2. Se há países que são sobretudo um “bom negócio”, dado que proporcionam boas condições de vida aos seus concidadãos – e por isso se vêm a si próprios como empresas – um país como Portugal, que não nasceu em cima de um poço de petróleo, só terá futuro na medida em que recordar, todos os dias, o seu fundamento histórico-cultural. Sem que isso deixe de implicar, obviamente, na medida do possível, proporcionar as melhores condições de vida aos seus concidadãos. De resto, num país como Portugal a coesão social só pode derivar, em última instância, daí: do reconhecimento de uma destinação histórico-cultural comum. Na medida em que nos reconhecemos com comparticipantes de uma mesma destinação – ou seja, na medida em que nos reconhecemos como compatriotas – somos mais naturalmente justos e solidários uns com os outros.
3. Em Portugal, contudo, cada vez mais, os nossos políticos primam por não terem qualquer visão histórico-cultural do país. Sequer um vislumbre. E por isso olham para o país como uma mera empresa. Apesar de alguma retórica, que apenas serve que temperar os discursos mais pomposos, chegará o dia em que alguém dirá: enquanto mera empresa, Portugal faliu. E renascerá então a panaceia iberista: numa lógica puramente economicista, não há dúvida que estaríamos bem melhor se fossemos espanhóis.
4. A razão maior do impasse em que estamos deriva do facto de, para a generalidade da nossa classe política dominante – da dita esquerda à dita direita –, qualquer discurso sobre a nossa destinação histórico-cultural comum soar a “salazarismo”. Nada mais falso e equívoco. Se durante o Estado Novo houve gente que promoveu essa visão histórico-cultural do país, mobilizando as pessoas da cultura para o efeito – caso, por exemplo, do António Ferro –, o Estado Novo faliu porque, também ele, foi deixando de acreditar nessa visão, tendo-se cada vez mais afundado num beco sem saída, que apenas foi sustentando através da repressão.
5. Escreveu Fernando Pessoa que para a realização desse nosso destino “as colónias já não seriam precisas”. O Estado Novo acreditou até ao fim no contrário – e essa foi a sua perdição. O novo Estado saído da Revolução deixou de acreditar em destinações – em nome da liberdade, assegurou, solene. E por isso deixa que a política de cultura seja determinada pelo Deus-Mercado – no tempo do mais reles relativismo, que mais vende, vence.
6. Quem melhor percebeu o Pessoa foi Agostinho da Silva. E por isso prefigurou, já há mais de meio século, a constituição de uma “comunidade lusófona”, pós-colonial, numa base de liberdade e fraternidade. Eis a nossa destinação. Que tal ainda não esteja na moda, que tal ainda não venda, pouco importa. A História tem o seu tempo próprio. E o seu tempo chegará. Bem mais depressa do que se julga. Vai uma aposta?
2 comentários:
O Bar do Ossian expressa aos amigos do Movimento Internacional Lusófono um Feliz e Sagrado Dia do Sol Invicto!
Abraço lusitano!
A Redacção
Aposto mas do teu lado.
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