A corrupção vigora porque há corruptos e corruptores; e, inocentes úteis que ajudam esses corruptos a chegar ao poder, no caso, nós.
Se tivéssemos mais cuidado ao escolher nossos representantes , tal situação inexistiria.
Mas, o fato é que nos vendemos,somos sócios da corrupção. Os mais humildes e desinformados se vendem por um quase nada: umas telhas, uma vista grossa do fiscal para poder construir barracos em zonas de risco, uma dentadura, dez reais, uma cesta básica, um vestido usado.
Já a classe média, se vende por uma vaga numa boa escola para seus filhos, um emprego melhor para o marido, um estágio, a rápida liberação de documentos importantes, uma “palavrinha” ao juiz naquele caso do seu filhinho pegado com maconha (um inocente, deputado, os outros o levaram a isso, diga ao juiz!)
A amizade – pasme – também induz à corrupção, do voto, bem entendido. Aquele amigo do colégio que disputa uma eleição, olhe amiga, estou às ordens, se precisar de alguma coisa... E quem não precisa!?
Ou o parente da mulher que não deu prá nada, mas, quer ser vereador.
No caso dos adolescentes que podem votar muito cedo o que vigora é a beleza. Collor foi eleito também por causa disso; e, não só pelas adolescentes. Respeitáveis matronas bem casadas se empolgavam com o candidato galã. Bonito e rico. E apoiado pela Globo. É a glória! A classe média não recusaria esse paraíso.
Portanto, vamos seguir o conselho bíblico;antes de enxergar o argueiro nos olhos do nosso irmão, examinemos o nosso.
Arruda e todos os outros estão lá porque alguém os pôs. Não podemos fingir que não somos responsáveis.
Eu sou favorável ao voto identificável. Voto com nome, RG e CPF; eu confesso que gostaria de saber quem votou em quem;quem são as formiguinhas que destroem a estrutura desse pais. E por quais motivos.
Para terminar, peço ajuda ao meu conterrâneo, Gregório de Matos, o Boca do Inferno:
“Que falta nesta cidade?...Verdade
Que mais por sua desonra?... Honra
Falta mais que se lhes ponha...Vergonha.
O Demo a viver se exponha,
Por mais que a fama exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, Honra,Vergonha.
Quem a pôs nesse socrócio?... Negócio
Quem causa tal perdição?... Ambição
E o maior dessa loucura?... Usura.
Notável desventura
De um povo néscio e sandeu
Que não sabe que o perdeu
Negócio. Ambição. Usura.
E que a justiça a resguarda?... Bastarda
É grátis distribuída?...Vendida
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda. Vendida. Injusta
A Câmara não acode?... Não pode
Pois não tem todo o poder?
Não quer
É que o Governo a convence... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre
Por ver-se mísera e pobre
Não pode, não quer, não vence.
N. A.: Socrócio: palavra inventada pelo poeta para rimar com negócio, provavelmente derivada de socrestar (furtar, rapinar).
Sandeu: parvo, idiota.
OBS: Leia a “Antologia” de Gregório de Matos Guerra, publicada pela L&PM Pocket. É baratinho e vale uma missa (como diria Hemingway).
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