Teixeira de alargar, cada vez mais, as suas áreas de
interesse. Desde logo, à literatura, como estes seus três mais recentes livros
amplamente comprovam. Só no primeiro – A
Vida Imaginada –, revisita todos estes autores: Valle-Inclan, Almada
Negreiros, Alfredo Cortez, José Régio, Miguel Torga, Luiz-Francisco Rebello,
Agustina Bessa-Luís, Jaime Salazar Sampaio, Augusto Sobral, Norberto Ávila,
Ariano Suassuna, Sartre, Camilo Castelo Branco, Saul Dias, Casais Monteiro,
Mário Cláudio, Rui Knopfli, José Augusto Seabra e João Bigote Chorão.
Já no segundo – Interrogação e Discurso: estudos sobre
filosofia luso-brasileira e ibérica –, após revisitar, na esteira de muitos
outros estudos, também eles oportunamente coligidos em outros livros, alguns
dos nomes maiores da tradição filosófica portuguesa – nomeadamente, D. Duarte,
D. Francisco Manuel de Melo, Joaquim Maria da Silva, Antero de Quental, Guerra
Junqueiro, Ferreira Deusdado, Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoaes, António
Sérgio, Mário Saa, Amorim de Carvalho, Miranda Barbosa, Abranches de Soveral,
Gustavo de Fraga, Joel Serrão, Orlando Vitorino, António José de Brito, Ângelo
Alves e Sottomayor Cardia –, António Braz Teixeira faz uma incursão para além
da nossa fronteira, dialogando com outros autores ibéricos – a saber: Vicente
Viqueira, Vicente Risco, José Gaos, Eugénio d’Ors, Joaquim Xirau e J. Ferrater
Mora.
Que nos seja
aqui permitido destacar, porém, o seu mais recente livro: A saudade na
poesia lusófona africana e outros estudos sobre a saudade. Não apenas por retomar e aprofundar outros
estudos seus sobre a temática da saudade – a partir, neste caso, de
Teixeira de Pascoaes, da geração
“Nós” e, em última instância, da
filosofia espanhola contemporânea. Mas sobretudo por, de forma absolutamente
inovadora, nos falar da expressão
e sentido da saudade nas poesias angolana,
moçambicana, cabo-verdiana
e santomense. No Editorial do número anterior da Revista NOVA ÁGUIA, indicava-se
António Braz Teixeira como “o maior hermeneuta vivo do nosso universo
filosófico e cultural, não só português mas, mais amplamente, lusófono”. À luz
de toda a sua Obra, nada de mais justo.
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