... Enviada por correio electrónico a 11 de Janeiro de 2011.
Eu e a minha esposa, (...), que era sócia da DECO com o número (...), decidimos dar por terminada a nossa ligação à vossa associação, que durava há já quase 20 anos. Essa nossa intenção foi comunicada por um telefonema que eu fiz no passado dia 3 de Janeiro para a vossa sede, a que correspondeu a vossa carta com data do mesmo dia, confirmando «o cancelamento da sua subscrição das revistas, com efeitos no final do trimestre». Enfim, hoje procedemos, junto do nosso banco, à anulação da autorização de transferência bancária pela qual eram pagos os custos das assinaturas da Proteste e da Dinheiro & Direitos.
O telefonema acima referido não chegou a constituir uma ocasião, e uma oportunidade, para explicitar a justificação desta nossa decisão. Como a consideramos relevante, serve esta mensagem para a apresentar: trata-se da adopção, em todas as vossas «publicações e suportes», do denominado «acordo ortográfico» a partir de 2011. Só essa iniciativa já seria suficiente para causar o nosso repúdio, mas a nossa indignação foi consideravelmente aumentada pela leitura do texto do vosso direCtor e editor Pedro Moreira, incluído na edição Nº 103 da revista Dinheiro & Direitos, página 3, e em especial o seguinte excerto: «(...) Poupamos nas letras para melhor servirmos o consumidor português. Poderíamos fazê-lo só em 2015, quando o acordo passa a ter força de lei. Mas com o alargamento da nova grafia a vários jornais e revistas, e ao ensino já a partir do próximo ano, queremos ser muito mais do que espetadores da mudança. Uma organização como a DECO PROTESTE promove a linguagem simples e próxima do leitor, mas sobretudo o respeito pela língua portuguesa. (...)»
Na verdade, não se promove o respeito pela língua portuguesa ao ser-se cúmplice consciente da sua adulteração artificial, inútil, prejudicial e, acima de tudo, ilegítima: não restam quaisquer dúvidas de que a maioria esmagadora do povo português está contra o «acordo ortográfico» - uma petição com quase 200 mil assinaturas demonstrou-o. A Assembleia da República e o(s) Governo(s) nunca foram mandatados para o ratificarem. Não seria este um tema merecedor de referendo? E, mais do que um assunto de carácter cultural fundamental, e definidor da identidade e da personalidade de um país, a alteração da ortografia pode e deve também ser entendida como um tema relativo à defesa do consumidor, ao dinheiro e aos direitos daquele.
É por isso que, nesse sentido, a DECO, inacreditavelmente, falhou: não realizou a investigação e não promoveu o esclarecimento relativos às causas e às consequências do «acordo ortográfico», com todas as suas (graves) implicações aos níveis comunicacional, logístico e financeiro, e que afectam indivíduos, famílias, empresas e outras entidades. O AO é uma «solução», uma «resposta» para um problema que não existe, e afirmo-o enquanto entendido na matéria: a valorização e divulgação da língua e da cultura portuguesas, ou lusófonas, passam por outros processos que não a «uniformização» (uma palavra que, só por si, deveria suscitar suspeita) da ortografia. O AO é um factor que vai debilitar ainda mais uma já muito debilitada sociedade civil.
A conclusão é inevitável: ao adoptar o «acordo ortográfico» em todas as suas «publicações e suportes», a DECO está a fornecer, deliberadamente, produtos e serviços defeituosos e deteriorados. E, perante esta situação, limitamo-nos a fazer o que, durante as últimas décadas, a DECO nos incitou a fazer. Denunciar. Protestar. Reclamar. Devolver, e/ou deixar de adquirir, esses mesmos produtos e serviços defeituosos e deteriorados. E, desde o princípio deste ano, vocês passaram a não ser a «escolha acertada» e a estar entre os «piores do teste».
4 comentários:
Ah, vocês são o movimento lusófono, mas só entendendo lusofonia pela língua respeitante da ortografia aprovada no salazarismo.. Pensei que era para todos os falantes. Ok, entendido. Xau!
Caro
Nós somos o MIL: Movimento Internacional Lusófono e temos uma posição de princípio pró-Acordo Ortográfico, mas este espaço é, antes de mais, um espaço de liberdade. Tanto mais porque, entre nós, sempre houve pessoas pró e contra o Acordo Ortográfico a que se chegou...
Abraço MIL
Eu até tinha algum apreço pelo anteriormente vigente sistema português. Tudo até ao dia em que vi um artigo brasileiro apontando os defeitos do sistema português...
Entre muitas coisas, vejam e comparem a acentuação na conjugação dos verbos
"arguir" e "intuir". Parecem regras feitas com requintes de malvadez. O fato de não terem sido arbitrárias, não quer dizer que elas não sejam utópicas e completamente despropositadas. Quantos cultos saberão conjugar corretamente o verbo arguir, na escrita?
Temos de ser mais humildes e admitir que os senhores da Academia de Lisboa deixam muito a desejar... Essa é que é essa, que custa e engolir...
Obrigado, Renato, pelo reafirmar do princípio, e do facto, de que o MIL é - deve continuar a ser - um espaço de liberdade, de expressão e não só.
E onde também a ignorância mal-intencionada deve ser denunciada e colmatada. Quem alude a «ortografia aprovada no salazarismo» aparentemente não sabe que a grande mudança, neste aspecto, foi operada em 1911 numa «reforma ortográfica» promovida pelos republicanos... à revelia da opinião, e da participação, do Brasil.
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