Especialistas da Universidade Federal Fluminense (UFF) finalizaram nesse ano um plano de redução de riscos que previa acções em, pelo menos, cinco comunidades atingidas esta semana por deslizamentos. Entre elas, o Morro do Bumba, favela erguida sobre um antigo aterro sanitário.
Na opinião de Elson Nascimento, engenheiro que coordenou o plano anti-desastre, o planeamento poderia ter evitado a tragédia e reduzido expressivamente a dimensão do desastre em Niterói.
“O plano tinha como objectivo reduzir riscos. Tínhamos a expectativa de que tivesse sido executado. Ele teria minimizado o número de mortes”, disse Elson Nascimento.
O engenheiro esteve no local da tragédia em 2004 e constatou que a área estava a ser ocupada por algumas casas. De lá para cá, o número de casas aumentou significativamente.
Na ocasião, a equipa de técnicos encaminharam uma proposta para as autoridades de retirada das pessoas.
Em 2007, a pedido da Prefeitura de Niterói, foram levantados 142 pontos de risco em 11 comunidades.
O plano custou 120 mil reais (50 mil euros), com financiamento do Ministério das Cidades.
“Esse plano não foi colocado em prática até hoje”, explica Elson Nascimento.
Com um custo de implementação de cerca de 19 milhões de reais (8 milhões de euros), o plano previa obras de engenharia de baixo custo, contenção de encostas e ainda acções educativas, colectas de lixo e limpeza regular preventiva da rede de drenagem.
“O essencial é trabalhar preventivamente”, defende. A remoção forçada de pessoas que residem em áreas de risco é uma situação “extremamente complexa”, diz.
A catástrofe em Niterói atinge sobretudo a população pobre. A cidade vizinha do Rio de Janeiro contrasta com os indicadores sociais: Niterói apresenta um dos mais altos índices de qualidade de vida do estado do Rio e o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de todo o país.
O prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, esteve quinta-feira no Morro do Bumba e afirmou não saber que as casas da região haviam sido construídas sobre num aterro sanitário.
O agravante no deslizamento no Bumba é a grande quantidade de resíduos que libertam gás metano prejudicial à saúde e com alto potencial de combustão.
“A presença de gás metano inflamável é perigosíssima. É um botijão de gás pronto para explodir”, disse.
A própria secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, afirmou que o deslizamento pode ter sido provocado por uma explosão ocorrida quando o gás metano do aterro entrou em contazto com a atmosfera movendo a terra que já estava vulnerável pela acumulação de água da chuva.
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