*É um Lusófono com L grande? Então adira ao MIL: vamos criar a Comunidade Lusófona!*

MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Entrevista a Fernando Nobre

Repete as palavras 'cidadãos' e 'cidadania' em quase todas as respostas: foi pelos portugueses que o médico Fernando Nobre decidiu avançar com a candidatura a Belém, rejeitando "enfeudar-se" a partidos políticos. Abdica da imagem de "herói" que poderia ter daqui a dez anos, se não se envolvesse agora na corrida à Presidência da República. Mas recusa ficar na "retaguarda" da "crítica fácil". "Não quero acomodar-me. Se vencer venci, se perder perdi." defende. Quanto à divisão da esquerda, é claro: tem um projecto de união que não conhece cores políticas. Além disso, diz ser "o único candidato" já assumido.

A sua candidatura é o assumir de que o país chegou a uma situação tal que o futuro já não pode ser confiado apenas aos políticos ?

O Estado é constituído por três pilares: o pilar da vivência política, dos partidos, governo e Presidência da República, o pilar relacionado com a economia e o pilar da sociedade civil. Chegou o momento de a sociedade civil se exprimir. O país está em crise e nenhum desses pilares pode eximir-se dos seus deveres. Perante o conhecimento geopolítico, o conhecimento social que tenho do país e a multiculturalidade, multirracialidade e a mundivivência que tenho enraizadas em mim, entendi que podia dar um contributo importante. É importante ter na Presidência da República - respeitando a Constituição -, um cidadão apartidário. O que não quer dizer que seja apolítico, porque o trabalho humanitário e social que tenho feito é político. Entendi que o pilar da cidadania deveria manifestar-se e já que mais ninguém se erguia, ergui-me eu.

É uma candidatura para ir até ao fim?

Eu quis fazer uma declaração de candidatura, quando muitos me aconselharam a "manifestar disponibilidade". Mas não sou pessoa de tactear: ou avanço ou não avanço. Só quem não me conhece pensa que posso desistir. Muito menos num projecto em que está em causa a dignidade do país e a minha dignidade e coerência. Este processo é para ir até ao fim e para ganhar. Posso perder, mas vou para ganhar.

Com que objectivos centrais?

Participar na credibilização da política, dar um contributo nas questões da coesão justiça social do país, que são urgentes, contribuir para a credibilização da justiça e reforçar a soberania. O PR tem o direito e o dever de intervir, respeitando a Constituição e deixando o governo governar. Mas também não pode assistir passivamente a certos transbordos que podem ocorrer.

Como é que se propõe "repor a fé na democracia", como disse?

Aqueles que dizem que nunca me ouviram uma ideia política podem ler os livros que escrevi. Até dizem que lêem muito, portanto podem ler esses livros onde exponho as minhas ideias e as minhas visões para o mundo e para o país. A democracia representativa é o menos mau de todos os sistemas, mas isso quer também dizer que a democracia é perfectível com uma componente de democracia participativa, de auscultação da população em debates importantes. Não quer dizer que tenhamos de chamar os cidadãos todos os meses, mas nos assuntos relevantes do Estado, não há que ter medo. Caso contrário, continuamos a olhar para eles como uma massa amorfa, uma carneirada que só dá o seu parecer de quatro em quatro anos.

Defende mais referendos, portanto.

Sempre que necessário. No Tratado de Lisboa, o povo deveria ter sido chamado a pronunciar-se, porque a Europa está a ser construída de cima para baixo e sem auscultar os cidadãos. E depois acham estranho que os cidadãos decidam não votar e que tenhamos abstenções na ordem dos 50%. Isso é grave para a democracia. É preciso que as pessoas voltem a acreditar e que sintam que o poder quer ouvi-los.

É por isso que diz que há um sufoco partidário da vida pública?

Sim. Não digo isso no sentido de contestar o poder, mas sim no sentido de fazer com que as esferas do Estado, da economia e da sociedade civil consigam entrecruzar-se, para conseguir um país sustentável, com futuro. Basta ler os jornais para ver que já muitas vozes questionam a viabilidade do país. Chegou a hora de os cidadãos dizerem que querem ser escutados e eu quero ser o porta-voz desses que não tiveram voz durante décadas.

Precisamos de uma nova revolução?

As revoluções muitas vezes são autofágicas. Eu sou por um processo de mudança, de transformação, mas não de revolução. Agora, para que as ditas revoluções violentas não aconteçam, é preciso pugnar por um processo inclusivo mais forte. O país está num processo que pode tornar-se complicado, com os níveis de pobreza, desemprego, défice externo e endividamento das famílias que atingimos. Os desafios que se avizinham vão possivelmente agravar esses perigos, portanto chegou o momento de Portugal conseguir uma união de projectos e causas nacionais. É um processo de salvaguarda de um país com 900 anos de História, para que não se continuem a ouvir as vozes que dizem que Portugal não tem futuro e que o melhor que lhe pode acontecer é ser integrado na Espanha. Não! Nisso sou muito patriota.

Fala em projectos de união para o futuro do país, mas a discussão que hoje se faz assenta sobretudo em números: défice, endividamento...

É importante que isso seja resolvido. Temos um défice e um endividamento preocupantes.

E o que defende para combater isso?

Há domínios que conheço bem e outros que conheço menos bem. É para isso que existem os assessores e um Conselho de Estado que, para mim, deve ser consultado mais amiúde pelo Presidente da República. Mas se o tecido empresarial do país é constituído a 95% por PME que empregam 76% da mão de obra do país, é preciso dar uma atenção particular a esse sector, em vez de pensarmos de novo em projectos de grande envergadura. Não quer dizer que não se faça um, mas não podemos avançar para três ao mesmo tempo. Quando for Presidente da República terei um diálogo singular com o primeiro-ministro, seja ele qual for, e darei a minha opinião. Não podemos repetir os erros do passado. Temos de exigir responsabilidade aos políticos. Não podemos construir 10 estádios de futebol inúteis, endividar brutalmente o país e agora estar a falar na implosão de alguns deles. Onde estão os responsáveis? Isto é um atentado à dignidade do país.

Como definirá a prioridade dos projectos?

No meu livro proponho uma fórmula de conselhos de peritos nomeados pelo PR, pela Assembleia da República, pelo sector em causa e pela sociedade civil e meio académico. Uma vez definidos os eixos estratégicos temos de mostrar perseverança para alcançar os objectivos. O papel do Presidente da República passa muito por motivar, incentivar e alentar, visitando o país de lés a lés, reunindo nas universidades, escolas, empresas, autarquias, no mundo associativo, para passar ânimo a um país que está particularmente deprimido. Não acredito no fatalismo lusitano: tudo depende da organização, do trabalho, exigência, esforço e premiar o mérito. E também é preciso profissionalismo e respeito pelas regras.

E quanto tempo será necessário para mudar mentalidades?

Era bom que houvesse um curso de civismo desde a pré-primária até ao pós-doutoramento, para as pessoas entenderem que têm direitos para si e deveres para com os outros e para com o país. Portugal somos todos nós. Eu quero dizer aos cidadãos que têm de assumir o seu papel no Estado, porque a política não esgota nos partidos. Isto pode levar uma ou duas gerações, mas deveria acontecer numa geração, no máximo. Porque a aceleração na mudança do mundo é radical. Não temos mais tempo a perder, senão Portugal afasta-se cada vez mais das médias europeias.

Concorda com a ideia de que os melhores portugueses não estão hoje na política?

Isso é também culpa desses portugueses. Seria muito fácil deixar-me estar na retaguarda. Como diz a minha mulher - que foi radicalmente contra esta minha decisão -, eu podia fazer mais dez anos de trabalho e acabaria, em Portugal, e com toda a humildade, com uma imagem de herói. Mas... é muito fácil criticar? Então vamos dar o nosso contributo, para ver se conseguimos. O que prometo aos portugueses é que se tiver uma decisão muito difícil a tomar, darei a cara por ela, justificando a solução escolhida. E se me enganar, pedirei que me castiguem nas próximas eleições. É essa linguagem frontal que quero trazer.

Falta frontalidade na política actual?

Há muito tacticismo, muitos bloqueios devido a redes de interesses e nem sempre se fala claro. Eu gosto de falar português entendível, não gosto de discursos herméticos. O Presidente da República pode, e deve, exercer a sua magistratura de influência em diálogos singulares. Sou pelas conversas frontais em reuniões olhos nos olhos com qualquer primeiro-ministro, procurador-geral da República, Presidente do Supremo ou líderes partidários. Ao votarem em mim, os portugueses podem saber que terei essa postura até ao fim.

Já tem muitos apoios?

A rede está entusiasta. Que eu saiba, até hoje sou o único candidato. Depois há uma pessoa que eu respeito, embora não conheça, que se mostrou disponível para ser candidato. Mas eu sou candidato. Por isso tenho contactado muita gente. Na altura certa as pessoas saberão quem faz parte da minha comissão e quem são os meus mandatários. Quero incluir toda a gente num projecto nacional. Não estou aqui para dividir entre esquerda, centro e direita. Isso não me interessa. Eu vou por valores. Há muita gente que ainda não entendeu que já ninguém acredita nessas coisas da direita e da esquerda: acreditam em valores, em pessoas com carácter e com coluna vertebral.

Foi por isso que já apoiou pessoas de variados quadrantes políticos?

Acredito em projectos e em pessoas. Apoiei Durão Barroso a primeiro-ministro e, desse apoio, sinceramente, arrependi-me. Pela situação na guerra do Iraque e pela saída para Bruxelas. Senti-me traído. Quantos aos outros apoios, não me arrependo minimamente. Soares nas presidenciais, Miguel Portas para o parlamento europeu e António Capucho na câmara de Cascais, a cidade onde vivo. Eu não vejo cores políticas. Quem ache que eu ando a saltitar da esquerda para a direita, não entende nada do que defendo.

Alegre avançou como candidato da sociedade civil. Porque é que não o apoiou?

Fui convidado por três vias para apoiar e integrar a sua comissão de honra. Nomeadamente pelo grupo de Viseu, onde nasceu a candidatura de Alegre. E hoje esse grupo decidiu estar comigo. Nós temos de ser frontais, porque isto de se dizer uma coisa e depois fazer outra é complicado. Não podemos ter um senhor que foi durante 34 anos deputado do PS, foi vice-presidente da AR indicado pelo PS, que pertence a um partido e que, continuando a ser deputado do partido, diga que quer dinamizar um movimento de cidadania. Para ser coerente, só há uma coisa a fazer: entregar o cartão do partido e fazer uma coisa às claras.

Não aceita as críticas ao facto de a sua candidatura dividir a esquerda?

Não, porque não estou aqui para dividir a esquerda, o centro ou a direita. Não vou voltar a responder a essas perguntas sobre as interferências de A, B ou C, ou dos apoios de Soares. Quero é discutir projectos e ideias para o país. Estou aqui para assumir as minhas responsabilidades pelo país que amo. Não estou aqui para pedir apoios de partidos. Peço o apoio dos cidadãos, pertençam eles a que partidos pertencerem. Não enjeitarei nenhum apoio, desde que ele não violente a minha consciência, mas não me enfeudarei a nenhum partido.

Não espera apoios partidários?

Não estou à espera nem os vou pedir. Eu estou a falar à cidadania dos portugueses. Se o partido A ou B quiser apoiar-me, pois que apoie. Mas não me peçam contrapartidas. Se é para ir para Belém e já estar amarrado, eu não vou. Eu sou suprapartidário. Não quer dizer apolítico, porque tenho as minhas ideias.

Como avalia o mandato de Cavaco Silva?

O professor Cavaco Silva teve uma ideia muito boa: os roteiros para a inclusão. Estive com ele no último roteiro para a inclusão no Norte, ao lado dele, nesta causa nacional de luta contra a pobreza, que é uma vergonha para este país. Tenho de Cavaco Silva a imagem de um homem digno, responsável e crente nas pessoas. Acho é que, perante a situação de Portugal, vai ser preciso uma grande força anímica - que eu tenho.

E o actual presidente não a terá tanto?

Ele responderá por ele. Eu falo por mim.

Como assistiu às querelas entre São Bento e Belém?

Com muita perplexidade. Das duas, uma: ou o senhor presidente da República já não tem confiança no primeiro-ministro e entende que anda a ser escutado, se tiver provas de que o primeiro-ministro anda a escutar as suas conversas privadas, só tem de fazer uma coisa: é levar a questão até às últimas consequências. Se não tiver provas, o melhor é ficar calado. Acho que o país está perplexo, está confuso. Por isso, serei muito claro com os putativos candidatos a primeiro-ministro, no sentido da credibilização. A credibilização da classe política é essencial. Gostaria que nas sondagens feitas no nosso país a classe mais respeitada fosse a classe política. Mas não é. Eu sou médico e diz-se que é a profissão mais linda de todas. Mas costumo dizer que há uma superior: a de estadista e de gestor do bem comum.

É possível transportar esse plano das ideias para os actos?

Esse vai ser o meu combate. Não quero fechar os olhos sem dizer "eu tentei". Conseguir ou não, é outro assunto. Mas vou tentar. Não quero demitir-me, ou acomodar-me. Se vencer, venci. Se perder, perdi. É esse o jogo democrático. Eu neste processo ponho-me à chuva. Vão chover picaretas e já começou. Mas espero que o debate seja noutro patamar, porque não vou responder a essas coisas. O Dr. Manuel Alegre pode dizer que não me conhece, mas à volta dele há quem me conheça. Eu quero é que se discutam projectos para Portugal. Se não vencer, que vença alguém com um projecto que possa mobilizar Portugal. Demonstrem-me isso. Quanto ao resto, todos os disparates são permitidos e até já ouvi umas bocas sobre não ser português, por ter nascido em Angola. Eu nasci português e sempre tive bilhete de nacionalidade português desde o meu nascimento. Vamos lá parar com as baboseiras e pôr a discussão no patamar das ideias. Eu ando desde que nasci em países onde há muitos mosquitos. Picadelas de mosquitos não me importunam. Eu só reagirei se for mordido por um crocodilo.

Não quer concretizar a metáfora?

Hão-de vir outras. Há muitos anos que ando em zonas complicadas do planeta, estou habituado. Não vão por aí porque não me vão perturbar. Agora, não atentem à minha dignidade. Não permito que ninguém venha atentar o meu nome e dignidade, porque aí terei resposta à altura.

1 comentário:

José Pires F. disse...

Gostei.
É esta força que se espera deste homem.