Fotograma do filme The Fall of the Roman Empire, Anthony Man, 1964
Após a inutilidade da Cimeira Ibero-Americana (pouco mais que um encontro de amigos, em que nada de politicamente consequente foi determinhado nem para as Honduras, nem para a Colômbia e muito menos para a Venezuela, cujo presidente nem esteve presente), eis que a demissão de Connie Hedegaard vem demonstrar a inutilidade da conferência climática das Nações Unidas de Copenhaga, que terminará amanhã, sem que nada de facto relevante venha a ser decidido; o terceiro mundo, em vias de industrialização, com a China à cabeça, não se pode dar ao «luxo» de reduzir emissões de CO2, e os países mais ricos, acomodam-se ao apontar de dedo norte-americano à China e ao terceiro mundo, responsabilizando-os, e desviando a água do seu capote.
Duas questões relevam desta situação em termos de conteúdo político.
1. A responsabilidade humana pelas alterações climáticas é um dos maiores mitos das duas últimas décadas, que, à medida que cada vez mais cientistas se insurgem contra a patranha moral ao serviço de um novo milenarismo religioso (que mais não expressa que paranóia colectiva em relação a um futuro que a civilização já não divisa), cada vez menos pode fundamentar posições políticas e mascarar o verdadeiro intuito económico destas cimeiras: o controlo do desenvolvimento económico do terceiro mundo por parte dos países mais ricos.
2. Não há estruturas transnacionais que funcionem se não for criada uma «cidadania imperial», que se coloque acima das cidadanias nacionais.
A reflectir e a desenvolver...
K. N.
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5 comentários:
Excelente introdução a um conjunto grande de questões.
Ponho mais achas na fogueira:
3.º ponto para reflexão: os poderes políticos do mundo não têm competência (técnica), nem poder, para gerir ao mesmo tempo, conjuntamente, as alterações climáticas (irrelevantemente de origem humana ou não) e as alterações económicas. Talvez um governo mundial pudesse gerir melhor certos aspectos - tem sido essa a ambição do proto-império americano.
4.º ponto para reflexão: a forma mais fácil de império é o pseudo-império da burocracia (ao estilo de "Bruxelas"). A alternativa tem sido a "democracia", ideia cujos limites têm sido permanentemente testados ao longo do séx. XX, com um sucesso inversamente proporcional ao do entusiasmo dos "cidadãos" pelo imediato.
5.º ponto para reflexão: três das quatro ou cinco potências mundiais emergentes - China, Índia e Brasil - estão a comportar-se como 'impérios relutantes': minimizam a influência política global (a não confundir com a 'popularidade' dos chefes, como se dá com Lula da Silva) enquanto acumulam 'riqueza' que lhes permita evitar colapsos sociais e 'impor' a sua presença por via económica num mundo globalizado. É difícil achar essa estratégia imprudente; mas significa que, para além dos actores tradicionais (EUA, Europa e Japão) impulsionadores da 'abertura dos mercados', também estes novos fazem pressão na mesma direcção. Conclusão: ainda que fosse possível (do que duvido) travar a 'expansão' da economia sem risco seriíssimo de colapso, nenhum grande poder está em condições sequer de imaginar fazê-lo.
6.º ponto para reflexão: qual é o limite da Dubaização do mundo, e que império pode imperar sobre uns hipotéticos sete ou oito biliões de consumidores desenfreados? (mas - queremos que 'eles' enriqueçam, ou não?)
Abraço!
Eu estou perplexo em relação ao aquecimento global antropogênico.
Neste blogue mostro 3 vídeos. Cada um com a sua posição. Nada me convenceu até agora...
http://blogues.ligalusofona.net/aquecimentoglobal/
Eu penso, Paulo, que quem não tenha formação científica bastante especializada nem sequer pode aspirar a seguir a discussão, quanto mais a tomar partido. A mesma coisa acontecia, nos anos 60/70, com os partidários e opositores da energia nuclear: as discussões estritamente científicas eram incompreensíveis por natureza.
A meu ver isso levanta um novo tipo de problema político (não científico) que só costumava aparecer em obras de ficção científica: a posição mais prudente é a de admitir a dúvida, ou seja, que não está definitivamente provada qualquer das teses - embora uma tese que afirma uma causalidade seja por natureza mais frágil do que uma tese que simplesmente a nega, sem ter que apresentar uma causalidade alternativa. O problema político, então, é o de decidir numa situação de incerteza.
Vou simplificar isto extraordinariamente: admitamos que há 10% de hipóteses de os defensores da tese antropogénica estarem certos; será insuficiente para o ignorar? Precisaríamos de 90% de certeza? 99%? 100%?
Agora vejamos as consequências (sem falar do verdadeiro problema, o dos custos económicos da solução): se nada se fizer, temos uma determinada probabilidade de colapso (os tais 10%) e uma outra de normalidade; se tudo se fizer, reduzimos as probabilidades de colapso e em qualquer caso temos um mundo menos sujo.
Se nos disserem que o automóvel em que vamos viajar tem 10% de probablidades de explodir, provavelmente arranjamos um transporte alternativo sem sequer pensar duas vezes... mas este exemplo não é aplicável a um problema global como o do clima, e precisamente por causa da questão dos custos.
O que os "países ricos" estão a tentar dizer veladamente é que a adopção de medidas fortes de prevenção ambiental aumentaria as probabilidades (que já não são negligenciáveis hoje) de colapso económico: ou seja, que já não é possível, sem grande risco, abandonar o modelo financeiro de "desenvolvimento". Provavelmente, dentro da lógica do sistema, estão certos. Sublinho "dentro da lógica do sistema".
Uma questão importante é a de que o facto de se vir a concluir indubitavelmente que as alterações climáticas não são de origem antropogénica não resolve por si o problema - embora nos dispense de uma das soluções, o combate às emissões de CO2.
Nada ou quase nada de sério está a ser feito para ao menos avaliar a sério o alcance que essas alterações poderão ter dentro de uns 20 anos. Há uns milénios atrás houve várias grandes alterações na Europa - mas então bastou levantar as tendas e deslocar os rebanhos.
Se Lisboa for daqui a uns anos, como prevêem alguns técnicos, um lugar que pode ser atingido, todos os anos, por furacões tropicais, convinha começar a reagir já. (Esta possibilidade foi avançada por técnicos estrangeiros que estiveram cá há uns dois anos atrás... num colóquio organizado pelas grandes seguradoras - não se tratou de um meeting de jovens anarquistas...)
Para a estupidez e o fanatismo todos os argumentos não chegam...
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