O Padre António Vieira foi um dos precursores da defesa dos Direitos Humanos, no contexto colonial, no Brasil do século XVII ao denunciar e condenar a escravização a que eram submetidos os nativos deste território português (Vide Padre António Vieira, Sermão do 1º Domingo da Quaresma, Maranhão, 1653).
A lusofobia foi um sentimento depressivo que emergiu, no subconsciente dos portugueses, do complexo de inferioridade nacional que andou associado à ideia da decadência da pátria lusitana ao perpassar grande parte do século XIX que levou, inclusivamente, ao suicídio de Mouzinho de Albuquerque.
O Luso-tropicalismo surgiu no século XX como uma teoria sociológica do brasileiro Gilberto Freyre, ao chamar a atenção para a aculturação mútua entre o autóctone e o colonizador português, que depois passou a integrar a ideologia colonial do Estado Novo após a 2ª Guerra Mundial, no contexto internacional anticolonialista (Luso-tropicalismo – uma teoria social em questão, org. Adriano Moreira e José Carlos Venâncio, 2000).
Como derradeira etapa desta dinâmica histórica, a lusofonia emergiu como conceito explícito, a par da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na qualidade de resposta identitária, dos países de expressão cultural e linguística portuguesa afectivamente unidos, na era da Globalização. Este conceito expressa o sentimento de união e de familiaridade entre estes povos e comunidades. Nesta medida, a CPLP, o Prémio Camões, a revista Nova Águia, o Movimento Internacional Lusófono e ONG’s como a Associação Médica Internacional são instituições que acreditam neste Património de identidade existencial.
No futuro, no quadro da lógica da Globalização do século XXI, antevista pelos portugueses desde as Descobertas marítimas quinhentistas, poder-se-à caminhar para a ansiada União Lusófona em que Agostinho da Silva tanto acreditava.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
9 comentários:
É isso mesmo...
Abraço MIL
Fica sempre por saber dois aspectos fundamentais:
1. Quem primeiro usou o termo «lusofonia» - ou seja, quem o inaugurou como conceito de filosofia política?
2. Quem forjou, não o conceito, mas a substância semântica que veio a ser o sustento do conceito?
O Luso-tropicalismo, mais do que Agostinho da Silva (que é até um seu opositor), é, sem dúvida, o «chão» mais recente. Mas penso que o conceito (ainda em germinação e a fazer o seu percurso) começa a ser enunciado em substância na obra «Portugal e o Futuro» (Editora Arcádia, Lisboa, 22 de Fevereiro de 1974) de António de Spínola... Isto pode não ser «politicamente correcto» (não que isso me preocupe), e precisa, decerto, de ser aclarado, demonstrado, aprofundado. Porém, a «lusofonia» começa a surgir como conceito de filosofia política (e não como a recuperação de uma qualquer mítica) na decadência do Império Português, e como uma tentativa de resposta a essa decadência; em suma, das contradições finais do Império...
O "chão" tem sempre várias raízes e algumas delas (horizontalmente) contraditórias...
Mesmo algumas pessoas que serviram o Império foram percebendo que o Império se foi tornando insustentável (casos do Spínola ou do Adriano Moreira). E, nessa medida, aproximaram-se de quem nunca o serviu (caso de Agostinho da Silva). Para defender uma solução que, impraticável na altura (tal o ponto onde se chegou), pode e deve ser hoje recuperada...
A história nunca é linear. Há hiatos que servem de nós...
não percebi os vossos ultimos comentários. "império" é aquela coisa colonial do doutor salazar?
Sim, era este o contexto: Império Colonial. E era a deixa para tu entrares...
Abraço MIL
Jesus Carlos: 'lusofonia' é um conceito... francês (sob a forma de 'francofonia', claro). Creio que foi por 1968-69 - portanto talvez com De Gaulle ainda como Presidente francês (deixou de o ser em Abril de 69) - que houve uma série de reuniões de países de língua francesa, com a forte presença dos africanos, em que o conceito e a respectiva política se lançaram. Na altura foi fundamental o Presidente Leopold Senghor do Senegal; tratava-se muito de criar barreira ao neocolonialisno americano das multinacionais em África.
Foi De Gaulle quem levou a luta (subtil) contra os Estados Unidos e em geral o predomínio anglo-americano ao ponto de, em visita ao Québéc canadiano (de língua francesa) lançar o grito "Viva o Québéc Livre!" que tanto irritou os antigos aliados da II Guerra...
Sendo a cultura francesa dominante nas elites portuguesas da altura, não admira que tenha lentamente germinado cá... e pessoas como Spínola e Adriano Moreira, por razões apesar de tudo diferentes, devem ter sido dos primeiros a entendê-la. Até porque ao governar a Guiné, Spinola se viu numa ilha num mar francófono...
Eu suspeitava :)
Nem era colonial nem era império, porque nem era uma coisa inglesa nem uma coisa portuguesa...
Aproveito e deixo uma frase do Gilberto Freyre que encontrei agora, ao buscar a 'lusofonia' para o Jesus Carlos:
"O Professor Salazar, com toda a sua inteligência, às vezes resvala no simplismo de falar, em discursos, de Portugal como 'bastião do Ocidente' no Oriente; o que não é; o que não deve ser" (Aventura e Rotina, Livros do Brasil, p. 50)
Infelizmente só agora tive oportunidade para vos responder! Mais vale tarde do que nunca...
Agradeço os contributos do Jesus Carlos em relação à indagação da origem do conceito de lusofonia e a pista, para uma eventual pesquisa, da emblemática obra "Portugal e o Futuro" do general Spínola como possível raiz de germinação ideológica.
Renato Epifânio, subscrevo inteiramente a tua posição actualista assente na concepção de Agostinho da Silva.
Casimiro Ceivães tens toda a razão! Aliás, Spínola chegou a encontrar-se como Governador da Guiné com Leopold Senghor. Aceito as tuas acepções terminológicas. Mas a História diz-nos que foram Armindo Monteiro e Henrique Galvão, através da propaganda dos anos 30, que relançaram os termos império e colónias ...
« ... No futuro, no quadro da lógica da Globalização do século XXI, antevista pelos portugueses desde as Descobertas marítimas quinhentistas, poder-se-à caminhar para a ansiada União Lusófona em que Agostinho da Silva tanto acreditava. ... »
Concordo consigo de forma geral .
O suposto suicídio de Mouzinho de Albuquerque continua por explicar .
Um tiro mata , o 2º já não é possível disparar ...
O grande Mouzinho de Albuquerque estava a ser muito incómodo no seu apoio ao Rei e como figura exemplar para a monarquia .
Há vários indícios que nos podem dizer que ele pode ter sido assassinado .
Por exemplo o facto do condutor da carruagem aonde apareceu morto , ter ficado rico , logo depois do ... "suicídio".
Até hoje , a casa aonde Mouzinho nasceu , nos arredores da Batalha , está ao abandono e quase em ruínas , quando devia ser preservada como homenagem a um dos heróis de Portugal .
A república cometeu muitos atentados ao longo destes 100 anos e , o miserável assassínio do Rei de Portugal , não foi o 1º.
Quanto aquilo que diz sobre a "Globalização" e que eu copiei , é absolutamente incorrecto .
Portugal e Toda a sua Missão e Projecto , NADA tem a ver com esta globalização ímpia que pretende erradicar fronteiras e insidiosamente , e maquiavélicamente acabar com as Nacionalidades , as Diferenças naturais (que fazem da Criação a glória e a beleza que é) , incluindo as Línguas , numa submissão esclavagista dos povos a um grupo de senhores da alta finança .
Por isso nada de confusões .
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