Traição a Viriato, ilustração de Carlos Alberto Santos, in História de Portugal, Agência
Portuguesa de Revistas, &c, Lisboa, 1968
O Nome de Viriato
Esta interpretação, já defendida por J. Leite de Vasconcellos em vários passos da sua obra, e que é hoje corrente, foi ainda recentemente retomada por L. Pérez Vilatela (2000, p. 263), invocando a importância do braço armado como um conceito fundamental na ideologia de muitos povos antigos, evidenciada, por exemplo, entre os ingleses que esqueceram a palavra originária para designar o braço, substituindo-a por uma metonímia do instrumento por ele manejado, os arma latinos, o arm inglês.
À viria assinalada por C. Plínio corresponderia, assim, uma etimologia que conviria particularmente ao carácter de Viriato: deriva de *uer- *wiro, ou seja, o radical indo-europeu que dá origem à palavra latina vir, presente na palavra «varão», «homem», e de que deriva precisamente a virtus latina, qualidade que abundava em Viriato. […]
Armando Coelho Ferreira da Silva, O Nome de Viriato, in Portvgalia, vol. XXIV, Porto, 2003, pp. 45-52.
5 comentários:
O que coloca a interesante questão:
seria "viriato" um antropónimo ou...
um título?
Interessante!
O braço é uma arma... agora vejo porque é que os deputados levantam muitas vezes os braços...
Abraço.
Caro amigo,que bela lição de História.E,que prato delicioso p/uma amante da História lusa,como eu.
Texto ***** estrelas. Abraços
Antropónimo é o termo (nome) com que se designa alguém. «Viriato» é um antropónimo que é um título ou alcunha (neste caso «nome de guerra», o que iria dar no mesmo).
Terá havido altura em que «viriato» designaria qualquer guerreiro lusitano; mais tarde teria passado a designar os chefes, ou os guerreiros muito valorosos, o que na estrutura política lusitana daria no mesmo: (por tópicos) não seria dinástica; o que demonstra valor na batalha torna-se chefe (as origens de Viriato são humildes); em tempo de paz não há um chefe político; o conselho de anciãos comanda a sociedade tribal; o valor dado pelos lusitanos aos cabelo - longo - (pentes de ferro encontrados em todos os túmulos) faz pensar na «tonsura» (cortar o cabelo a um chefe leva-o a abdicar, como nos Godos - hipótese minha).
Questão linguística: tudo isto chegou até nós por transmissão latina; e à época não existe modo científico de enquadrar a diferença cultural; os romanos «entendem» o bárbaro «romanizando»; encontrando semelhanças à sua cultura e privilegiando essas. Apesar de muita toponímia a antroponímia de raiz céltica, os Lusitanos não são Celtas, e não falariam língua céltica, mas sim língua do tronco germânico, ou germânico-eslavo, iberizada, contendo imensos termos celtas.
Lusitanos (por tópicos): não são autóctones; migração pouco posterior à primeira migração céltica; alguns autores defendem serem provenientes da Suíça; defendo que de zona fronteiriça à Gália; povo culturalmente «mestiço», como os Belgae; Germânicos de raiz (ou Eslavos fixados na fronteira com a Gália; os próprios Godos são meio Eslavos, origem nos Geto-Dácios), mas celtizados; tal como aos Belgae, aos Lusitanos os intelectuais romanos chamam-lhes «célticos» e não Celtas, designação usual referida a germânicos mais civilizados).
Os Lusitanos terão expulso os Celtas para o Alentejo, onde os Romanos os situam no nosso território, e em nenhuma outra parte (aos Calaicos do norte nem os consideram humanos, simples selvagens).
Traços germânicos dos lusitanos (por tópicos): importância do cabelo nos guerreiros (quase religião de virilidade); trajarem de negro (nada céltico; mulheres vestem muito colorido - incomum; traço eslavo?); «confraria» militar; iniciações, etc; armamento lusitano é superior ao romano (gládio lusitano é adoptado pelas Legiões, substituindo o gládio grego); quem são os ferreiros lusitano? existem? ou cada guerreiro fabrica o seu armamento? exemplo: as trágulas; o guerreiro leva as pontas de dardo em forma de anzol no cinto; chegado ao local de batalha corta varas de madeira e monta o dardo; estes dardos são de uma aerodinâmica mortal (nós não faríamos uma única vara destas!); cultura do ferro, claro, mas do ferro temperado? segredo do «aço»?. A guerra a cavalo; os Celtas combatem a pé e com carros de combate, só muito tardiamente a cavalo, e nunca com eficácia; só germânicos e eslávicos o fizeram com eficácia no ocidente europeu (mais tarde os Árabes); as tácticas lusitanas («matilha», «toca e foge», imitação do comportamento das alcateias); as 4 armas, táctica de carga de cavalaria e posterior combate de infante, táctica (mais eslava que germânica, e nunca o machado): 1. trágulas: arremesso dos dardos em galope; 2. lança (inteiramente de ferro): perfura no momento do embate, ou é lançada com o cavaleiro parado; 3. falcata (a arma de «destruição massiva» dos Lusitanos): espada curva mediterrânica, de origem médio-oriental; arma de «bater/golpear», como um machado e não de esgrima; ponto de gravidade da lâmina descentrado para a 3ª parte final da lâmida, o que aumenta o peso/força do embate; única espada que rompe couraças, elmos e escudos das Legiões (com direito a temor profundo e alcunha por parte dos legionários: «rebenta crânios»); 4. gládio curto (e ainda um punhal de recurso) e escudo, pequeno, redondo, para o combate corpo-a-corpo; gládio, calibrado a meio da lâmina, arma de esgrima; escudo, também de esgrima, mais desvia que protege, o espeto de ferro ao meio é arma; manejado na lógica do par «espada e punhal», a mesma que aplicariam ao combater de gládio e punhal.
Esta táctica de cavaleiro e infante é tipicamente germânico-eslava, e remete para o fundo mais primordial e mistérico dos povos originários proto-arianos, de tribos semi-nómadas, de guerreiros pastores.
Abraço MIL.
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