Fonte: Moncho Rama.
Desde 1980, ano de reforma de Ricardo Carvalho Calero, houve gente interessada em situar a sua figura num exílio interior ou ostracismo, situação que seria agravada na sequência do seu falecimento em 1990.
São conhecidas as contradições e pressões que, até hoje, impediram a RAG declará-lo protagonista do Dia das Letras Galegas. Não é, pois, brincadeira afirmar que o primeiro docente de língua e literatura galegas na Universidade de Santiago, o pai linguístico de várias gerações, foi vítima dum interessado esquecimento. Ele mesmo definiu essa realidade: “…certas elites entendem que não devem destacar a personalidade dum dissidente… e que nem como académico nem como pensador sobre os problemas culturais da nossa terra atinjo a altura que eles assinalam”.
Com certeza, nessa xenreira influiu decisivamente o facto de dom Ricardo defender que o nosso idioma forma parte do sistema linguístico galego-português, opção diferente, portanto, da oficial. Mas também a sua exemplar dignidade pessoal, a sua independência cívica e a sua coerência frente os que, como ele escreveu, o deixaram só, “fundando uma colónia com o mesmo nome”. Nesse sectarismo persistiram até há uns dias.
Não obstante, em diferentes lugares do país, também houve atividades diversas encaminhadas a reivindicar a figura do professor Carvalho Calero. Em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2018, montaram-se em Ferrolterra comissões encaminhadas a promover a concessão das Letras Galegas a Carvalho Calero, que conseguiram, em todas as ocasiões, abundantes apoios institucionais, associativos e particulares. Recolheram-se sinaturas, organizaram-se recitais, conferências, exposições… para que lhe fosse dedicado o Dia da nossa língua e cultura a dom Ricardo, “esgrévio” galeguista que ao longo de mais de sete décadas desenvolvera um imenso labor poético, narrativo, ensaístico, jornalístico, académico, linguístico, docente e político em prol da Galiza, da nossa língua e da nossa cultura. Porém, a Real Academia Galega nunca tomou em consideração positiva a proposta. Sempre apareceu algum senão que lhe apor.
Neste junho de 2019, tanto quem na RAG sempre defenderam a figura de Carvalho de Calero como quem a ele se opunham, vão propor as Letras Galegas 2020 para dom Ricardo, um gigante num país de muitos anãos. Avaliamos como muito positiva esta decisão e fazemos votos para que a sociedade ferrolana e a Galiza inteira tirem o máximo proveito desta circunstancia.
Porém, afirmamos que o pensamento e obra de D. Ricardo vai além do Dia das Letras e convidamos os nossos cidadãos a seguir reivindicando-o. O nosso contributo será a publicação Hei entrar no meu povo. Reivindicarmos Carvalho Calero, livro que, da mão da editorial Embora, verá a luz em breve.
Ferrolterra, quinta-feira 20 de junho do 2019
Xosé María Dobarro, Xosé Manuel Pazo, Bernardo Máiz, Vitor Santalha
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