Já o disse, e
escrevi, mais do que uma vez: com a selecção nacional sénior de futebol de
Portugal a questão nunca é saber se vai ganhar algum campeonato, europeu ou
mundial, mas sim em que momento da prova vai perder. Neste ano de 2014, no
Campeonato do Mundo disputado no Brasil, igualou o pior resultado de sempre em
torneios finais (há que não esquecer as vezes em que nem foi apurada na
qualificação): ficou-se pela fase de grupos… o que não acontecia desde 2002, no
campeonato que decorreu na Coreia do Sul e no Japão.
O que também
se repete rotineiramente na representação nacional em futebol e nos seus maus
resultados são as (mesmas) causas: (fraca) atitude, (maus) comportamentos, (previsíveis)
erros. É a ausência de ambição, que leva «profissionais» bem remunerados a
portarem-se como uma «excursão de solteiros e casados» em pré-férias; a
displicência que frequentemente se confunde com arrogância; o amadorismo e a
incompetência que levam a que não tenham cuidado na defesa (sofrer golos), na
disciplina (ver cartões) e na saúde (sofrer lesões). Enfim, a crónica dependência
de «milagres» (que nunca acontecem) quando se devia apostar num trabalho de
(quase) todos os dias.
Porém, e
volto igualmente a afirmá-lo e a registá-lo, a culpa destes sucessivos desastres é também dos que «estão de fora». Isto é, (quase) todos nós (eu não
me incluo, porque há muito tempo que deixei de acreditar e, logo, de me
comportar como um idiota), desde os milhões de meros espectadores, «torcedores»
(e sofredores), às centenas, milhares, de profissionais da comunicação,
jornalistas, comentadores, alegados «especialistas». Que, antes, e apesar dos
(maus) antecedentes, estão sempre disponíveis para dar o benefício da dúvida;
e, depois, estão sempre disponíveis para arranjar uma desculpabilização… e até
uma consolação. Na verdade, e pelo contrário, o que eles (jogadores
principalmente, mas também técnicos e dirigentes) deveriam receber era indiferença,
quando não desprezo – e logo antes da partida, o que implicaria, igualmente,
evitar recepções no Palácio de Belém…
No entanto, os
piores, neste aspecto, estão sempre no mesmo local: a RTP. A agitação, o
frenesim, a propaganda em tons verdes e vermelhos, sempre abunda(ra)m na
estação pública de televisão durante estas ocasiões. Não têm – nunca tiveram –
naquela casa qualquer vergonha na cara ou qualquer noção do ridículo: os vídeos
de incentivo à «seleção» assumem um tom «épico» que mais não é do que risível,
e naquele que foi emitido antes do jogo com o Gana chegaram ao cúmulo de evocar
os que combateram em Aljubarrota e os que dobraram o Cabo das Tormentas!
Infelizmente, nenhum dos que estiveram a «representar-nos» futebolisticamente
no outro lado do Atlântico tem qualquer semelhança com – e qualquer herança de
– esses heróis de outrora, que venciam invariavelmente apesar de partirem em
desvantagem. E Cristiano Ronaldo, cujo estatuto de «melhor jogador do Mundo»
não se tem reflectido na suposta «equipa de todos nós», que em poucos dias
passou da fanfarronice («este vai ser o ano de Portugal») ao fatalismo («nunca
imaginei ser campeão»), não é uma reencarnação de Vasco da Gama, de Pedro
Álvares Cabral ou de Afonso de Albuquerque. Será, talvez, quando muito, de Fernão de
Magalhães…
Todavia, a
humilhação não é sempre necessariamente idêntica: pode variar, e varia,
consoante as circunstâncias, entre as quais, e em especial, o país em que a
derrota definitiva, a eliminação prematura, o fracasso final, acontecem. Já em
2010 havia sido muito mau (também) simbolicamente por ter decorrido na África
do Sul, terra em que, precisamente, o Cabo «das Tormentas» se transformou em «da
Boa Esperança». Mas em 2014 foi ainda pior porque, desta vez, aconteceu no Brasil. Pelo que o escárnio, o paternalismo e a soberba – ou, numa palavra, as
anedotas - vão continuar, e, provavelmente, até aumentar. Como disse Paulo
Bento, tivemos (e temos e teremos) «o que merecemos». Em ano de centenário da Federação Portuguesa de Futebol não poderia mesmo haver uma «prenda» melhor?
Sem comentários:
Enviar um comentário