Para os Amigos Jorge Rangel e Garcia
Leandro
Macau é um exemplo paradigmático
de como a cultura prevalece sempre sobre a geografia, por mais que aquela
dependa também desta. Geograficamente território chinês, Macau é de facto “outra
coisa”, por muito que, nas ruas, quase nunca se ouça falar a nossa língua.
A China, porém, tem reforçado
a sua aposta no ensino da língua portuguesa. Não obstante as razões – no
essencial, para promover as relações comerciais com os países lusófonos –, essa
é uma garantia de que há uma memória histórica naquelas paragens que
permanecerá, apesar de toda a descaracterização urbanística resultante da
profusão de casinos, cada vez mais colossais.
Também por essa via, Macau
será sempre “outra coisa”, um enclave, no espaço chinês. A China, de resto, tem
demonstrado ter uma sabedoria tipicamente conservadora, no melhor sentido do
termo, que se pode verbalizar no seguinte princípio: “se funciona bem, não
queiras mudar”.
A esse respeito, mais uma
estória para a história (ainda por fazer) da nossa descolonização “exemplar”:
logo a seguir ao 25 de Abril, houve quem em Portugal procurasse contactar as
autoridades chinesas com o intuito de entregar de imediato o território; a
China, porém, que nunca se sentiu colonizada por Portugal, recusou tal
propósito; a transição política far-se-ia, mas sem precipitações nem passos em
falso, como veio depois a acontecer, por mérito do exemplar trabalho dos vários
Governadores portugueses, honra lhes seja feita.
O que em Macau não passou de
um episódio cómico, ali bem perto, em Timor-Leste, acabou, como todos sabemos,
em tragédia. A esse respeito: no Congresso* em que, no final de Março,
participámos, e que congregou, de forma (quase) inédita, as principais
entidades universitárias sediadas em Macau (Universidade de Macau, Universidade
de São José e Instituto Politécnico de Macau, a que se juntou ainda o Instituto
Internacional de Macau), houve uma comunicação que nos fez reflectir de novo na
questão da geografia.
No essencial, a comunicação em
causa deu conta dos resultados de um inquérito realizado aos estudantes de
língua portuguesa em Macau, a respeito do seu (re)conhecimento dos países de
língua portuguesa. Pois bem: qual era o país, nesse inquérito, que era menos
(re)conhecido como um país de língua portuguesa? Timor-Leste, precisamente.
Razões para tal, há decerto muitas. Desde logo, o menor impacto noticioso que o
processo timorense teve em Macau. Mas, ainda assim, não deixa de ser
surpreendente. O espaço lusófono, com efeito, na sua dispersão geográfica,
parece por vezes um labirinto sem fim ou saída. Sendo que, nele, Macau será
sempre um lugar especial. Macau será sempre Macau.
Renato
Epifânio
Presidente
do MIL: Movimento Internacional Lusófono
www.movimentolusofono.org
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