O embaixador chinês em Brasília disse que China e Brasil “não devem estar satisfeitos com o estado actual da cooperação” e descreveu a adesão brasileira a um importante programa da política externa chinesa como “fundamental”. Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, Zhu Qingqiao, que participou num evento do Conselho Empresarial Brasil – China, em São Paulo, na véspera do 50.º aniversário das relações entre os dois países, defendeu que a inclusão do Brasil na Iniciativa Faixa e Rota seria uma “demonstração de estabilidade” na “relação de cooperação de longo prazo”. As empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias, centrais eléctricas e outras infraestruturas em todo o mundo, numa tentativa de impulsionar o comércio e o crescimento económico. O programa cimentou também o estatuto da China como líder e credora entre os países em desenvolvimento. O Brasil tem, no entanto, enviado apenas diplomatas de baixo escalão para participar nos fóruns em Pequim, contrastando com vários dos seus países vizinhos, que se fizeram representar por chefes de Estado ou de Governo. “A adesão poderia trazer benefícios mútuos e facilitar a identificação de sinergias entre a procura brasileira e os interesses chineses nos setores mais estratégicos”, afirmou o embaixador. “Acreditamos que a iniciativa é altamente consistente com a estratégia de desenvolvimento do Governo de Lula da Silva, como os planos de reindustrialização, as rotas de integração sul-americana e o projeto de aceleração do crescimento”, acrescentou.
Na América do Sul, apenas Brasil, Colômbia e Paraguai ainda não aderiram à iniciativa de Pequim. Em particular, as autoridades brasileiras procuram financiamento para obras que ajudariam o Brasil a conectar-se com o Oceano Pacífico, especialmente o porto de águas profundas em Chancay, no Peru, que foi construído com financiamento chinês e deve ser inaugurado em Novembro. “Penso que as empresas chinesas estão muito interessadas em envolver-se de alguma forma” na ligação do Brasil a Chancay, explicou o embaixador chinês, citado pelo SCMP. A crescente influência da China no Brasil e na América Latina tem, no entanto, levado a advertências por parte de Washington. Em Maio passado, a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, em visita ao Rio de Janeiro para exercícios militares conjuntos, disse à imprensa local que “as democracias do Brasil e dos Estados Unidos partilham uma história de 200 anos, enquanto a parceria com a China tem apenas 50 anos”. “Como democracias, respeitamo-nos mutuamente. Respeitamos a soberania uns dos outros”, disse. “Respeitamos os povos uns dos outros, as democracias, o que não acontece com um país comunista porque eles não respeitam os direitos do seu próprio povo”, frisou. Richardson alertou que Brasília terá de prestar atenção às “condições impostas” por Pequim, no âmbito de uma possível adesão à Iniciativa Faixa e Rota. “O que aprendemos é que a iniciativa parece muito boa na superfície, mas há muitas letras miúdas”, acrescentou. “É preciso ler as letras miudinhas para ver todas as condições e como a soberania é retirada ao longo do tempo se os empréstimos não forem reembolsados e coisas do género”, alertou. Em resposta, a embaixada chinesa acusou Richardson de “adotar uma mentalidade típica da Guerra Fria” e de seguir uma “lógica hegemónica”. In “Ponto Final” - Macau
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