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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

domingo, 12 de setembro de 2010

A Alimentação a Bordo dos Navios Bacalhoeiros




Comia-se bem, a bordo do navio-hospital Gil Eannes, no final da década de 60. As refeições dos oficiais consistiam em sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa. O resto da tripulação não passava nada mal e os doentes cumpriam as dietas indicadas. Os navios de pesca tinham a vantagem de poderem dispor do peixe do dia.
Nas viagens de longo curso, antes de haver frigoríficos, a alimentação era sujeita a grandes restrições. Levava-se o que não se estragava: biscoitos, salgados e conservas. Ainda hoje, na Ilha Terceira, na costa oposta a Angra do Heroísmo, existe a povoação de Biscoito, que terá ganho o nome da provisão que ali iriam fazer os navios do largo.
Durante as travessias, raramente se podia pescar. A comida era um enjoo. Os navios costumavam levar galinhas e uma vaca, ou algumas cabras. Os animais ocupavam espaço e a alimentação deles também. Para mais, faziam muita porcaria. Os maiores eram abatidos cedo. Quando se matavam, era uma festa, mas a carne tinha de se consumir depressa para não se estragar.
Ao passar ao largo dos Açores, rumo à Terra Nova, lá se apanhava alguma tartaruga que permitia cozinhar belas canjas. Uma vez por outra, arpoava-se um golfinho que se divertia a acompanhar a embarcação. Dizia-se que dava bons bifes de cebolada.
Vale a pena passar os olhos numa lista de produtos alimentares embarcados para uma viagem de cerca de seis meses num lugre de 30 pescadores, durante a década de 1920-30:

40 barricas de farinha de trigo

18 barricas de carne de vaca salgada
50 kg de carne de porco
1350 kg de batatas
1100 kg de feijão seco encarnado e branco
150 kg de feijão frade
150 kg de grão-de-bico
100 kg de arroz
100 kg de açúcar
10 kg de especiarias
90 kg de banha
200 kg de toucinho
60 kg de café moído
5 kg de chá
360 kg de cebolas
Duas latas de chouriço
400 l de azeite
200 l de vinagre
40 l de óleo para frituras
400 l de vinho
400 l de aguardente
8 fardos de bacalhau seco
120 garrafas de cerveja
12 garrafas de vinho do Porto

O chouriço parece pouco... É curioso reparar em que o número de litros de aguardente era igual ao de vinho tinto.
Viviam-se tempos duros. Inventavam-se pratos a fingir carne, como o arroz de corações de bacalhau, mas as opções eram reduzidas. As cagarras, uma variedade de gaivota, davam uma bela caldeirada, depois de passarem 3 dias em vinha-de-alhos, para perderem o gosto a peixe.
As gaivotas espreitavam a escala, em grandes bandos. A sua pesca era cruel: iscava-se o anzol com um pedaço de fígado de bacalhau e atirava-se ao vento. Não se podia escolher quem vinha ao isco e, às vezes, sacrificavam-se inutilmente gavinas e albatrozes.
A adaptação de motores aos navios de madeira iniciou-se no começo da década de 30. Muitos lugres tinham propulsão mista, à vela e a motor. Alguns passaram a dispor de frigoríficos para o isco e para as provisões dos tripulantes.
Ainda hoje, o cozinheiro é o homem mais importante a bordo, a seguir ao capitão. Acima desse, só Deus, e mora longe... Os pescadores eram sujeitados a uma vida de extrema dureza. A satisfação do estômago foi das poucas a que passaram a ter acesso nos longos dias do mar, com o advento da refrigeração.

Fonte: Francisco Correia Marques, em: Oceano, nº 45, Janeiro/Março 2001.
Fotografia do autor.
Também publicado em decaedela.

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