Sem surpresa, ficámos a saber
(cf. Público, 10.09.2019) que o
outrora anunciado “Museu das Descobertas” não terá verbas para ser
concretizado: “os projectos ligados aos Descobrimentos ficaram praticamente sem
as verbas que lhes estavam destinadas” (sic). Depois de todo o ruído que se
gerou em torno desse Museu, em que avultaram, na opinião publicada, as vozes
contra, esta era, com efeito, uma daquelas notícias que já estava escrita “nas
estrelas”.
Se há tema em que há um (quase)
infinito desfasamento entre a opinião publicada e a opinião pública, este é,
decerto, um dos maiores. Se houvesse uma qualquer forma de consulta pública efectiva
sobre a questão, não temos a menor dúvida de que isso se tornaria evidente aos
olhos de todos.
Entretanto, a corrente que
promove essa visão complexada sobre a nossa História pode festejar: mais
depressa se criará um Museu da Escravatura do que um qualquer Museu das
Descobertas. Como se, realmente, a questão da Escravatura fosse o alfa e o
ómega de todo o processo da expansão marítima portuguesa. Como se, de facto, a
Escravatura tivesse sido uma invenção dos portugueses. Nesta questão, como se
sabe, os factos nada importam – bastam (e sobram) os preconceitos.
Parabéns, pois, às correntes
mais radicais da “Gerigonça”, que, pelo menos neste caso, conseguiram por
inteiro sobrepor-se à visão à partida mais moderada do Partido Socialista (que
entretanto veio desmentir a notícia). E que ninguém, do outro lado do espectro político,
ouse sequer balbuciar algum protesto. Quando estiveram no Governo, também nada
fizeram para concretizar este projecto. Estão bem uns para os outros. Seja por
convicção ou por mero oportunismo, para a cultura (que mais importa) nunca há
verbas suficientes.
Dir-se-á que esta é uma mera
questão simbólica e que o mais relevante para as pessoas em geral não passa, de
todo, por aqui – como se antecipa pela projecção dos resultados das próximas
Eleições Legislativas. Longe de nós desprezar as questões económicas – decerto,
para as pessoas em geral o mais relevante é mesmo, compreensivelmente, o
salário, a pensão, o subsídio, etc. Mas um país, para mais um país como Portugal,
não pode ser gerido como uma mera empresa. As questões simbólicas e
identitárias não podem ser por inteiro irrelevantes. Mesmo com as “contas (alegadamente)
certas”, um país que não honra o seu passado não é um país digno.
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