Olhando para os últimos acontecimentos, que
estão a desenvolver-se no plano politico internacional, não nos parece tão
evidente que a cacarejada decadência ocidental esteja a produzirem-se em estes
precisos momentos. Vemos que Ocidente
toma a iniciativa em todos os campos, mesmo no econômico (a pesar da queda de
2008) e, também no comercial, onde depois duma década por trás da China está de
novo a ganhar espaço, com a pressão continua para assinatura de tratados de
livre comercio – em todas as áreas geográficas do planeta. Precisamente um
tratado deste tipo vai atar definitivamente a Europa ao poder anglo-saxão –
impondo no velho continente o modelo econômico predominante nas ilhas britânicas
e os EUA; em detrimento do já falecido estado de bem-estar. As cúpulas
europeias levam anos sendo ocupadas por pessoalidades – de diferentes partidos
– todas elas cumplices da instauração do modelo neoliberal, aplicado lentamente
desde finais dos anos oitenta.
Anders Fogh Rasmussen é um bom exemplo disto. O
dinamarquês – ex-secretário geral da NATO – tem escrito livros tão sugestivos
como: “Do Estado social ao Estado
mínimo”, “Amor pelo trabalho e bem-estar: uma mistura impossível?” Textos
onde defende com veemência a desregulação, a privatização e diminuição do
tamanho do estado.
No nível estratégico a capacidade do Império
Ocidental de dividir e enfraquecer possíveis competidores, assim como sua
flexibilidade para adaptar-se e antecipar-se a novos cenários e novas situações, faz quase impossível
argumentar que, este, está em declínio ou perdendo força sobre o térreo.
Historicamente o poder anglo-saxão foi capaz de
derrubar ao poderoso Império Espanhol, enfraquecer e domar a poderosa França
napoleônica, derrotar ao temível poder alemão do Kaiser e Hitler... e agora
parece ser a vez da Rússia – algo que ainda está por ver se, nos próximos anos,
concretiza...
Trás o desastre do Afeganistão, o Império
Ocidental foi capaz de domar e dominar de novo o Meio Oriente – uma região
imprescindível, por ser o núcleo da produção energética e o nexo das rotas não
só de transporte da energia, senão das rotas terrestres que conduz aos grandes
mercados emergentes asiáticos, da China – Índia, e a sempre frágil estabilidade
do Paquistão. Uma das habilidades, pois
do domínio anglo-saxão tem a ver com isto: sua capacidade de remover no campo
estratégico – mediante o uso adequado da inteligência militar, em beneficio
próprio, muitas das derrotas sofridas no campo de batalha.
A grande
aliança forjada com a Fraternidade Muçulmana permitiu laços políticos ao
Império Ocidental, por todo oriente próximo: a primavera árabe foi alvo quente
da realização desse plano. Últimos resíduos da guerra fria como o Egito de
Mubarak, a Líbia de Ghadafi (porta de entrada a África Central) ou Tunísia, foram
entregues as mãos da Fraternidade – Turquia já tinha sido apanhada nas garras
da Irmandade, depois de conseguir debilitar a resistência militar e civil –
troncado, aos poucos a laicidade implantada pelo pai da pátria, Mustafa Kemal Ataturk,
a princípios do século passado, pelo “islamismo moderado” de Recep Tayyip
Erdogan. Todo este plano perfeito topou de focinhos contra a parede Síria –
onde a Rússia, o Irão e Hezbollah se implicaram a consciência.
O Qatar tem sido o grande padrinho desta posta
em cena. A Arábia Saudita não deve ter gostado ficar fora da primeira linha – e
quebrando a unidade de ação jihadista na Síria, tem formatado o campo batalha
num novo cenário muito mais perigoso – onde o Exercito Islâmico,– tomou a
determinação de quebrar com a organização base – e esticar suas ações
primeiramente a Síria, para depois sonhar com a materialização dum califado,
que unifique a nação árabe sunita – em torno do seu líder espiritual: o califa
Ibrahim. Na atualidade ainda não sabemos
se este delírio esconde algum planejamento oculto – ou simplesmente o EI,
também decidiu morder a mão dos seus financiadores e tentar uma louca aventura,
fora de toda dependência.
A pesar das dificuldades sobre o térreo, o Império
Ocidental ainda pode encabeçar uma nova coligação internacional, que a através
de contínuos bombardeamentos e mesmo uma possível intervenção terrestre, pode
ter a capacidade de reduzir o EI, ao território iraquiano previamente acordado,
sem a necessidade de chegar a nenhum tipo de acordo incomodo com o Irão, pelo
momento. Sem renunciar na longa a seguir criando desequilíbrios profundos perto
ou mesmo dentro das fronteiras dos seus mais iminentes rivais: China, Índia e Rússia.
Se a isto engadimos a ultima resolução da NATO, que na pratica vai cercar
Rússia de tropas de intervenção rápida, podemos chegar à conclusão não
precipitada de que o Ocidente leva a iniciativa – e de momento a Rússia joga a
defender-se e a China a relentar o acosso. O petróleo o gás do meio oriente
segue – direta ou indiretamente – baixo controlo ocidental.
Também não podemos duvidar que o Império
Ocidental mantem a superioridade, tanto da inovação a nível cientifico
tecnológico, quanto cultural. Dentro do seu seio se desenvolvem os centros
Acadêmicos e Universitários de mais prestigio a nível internacional. Além
disso, ele marca os paradigmas que vigoram em estes campos a nível planetário.
Possui a sua vez os maiores centros de produção e o controlo da distribuição
mundial de produtos culturais e desportivos...
A decadência vamos então tentar procura-la na
situação econômica, que partir da crise de 2007 e o estourado da bolha de 2008,
quebrou para sempre a supremacia financeira ocidental.
O modelo econômico de domínio Ocidental – está
agora baseado no controlo e vassalagem através da divida perpetua – que emanando
desde os centros financeiros do norte – Londres e Walt Street – tem irrigado
todas as economias, não emancipas, ao sul (tanto num hemisfério como em outro).
Na realidade esta engenhoca consiste na absorção do patrimônio e riqueza do
pelo norte de todos os recursos e patrimônio a nível global. No que atinge a
população, o sistema é extremadamente injusto: submete a maior parte da
população ao empobrecimento, paro e escravidão encoberta pela ilusão de votar
“nossos representantes” cada certo período de anos.
Na atualidade tanto as politicas de ampliação
de gasto publico como as de austeridade – estas ultimas a serem aplicadas na
Europa – visam favorecer os interesses dos grandes inversores e o cobro dos
substanciosos juros que a divida permanente gera. Na Europa a criação do BCE –
como nos EEUU, a mais velha criação do FED – foi o modo automático de derivar o
poder real do antigo Estado – Nação às mãos das Grandes Fortunas Financeiras;
deixando aos políticos as migalhas duma gestão, ordenada desde o eufemístico
“mercado”. Ao impedirem os Estados de financiar-se diretamente no BCE – os
banqueiros do Norte da Europa asseguraram sua supremacia sobre estes. Os
banqueiros do sul do continente podem exercer a coerção sobre seus respeitosos
Estados, ao terem no seu poder a fantástica alavanca de expandir ou contrair o
credito.
Mas todo este edifício econômico baseado na
dívida perpetua parece ter atingido seu limite. A astronômica dívida acumulada
a nível planetário – é em toda logica irrecuperável na sua totalidade. A
sustentabilidade do sistema a nível global se torna cada vez mais impossível. A
mudança de arquitetura é inevitável. Daí deriva o grave problema de confronto
pela hegemonia global: se mudássemos hoje toda esta arquitetura, com, por
exemplo, uma quita sobre toda a divida – e o encaixe em uma nova moeda de
referencia internacional, não por acaso denominada pelos franceses como
“global”; teríamos de contar com os emergentes do grupo BRICS, para levar este
plano à frente. China teria um poder de decisão muito grande havida conta do
peso econômico e do poder de coação financeiro que desenvolve em este campo.
Baste lembrar a alavanca de fardo de dívida Norte-Americana que os chineses
possuem. Conter, pois Rússia e isolar China parece ser então uma primeira fase,
dum plano mais amplo, que permita ao Ocidente desgastar ambos concorrentes –
com o objetivo final de poder comandar a mudança na arquitetura politico –
econômica, em cernes.
A guerra na Ucrânia – que permite alargar e
afiançar ainda mais a NATO sobre a fronteira Russa, assim como a crise no Meio
Oriente – e mesmo a possível virada do Irão dos Aiatolás, da etapa
anti-imperialista de Ahmadinejad à nova etapa de maior aproximação com o
Ocidente do aiatolá Rohani; tem muito a ver com estas evidencias. No entanto os
movimentos dentro do Irão parecem ser sempre precários; e o líder supremo
iraniano aiatolá Ali Khamenei, bem já de criticar alguns aspectos desta
estratégia. Também as reações chinesas ao problema uigur ou do Hong-Kong, tem a
ver muito com esta perspectiva de confronto e concorrência no plano
internacional.
Esta batalha pela hegemonia se nos antolha
longa e muito desgastante para ambos os lados. A pior hipótese de confronto
direto trazer-ia uma destruição a humanidade, duma magnitude, nunca vista. No
entanto o arsenal atômico tem exercido ate o de agora uma efetiva ação
dissuasória.
Eis aqui onde nos vemos o ponto de inflexão e
declínio do poder ocidental. O desgaste profundo que vai ter de sofrer – nos
próximos decênios para controlar, dominar ou ultrapassar o poder Chinês e mesmo
Russo, afetará profundamente a estrutura e inclusive os piares sobre os que se
sustenta o Império dominante; impossibilitando-o de comandar a restruturação do
sistema politico e econômico a nível global (mesmo conseguindo a derrota russa
– chinesa).
Dai podemos inferir que o desloque hegemônico
futuro, se nos aproxima mais certeiro virado para o Atlântico Sul que para o
Pacifico, e muito menos para a Euro-Ásia. Dentro do Atlântico Sul só vemos a
possibilidade de um país como o Brasil garantir esse novo comando. Para isso
será preciso em estes tempos de confronto, o Brasil ter a capacidade de
criar um anel alternativo de poder
(centrado num primeiro momento na América do Sul).
Afiançar esse poder alternativo dentro do Sul
do continente deve ser o plano geoestratégico de todos os poderes do estado,
assim como de todas as tendências politicas. Para criar tal anel de poder
faz-se evidente a realização conjunta duma alternativa político-econômica ao
anel de poder ocidental (com a suficiente habilidade para não criar tensões ou
colidir com o anel de poder vigente a nível global). E requerida, pois uma
experta diplomacia e capacidade de acordo, da qual o Brasil dispõe em este
período.
O único modelo alternativo, ajeitado às circunstancias
atuais, que permita a convivência – tanto com o bloco ocidental quanto com a
diversidade emergente – é aquele que possa confraternizar no seu seio, interesses
privados e públicos, preservando o patrimônio comum sem pôr travas a livre
expressão da iniciativa privada. Modelo no qual o Estado exerça de moderador e
ponte entre capital e trabalho – a imitação do velho esquema europeu de Estado
Providencia; que aparenta o mais adequado ao caso. Manter o controlo do Banco
Central – evitando uma “Independência”, que na pratica se traduza no controlo
das finanças do país por parte uma pequena elite bancaria – é vital para
transitar, em face dum planejamento de maior conexão administrativa e justiça
social. Afiançar Mercosul e Unasul – evitando a permissão de Tratados de Livre
Comercio diretos, a subscrever pelos membros, com terceiros países – se faz
necessário para evitar o declínio da Integração Sul Americana , e a perda de
centralidade do poder brasileiro no continente.
Ao mesmo tempo, o Brasil terá de ir atraindo e
formando capital tanto humano como espiritual, de grande valia, para permitir a
transação em face de um novo paradigma global, que retire a humanidade do Ter
(ânsia de possuir), aproximando-a do SER (ânsia de evoluir). E assim poder
continuar a iniciada etapa de aproximação entre ciência e espiritualidade, que
vai trazer consigo uma mudança global da psique humana a nível planetário. Recuperar
a visão de Giordano Bruno – antecessor de Galileu, Nicola Tesla ou o mesmo
Allain Kardec (da parte Ocidental), assim como Sri. Aurobindo, Ramana Maharsi,
Rumi ou Pabongka Rinpoché (da parte Oriental), misturados com a nova visão
quântica – puderam dar passo a criar uma porta, por onde dar a luz um novo
paradigma, que em próximas décadas terá de guiar a humanidade, ate um despertar
maior – longe do ego e mais perto do nosso natural ser.
Uma etapa que terá que trocar a confrontação pela
confraternização. No aspecto simbólico podemos afirmar que vamos transitar da “era
da procura da liberdade” e a tentativa
de emancipação falida (simbolizada pela estatua da Liberdade) – para a “era de
confraternização” desenvolvida através da superação da luta entre contrários, e
a superação da visão do outro como concorrente. Modificando a terrível vivencia
do ser humano dentro do mundo da guerra – pela mais ampla visão do outro, como
completo de nós mesmos. Visão da cooperação e respeito das diferenças.
Confraternização (simbolizada pela estatua do Cristo R edentor) baseada nos braços abertos para reconciliar opostos, na
aprendizagem mutua do espelho contrario, que nos mostra a outra parte oculta de
nós mesmos.
Se a arquitetura do domínio ocidental atual
esta sustentada em três pés ou piares, cujo centro é EUA, e suas assas a União
Europeia e o Japão – Coreia do Sul, no Oriente. O próximo domínio lusófono terá
como centro Brasília, e suas assas estarão compostas pelo Sul da África, onde
Angola e Moçambique terão protagonismo certo; assim como no Oriente a Índia e Oceania
– onde o pequeno Timor Leste, pode exercer um papel de relevo, se assim
acreditar nele.
Tanto a
Galiza como Portugal, deverão formar parte da estratégia de translação
hegemônica desde o Atlântico Norte ao Sul – sendo as verdadeiras plataformas
lusófonas, para conseguir essa viragem, através da relação profunda com os
países lusófonos do sul do atlântico e a Oceania.
É acreditando em este sonho – já alumiado pelos
ilustres prof. Agostinho da Silva e Aparecido de Oliveira – que os ativistas
lusófonos podemos achegar num futuro uma solução a desenvolvimento de uma nova
humanidade, mais consciente (tanto da sua potencialidade como dos seus deveres
e limites), mais equitativa, igualitária e ecológica.
1 comentário:
Os EUA estão lidando com a situação de forma equivocada. Washington D.C. devia tolerar a ascensão dos BRICS e continuar sendo uma das grandes potências globais, assim como a UE. O mundo não precisa ser unipolar e nem bipolar. O mundo pode ser multipolar. Pois, para efeito de competitividade, os EUA são uma das nações que levam vantagem por ter tradição em alta tecnologia.
O Brasil também tem que ter cuidado e não se alinhar demais ao lado da Rússia e da China. O Brasil deve se empenhar para se relacionar bem com todos os lados. Já em relação à CPLP, aí sim o Brasil tem que se alinhar, pois a CPLP proporciona a todos os membros uma ótima estrutura comercial com os outros continentes.
Sobre os BRICS e o Ocidente, o Brasil deve tentar ser neutro politicamente e economicamente explorar a rivalidade entre eles ao eu próprio favor.
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