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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).

Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Entre Paulo Freire e Manuel Ferreira Patrício

 

Paulo Freire (1921-1997), figura de referência da Filosofia da Educação no Brasil, não tem tido em Portugal um muito significativo eco. Exemplo disso é a sua muito reduzida presença na obra de Manuel Ferreira Patrício (1938-2021), provavelmente, para não dizer certamente, a figura mais relevante da Filosofia da Educação em Portugal na segunda metade do século XX. Com efeito, ao lermos os seis grossos volumes das suas Obras Escolhidas, recentemente editadas (coord. de Renato Epifânio e Samuel Dimas, Ed. MIL, 2021), verificamos que as referências de Manuel Ferreira Patrício a Paulo Freire são muito escassas – e não por Manuel Ferreira Patrício não conhecer a obra de Paulo Freire.

Atentemos num desses exemplos: um conjunto de textos redigidos nos finais dos anos 80, coligidos sobre o título “A Libertação do Homem” (in vol. I, pp. 141-179). Na primeira da obra, intitulada “A Libertação do Homem e a Filosofia”, começa Manuel Ferreira Patrício por escrever: “O tema da libertação do homem é bem antigo. Encontramo-lo, por exemplo, no Antigo Testamento. É o tema nuclear do Novo Testamento. O mito de Prometeu é o mito da libertação do homem, trazida por um deus do Olimpo através da doação do fogo. A alegoria platónica da caverna é mais uma versão do anseio do homem pela sua libertação. Toda a filosofia sapiencial, de Pitágoras a Plotino, de Agostinho a Malebranche ou Espinosa, de Avicena a Ibn Arabi, de Fichte ou Schelling a Heidegger, é uma filosofia da libertação do homem.”.

De igual modo, como logo de seguida acrescenta, “toda a filosofia materialista, de Demócrito a Feuerbach e de Feuerbach a Marx, é uma filosofia da libertação do homem”. Mas não, claro está, acrescentamos agora nós, da mesma maneira. No caso da corrente em que Manuel Ferreira Patrício insere Paulo Freire – a da “pedagogia da libertação” –, podemos questionar se essa libertação aí em causa não será demasiado curta. Eis, precisamente, a questão a que Manuel Ferreira Patrício procura responder, analisando sucessivamente o “paradigma platónico da libertação do homem”, “a libertação do homem em Espinosa: da escravidão imposta pelas paixões ao amor intelectual de Deus”, “o problema da libertação do homem em Kant”, o “sentido e conteúdo da ‘libertação do homem’ no quadro da filosofia utilitarista de Jeremias Bentham”, o “sentido e conteúdo da ‘libertação do homem’ no quadro da filosofia utilitarista de Stuart Mill”, “a libertação pela filosofia no pensamento de Edmundo Husserl” e, finalmente, a “defesa da utilidade da filosofia por Epicuro”.

Tudo isto para concluir: “Na época contemporânea W. Dilthey compreendeu, talvez melhor do que qualquer outro filósofo, a pureza da concepção platónica da filosofia: a filosofia encontra a sua culminância na plena formação do homem, ou seja, na plenitude da entrega do homem a si próprio. A filosofia culmina, portanto, na antropagogia. Pela antropologia, o homem conhece-se a si mesmo; pela antropagogia, aperfeiçoa-se e cumpre-se no seu ser, à luz do conhecimento que tem de si mesmo./ Esta é uma ideia platónica. Platão continua a ser o lugar filosófico de todos os ‘regressos’. O ‘regresso’ que hoje se impõe é um regresso aberto e não totalitário ao grande filósofo de Atenas. Nos dois últimos milénios e meio numerosos têm sido, no fim de contas, os seus discípulos, mesmo quando explicitamente o renegam. Por outro lado, talvez seja preciso negá-lo em parte da letra, para o afirmar na plenitude do espírito. É que não poderá haver libertação sem liberdade, nem racionalidade universal assente no esmagamento das nacionali­dades particulares e singulares” (ibid., pp. 155-156).

Ou seja, em suma: para Manuel Ferreira Patrício, a “pedagogia da libertação” prefigurada por Paulo Freire é demasiado curta, sobretudo por partir de uma grelha marxista em que os factores materiais e sociais se sobrepõem a todos os demais – em particular, aos de ordem cultural. Ora, na dialéctica freiriana do opressor e do oprimido, ignora-se que a cultura do opressor pode servir para nos elevarmos, sendo assim, em última instância, libertadora. Apenas um exemplo: quando o Império Romano se estendeu à Península Ibérica, ele foi decerto “opressor”, como todos os Impérios. Culturalmente, porém, o Império Romano promoveu um salto qualitativo, de que ainda hoje somos tributários. Estulto seria hoje, por uma póstuma consciência de opressão, renegar todo esse legado. Manuel Ferreira Patrício, decerto, não o procurou fazer, bem pelo contrário, dada a primazia concedida à Cultura, como já tivemos a oportunidade de salientar: “Há pois uma absoluta coerência em Manuel Ferreira Patrício, na sua vida e no seu pensamento – a primazia dada à Cultura determina as suas posições quanto à Escola e à Educação, as suas posições filosóficas e, inclusivamente, as suas posições políticas: caso do seu assumido não-marxismo.” (in vol. V, p. 7).

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