O quarto desses textos intitula-se “Perspectivas” e resulta da
comunicação apresentada em 31 de Maio de 1968 à reunião conjunta da Academia
Internacional da Cultura Portuguesa e do Conselho Geral da União das
Comunidades da Cultura Portuguesa. Nele, na esteira dos textos anteriores,
chega inclusivamente, Agostinho da Silva, a prefigurar a dissolução de Portugal
na República Federativa do Brasil, o que, no na sua perspectiva, “não
significaria que Portugal estava alienando a sua independência, mas que estava
ajudando o Brasil, que é o melhor de si mesmo, a alargar-se no mundo, dando-lhe
um desembarque na Europa”. Este gesto, como salientava na altura, “poderia
levar a Guiné, Moçambique e Angola a ligarem-se ao Brasil; poderia levar
[ainda] a uma revisão do estatuto de Goa e a encontrar solução para o problema
de Macau e Timor”.
O
quinto e último desses textos, sem título, foi publicado no periódico Notícia, em 1971. Nele, reitera-nos,
Agostinho, a sua peculiar visão do Brasil – nas suas palavras: “…se ainda
estivéssemos em tempo de impérios se poderia, desde agora mesmo, ver Brasília
como a futura capital do mundo; como não estamos, [que] a vejamos apenas como o
símbolo daquela Paz que talvez Portugal pudesse ter estabelecido a partir do
século XVI se não tivesse cedido a Maquiavel, apesar de tanto protesto de seus
melhores homens, e não tivesse acreditado em que os meios podem ser de natureza
diferente dos fins que se querem atingir: a Paz falhou porque, para a ela
chegarmos, nos confiámos iludidos aos demónios da guerra. Que oxalá no Brasil,
exorcismados [sic], morram.”. Uma vez
mais, defende pois Agostinho que Portugal se cumprirá no Brasil. Ainda nas suas
palavras, “o Brasil será o Portugal que não se realizou”. De tal forma que,
como escreveu enfim, “o Brasil é Portugal, não irmão ou filho de Portugal, mas
Portugal mesmo”. Eis, em suma, a sua visão do Brasil.
*
Sampaio Bruno – nome literário
de José Pereira de Sampaio (1857-1915) – foi, decerto, uma das figuras
matriciais do pensamento português contemporâneo. Álvaro Ribeiro chegou
inclusivamente a considerá-lo como “o fundador da filosofia portuguesa”
– o “fundador”, não o “criador”, como fez questão de ressalvar: “Ao dizermos
que o ilustre pensador de A Ideia de Deus
foi o fundador da filosofia portuguesa, aludimos à precisa acepção de fundamento, extraída da terminologia da
arquitectura civil. Fundar e fundamentar são verbos análogos em plano inferior
de imaginação. Longe de nós o intuito de afirmar que foi Sampaio Bruno o
criador da filosofia portuguesa, porque não confundimos o pensamento com a
palavra interior e exterior que encarna e corporiza. Afirmamos, sim, que
devemos a Sampaio Bruno o descobrimento das características da filosofia
portuguesa, pela distinção entre filosofia (étnica)
e filosofia internacional (escolástica),
e as obras da nossa arte de filosofar.”.
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