O Salto do Coelho, Amadeo de Souza-Cardoso, 1911
Está na natureza, em que se avista,
Uma liberdade sempre presa,
O que apelido da lembrança mais pura
Que algum anjo sonhou ser Deus,
E com saudade, tomou a sua forma e eternidade,
Caído entre os seus. E não me interessa
Tanto Deus, como esta saudade.
Assim é todo o esforço humano, mesmo o mais cobarde,
Um esforço, para arrancar o coração
E iluminar com ele a sombra daquilo
Que foi nosso e que assombra:
E não me interessa tanto Deus, como a chama.
Gosto, por isso, de paisagens, todas naturais
Onde se soltem os nossos saudosismos
E dancem pardais, borboletas, animais,
Como estando eles presentes, sem miragens.
No jardim, senta-se uma miríade de homens altos
Como o Sol, e mordem-me as pontas do corpo
Que se torna em ambientes enquanto morro.
Hei-de ser, também eu, inteira,
Como uma saudade de mim inteira.
Joana Rodrigues
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