Isto, apesar de já não é tão popular entre os estudantes russos de hoje como era na era soviética, nos anos 70, 80 e 90 do século XX, quando a União Soviética passou a ter fortes interesses nas ex-colónias portuguesas em África.
Nas universidades de Moscovo e São Petersburgo, mais de 300 alunos de vários cursos tentam dominar a língua de Camões, Machado de Assis, Luandino Vieira e Mia Couto. “A maioria dos estudantes de língua portuguesa esperam fazer carreira na diplomacia ou nas relações económicas, comerciais e outras entre a Rússia e principalmente o Brasil e Angola”, declarou à Agência Lusa João Mendonça, leitor do Instituto Camões (IC) de Portugal na capital russa. O IC tem um leitor a tempo inteiro em Moscovo e outro, em regime de «part time», o maestro João Tiago, em São Petersburgo. Além disso, o Brasil tem também um leitor na Universidade Estatal de Moscovo (Lomonossov).
Em Moscovo, o Instituto de Relações Internacionais é a escola superior russa com mais alunos: 131, sendo seguido pela Universidade de Línguas Estrangeiras, com 70, e Universidade Estatal (Lomonossov), com 30.
Em São Petersburgo, na Universidade Estatal há cerca de 50 alunos de português e na Universidade Pedagógica (Herzen) trinta. “O facto de o Instituto de Relações Internacionais estar em primeiro lugar deve-se, em parte, ao facto de, durante a crise económica, a carreira diplomática ter voltado a ganhar prestígio”, continua João Mendonça.
Além do ensino oficial, em Moscovo e São Petersburgo há escolas de português e os professores que dão aulas particulares também não se queixam de falta de trabalho. “Eu cobro mil rublos (cerca de 25 euros) por hora, mas há professores que levam mais caro”, declarou à Lusa um dos docentes, sublinhando que os alunos são, fundamentalmente, homens de negócios ou pessoas que precisam de aprender rapidamente a língua para trabalharem em países lusófonos.
O aumento da popularidade da língua portuguesa na Rússia é travada pelo facto de as autoridades russas não lhe prestarem grande atenção. O Kremlin criou canais de televisão informativos em inglês, árabe e espanhol, mas não sente necessidade de melhorar a imagem do país nos países lusófonos. Até há alguns anos, a agência Ria-Novosti teve uma redacção portuguesa, mas acabou por encerrá-la, restando apenas a rádio Voz da Rússia, antiga Rádio Moscovo, que transmite em ondas curtas, mas cujas audiências são desconhecidas.
China: em nove cidades
Confinado até há pouco tempo a três universidades - em Pequim, Xangai e Cantão – o ensino do português está hoje implantado em nove cidades, correspondendo ao aumento das relações com os países lusófonos, sobretudo Angola e Brasil.
Para além dos alunos que frequentam cursos privados, “que também há muitos”, haverá em Pequim cerca de duzentos estudantes de português, em cinco universidades diferentes, estima um professor da Beiwai.
A Beiwai (Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim) tem a mais antiga licenciatura de português do país: Até há cinco anos, fazia parte da Faculdade de Espanhol da universidade, mas hoje integra a “Faculdade de Espanhol e Português”. Na década de 1990, alem da Beiwai, apenas a Universidade de Estudos Estrangeiros de Xangai tinha um curso de português. Na Universidade Jinan, em Cantão, o português era ensinado como língua estrangeira opcional. Já no século XXI, universidades de Tianjin, Xian, Dalian, Nanjing, Changchun e Harbin passaram também a ter licenciaturas de português e no próximo ano Shejiazhuang fará igualmente parte da lista.
“A procura de especialistas em português é cada vez maior devido ao desenvolvimento das relações comerciais com os países lusófonos”, diz o diretor do departamento de português do Instituto de Línguas Estrangeiras de Tianjin (Tianwai), Liu Yi. Criado há cinco anos, aquele departamento tem 57 alunos e dois professores portugueses, enviados pela Universidade de Lisboa
Dos 16 primeiros licenciados no Tianwai, que concluíram o curso no verão passado, “todos estão empregados”, a maioria em empresas chinesas estabelecidas em Angola, diz a professora Yang Shu. Ela própria teria partido se entretanto não tivesse sido contratada para aulas de português em Tianjin. Um professor da Beiwai diz o mesmo: “Os alunos que saem daqui arranjam todos emprego. Alguns vão para o Brasil, mas Angola tem muito mais empresas chinesas”.
Dezenas de grandes empresas chinesas, nomeadamente na área da construção civil, estão estabelecidas hoje em Angola, e segundo indicou um jornal de Pequim, haverá cerca de 40 mil chineses a trabalhar naquele país. “Há chineses a trabalhar nas 18 províncias de Angola”, salienta um diplomata angolano colocado em Pequim.
O domínio do português é igualmente importante para as empresas com negócios no Brasil, que é um crescente parceiro da China em diversas áreas, desde a exploração espacial à agricultura.
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