“A dicotomia esquerda/ direita para mim já está ultrapassada nos tempos contemporâneos. Essa dicotomia, aliás, é hoje mais parte do problema do que da solução. A minha candidatura vai ultrapassar transversalmente todos os quadrantes da vida política nacional. Vou ter eleitores do CDS ao Bloco de Esquerda. Não estou aqui para dividir, mas para unir todos os portugueses, e a minha candidatura é a única de verdadeira mudança. É a candidatura da cidadania, que tem sido o meu pilar há mais de 30 anos. Eu não evoco a cidadania por um mero objectivo conjuntural” (Fernando Nobre).
Há declarações que roçam a perfeição, se é que não a atingem. Num discurso oral, esta é particularmente difícil de atingir, mas, por vezes, consegue-se em cheio. Foi isso que senti quando li esta declaração do Doutor Fernando Nobre numa entrevista publicada este fim-de-semana num jornal (“Público”, 21.08.2010).
Com efeito, nesta declaração, expressa a meio da entrevista, enuncia-se a razão maior desta candidatura, mais do que isso, a sua irredutível diferença face às demais. Esta é, efectivamente, uma candidatura da cidadania, uma candidatura supra-partidária, ou seja, uma candidatura que está para além dos alinhamentos partidários, mais do que isso, dos sectarismos ideológicos, e que, por isso mesmo, “ultrapassa transversalmente todos os quadrantes da vida política nacional”.
Alguns consideram esta visão algo ingénua, quando, ao contrário, o que ela denota é lucidez. O mundo contemporâneo, na sua poliédrica complexidade, deixou de ser apreensível pelas narrativas globalizantes de outrora. Não significa isto que não continuem a existir perspectivas mais de “esquerda” ou de “direita”, se quisermos insistir nessa terminologia. Simplesmente, essa é uma grelha demasiado redutora, porque dicotómica, para sustentar uma visão que esteja à altura dessa poliédrica complexidade do mundo contemporâneo – nessa medida, essa dicotomia é hoje, de facto, “mais parte do problema do que da solução”.
A reafirmação dessa visão afastará, provavelmente, algumas pessoas mais reféns do seu próprio sectarismo ideológico – daí também a indisfarçável aversão por esta candidatura daqueles que, nos partidos e nos “media”, fazem desse sectarismo ideológico a trave-mestra de todos os seus discursos. Mas, em compensação, atrairá muitas mais. Aquelas – muitas, cada vez mais – que já perceberam que não é com as receitas do passado que se cumprirá o caminho do futuro…
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