Muitos países de podem conter
dentro de si próprios sem maior inconveniente e de alguns deles se poderia talvez
dizer que devem a existência e alguma originalidade que ainda podem ter ao
facto de, digamos assim, serem puramente internos; outros, porém, têm não só
como uma espécie de necessidade vital mas ainda como uma espécie de imperativa
missão o projectarem-se para além de si próprios, emigrando ou individual ou
colectivamente; para representar o primeiro tipo de agrupamentos poria, por
exemplo, a Suiça, para representar o segundo os portugueses e, dentro do
Brasil, país bastante vasto para movimentos internos, os nordestinos. E é
exactamente por isso, entre outras coisas, que está errado todo o pensamento
político ou de administração que tenda a fazer de Portugal um terra tão notável
para turistas como a Dinamarca: português não nasceu para ser bem comportado e
para, pacientemente, acumular os ganhos da terra; nasceu para ser perdulário e
desvendar horizontes; e o que se quer é transformar marinheiros em contadores.
Qualquer ideia de que, entre as
gentes de fala portuguesa, o importante é a motrópole é uma ideia inteiramente
errada e que demonstra, logo de início, uma nula compreensão do fenómeno
português; com todas as peculiaridades que o distinguem da Europa e, dentro da
Península, das outras nações, Portugal não nasceu para ter vida própria, nasceu
para se dedicar à dos outros e só daí poderia tirar sua profunda razão de vida,
sua justificação histórica e o pleno cumprimento de sua missão: se houvesse uma
ordem franciscana de nações, Portugal deveria entrar para ela, casando-se com
uma voluntária pobreza, para que outros pudessem igualmente satisfazer os
anseios de sua individualidade; como, porém, não há, a sua obrigação é de a fundar;
não a de ter como ideal o viver bem, o que, além de tudo, significa apenas, na
maior parte das vezes, mostrar aos visitantes endinheirados boas estradas e
bons hotéis.
Portugal continental se deve
contentar com aquele nível de vida que seja suficiente para enviar emigrantes a
todo o continente e cumprir por eles a sua obrigação missionária de um mundo
novo. É, no entanto, inteiramente necessário que esses emigrantes não possam
ser nunca dominadores: que se não possam nunca apresentar como uma raça
superior que desce a educar as inferiores ou a fornecer-lhes funcionários
superiores, coisa de que já tivemos bastante exemplo com o sistema de colonização
de ingleses ou holandeses. Cada português, e Portugal no seu conjunto, tem de
sair do país tão pobre, e sobretudo tão humilde, tão pobre de espírito, como os
frades que partiam nos navios da descoberta e fundavam aquelas missões que eram
verdadeiramente de ajuda e conversão e se não transformavam com o tempo em
empresas comerciais altamente rendosas. O português que sai como emigrante em
que ser educado para servir, não para mandar; para ajudar, não para governar:
para promover o Reino de Deus, não para o impedir.
E é aí que se necessitava de uma visão política inteiramente nova (...).
Sem comentários:
Enviar um comentário