"Se república quer dizer não-monarquia, em Portugal a república data de Évora Monte. O último Rei de Portugal foi Dom Miguel e não Dom Manuel, como é corrente ensinar-se. Comemorar o advento da república em 2010 não passa de uma dispendiosa (cem milhões, ao que parece) fantasia."
António José de Brito
Revista Nova Águia
Número 6
Efetivamente, a última encarnação da Monarquia (abruptamente concluída em 1908, com o Regicídio e confirmada depois, em 1910) já não era uma verdadeira monarquia. Era uma forma abastardada de monarquia que já não correspondia exatamente à forma monárquica convencional pelo menos desde a derrota das forças miguelistas pelos liberais.
Assim, de facto, comemorar os "Cem Anos da República" é - além de uma exibição de riqueza num país na bancarrota - uma inexatidão histórica, já que a monarquia em 1910 pouco mais tinha do que a forma.
Além do mais, o que há mesmo para "comemorar"? Hoje, como em 1910, e após esses cem anos de República, continua a ser o país mais atrasado da Europa Ocidental e, nos últimos anos, houve até países como Chipre, a República Checa e a Eslovénia, que nos ultrapassaram. É esta estagnação que as famílias que partilham o poder de forma alternada desde 1910 têm para exibir enquanto "grande feito da República"? A forma exterior do regime é assim tão importante? Se o fosse o Portugal de hoje não seria muito mais diferente do de 1910?
Com efeito, não atribuímos à dicotomia monarquia-república uma especial importância. Pouco importa quem se senta no trono ou se deixa passear com oficiais da Marinha segurando para si o chapéu de chuva. Importa muito mais devolver ao país a administração descentralizada, assente na "federação de municípios livres" que constava (até) do manifesto republicano... com efeito, a verdadeira mudança de regime que falta ainda cumprir na República é a da descentralização do regime, não a da sua forma aparente.
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