De acrescentar que António José teve uma avaria no navio que o levava a atravessar o Atlântico e não conseguiu chegar ao Brasil a tempo. Estávamos num tempo daquelas crises financeiras que são os nossos normais anormais e só um desenrascado como era o ilustre republicano liberal conseguiu transformar essa vulnerabilidade numa potencialidade ainda citável...
Cabo Verde, um povo africano com cinco séculos de nação, ao tornar-se independente, livrou-se, pelo menos, de ter de aturar certa gerontocracia de algum capitaleirismo lusitano de ausentes-presentes. Há encruzilhadas da história onde os Ipirangas são necessários. Sobretudo quando o velho centro perde a lucidez de ter saudades de futuro.
A estrutura política dos portugueses europeus tem sido sucessivamente reinventada e refundada. O velho Portugal devia, aliás, ter mudado de nome em 1822, tal como em 1975 se encerrou o ciclo do último passo imperial, o da geração de Mouzinho e do imperialismo republicano que nos levou à Grande Guerra e, finalmente, à guerra colonial.
Somos herdeiros de todos os ciclos imperiais da nossa história. O primeiro, foi o marroquino, entre a conquista de Ceuta e o abandono de Mazagão. O segundo, foi o do Oriente que, simbolicamente, terminou em 18 de Dezembro de 1961, mas ainda permaneceu em Timor e Macau. O terceiro foi o do Brasil, até 1822. O quarto e último foi o africano, o desencadeado nos últimos anos do século XIX...
A chamada descolonização exemplar, ainda gerou uma foram anti-imperial de procura do além: a integração europeia, desencadeada a partir das memórias da emigração dos anos de 1960, na geração da mala de cartão. Só agora começamos a regressar à Lusitânia e à frustração dos Habsburgos. Mas não há 1640 no horizonte, porque a principal consequência do 1º de Dezembro foi a construção do Brasil!
Por outras palavras, só poderemos superar a frustração imperial pelo sonho do abraço armilar. Mas ainda faltam algumas décadas para inventariarmos as nossas memórias das várias sementes lançadas pelo Portugal Universal, decepando o neocolonialismo pretensamente anticolonialista que ainda nos amargura...
PS: O célebre cartaz de propaganda é da autoria do inspector superior colonial Henrique Galvão, o mais anti-salazarista de todos os anti-salazaristas, mas delineado quando ainda ele era salazarista, coisa que o deixou de ser quando teve a coragem de, na própria Assembleia Nacional, apresentar um relatório sobre o trabalho forçado que logo o jornal clandestino do PCP, o "Avante", editou...
José Adelino Maltez, 21.4.2010 no blogue http://tempoquepassa.blogspot.com/ – um verdadeiro embaixador do nosso descontentamento...
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