82 - A identidade pode ser valiosa. Onde a identidade falta existe o risco de viver a aparência. E qual é o risco da aparência no lugar da identidade? O homem sem pátria e o homem com país.
83 - “Em toda parte, onde quer que mantenhamos qualquer tipo de relação com qualquer tipo de ente, somos interpelados pela identidade” Heidegger
84 - A produção é valiosa. Na ausência da produção, o risco da sedução (que consiste em desviar o valor concreto e objectivo do objecto psíquico ou material), num jogo virtual. E qual é o risco da sedução?
85 - “Phýsis e logos são a mesma coisa. Logos caracteriza o ser de um ponto de vista novo e antigo ao mesmo tempo: o que é ente, o que é consistente e estável, acha-se reunido em si mesmo por si mesmo e mantém-se nessa reunião” Heidegger
86 - Kant afirmou que aquilo que experimentamos é diferente daquilo que é real. No entanto, supondo que concordamos (embora não seja o caso real, porque concebemos vários níveis de experiência, todos eles com uma essência própria), a identidade, como experiência fonte do experimentar, é só verificável pela aparência – pela experiência. Neste caso, a aparência alimentaria então a consciência da identidade, ao invés de tomar o seu lugar; a sedução aumentaria a necessidade de produção.
87 - Constantemente, a nossa capacidade/condição de pensamento dualista nos empurra num só sentido – aquele do êxtase sonolento da hipnose. O que se torna consciente deste facto, torna-se no hipnotizador, mas é geralmente infeliz.
88 - A presença de Deus, ou de deuses, pode ser valiosa. Onde a religião falta instala-se o risco de viver o dinheiro. E qual é o risco do dinheiro tomar a função da religião?
89 - A afirmação da inutilidade dos nossos destinos (por artificio da religião ou do capitalismo) é a afirmação da sua funcionalidade; a inutilidade toma, pela sua afirmação positiva, a aparência e a sedução da utilidade. A negação da inutilidade toma a aparência e a sedução da utilidade.
90 - Um problema de comunicação, uma deficiência no entendimento das linguagens, levaria um homem a comparar o artista com o autista. E aqueles que falam de arte que não expresse uma teoria, são, dependendo da perícia com que o fazem, ilusionistas.
91 - A mente experimenta-se a si própria por via da inteligência, a mente está na inteligência e não a inteligência na mente. Os sentidos são os agentes da inteligência: esta inteligência que conhece a unidade para lá da individualidade. Que conhece o prazer que paira acima da satisfação ou da insatisfação, prazer distante da finalidade, na busca sem finalidade do ilimitado e sempre novo – esta é a fórmula com que o concreto se experimenta a si próprio e a pessoalidade da identidade se forma e informa e desaparece.
92 - O que separa a mitologia da ciência, e o evolucionismo do criacionismo, o espiritualismo do materialismo, e.t.c., é um mito.
André Consciência
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