Díli - Um dos responsáveis de um projeto de criação de uma companhia aérea timorense defendeu hoje que Timor-Leste pode ter uma transportadora pública em três meses para combater o isolamento e os monopólios indonésio e australiano.
"Uma empresa timorense daria opções vantajosas ao país", disse à Lusa Pedro Miguel Carrascalão, especialista do setor aéreo e um dos responsáveis de um novo projeto apresentado ao Governo para a criação de uma companhia de bandeira timorense.
"Podemos resolver os problemas de preços, baixando o preço das viagens para a Indonésia e Austrália, e ganhamos mais autonomia", disse, numa referência aos custos, que considerou "desproporcionadamente elevados", mantidos pelas companhias aéreas da Indonésia e da Austrália.
Para Carrascalão, uma empresa "100% do Estado" é a melhor opção porque teria mais força do que uma empresa privada para competir na Indonésia, o principal mercado, com as empresas da transportadora estatal Garuda que voam para Díli.
Essa aposta daria opções de rotas a horários diferentes dos atuais, ligações a centros regionais, viagens de ida e volta e até voos com outras empresas em 'code sharing'.
Na proposta apresentada ao Governo, esta estratégia poderá ter um custo de até 45 milhões para o Estado "com as receitas a poderem chegar aos 80 milhões", com impacto amplo na economia timorense, indicou.
"É um negócio muito viável para o país e que dá um retorno grande, não apenas na companhia aérea, mas noutros setores. O objetivo do Estado deve ser facilitar as infraestruturas aéreas. Se os preços ficarem mais baratos as pessoas viajam para cá e gastam dinheiro em hotéis, restaurantes, no resto da economia", disse.
Para que o processo arranque, Timor-Leste deve iniciar "de imediato" o processo para a obtenção de um Certificado de Operador Aéreo (AOC, sigla em inglês), afirmou.
"A melhor solução é ter uma empresa 100% pública com o setor privado a fornecer serviços. Não há uma ilha aqui na região que não tenha os seus próprios aviões", disse Pedro Miguel Carrascalão.
"A Samoa tem aviões com ligações até à Austrália e à Nova Zelândia. A Fiji até voa para os Estados Unidos. Não faz sentido Timor-Leste não ter a sua soberania", sublinhou.
O mecanismo de menor risco é optar por um aluguer de aviões com tripulação, manutenção e seguros ("wet lease"). A segunda escolha é alugar aparelhos sem tripulantes ou demais aspetos ("dry lease"), e a terceira opção seria comprar aviões próprios e assumir a responsabilidade por todos os outros custos, acrescentou.
Nos últimos anos, Timor-Leste tem ficado progressivamente mais isolado nas ligações aéreas, dependendo de três monopólios de companhias exteriores e sem qualquer soberania no setor da aviação.
"O Governo achou que isto não era uma prioridade e deixou passar. Ficou muito dependente deste sistema e agora que os preços começaram a subir percebeu o impacto", referiu.
As empresas que ligam Díli à Indonésia "cobram preços de companhia aérea normal, mas com serviços 'low cost'", impedindo os passageiros, por exemplo, de fazer 'check-in' de bagagem de Díli até ao destino final, destacou.
A situação agravou-se por indecisões das autoridades timorenses que levaram a Singapore Airlines a anunciar o fim do contrato com a Air Timor, que a 30 de março vai realizar o último voo com aparelhos 'charter' da SilkAir.
Com um monopólio, desde 1999, na ligação a Darwin, a AirNorth, da gigante australiana Qantas, continua a manter preços por quilómetro especialmente elevados.
Para abril, o preço indicativo de uma viagem de ida e volta Díli-Darwim (722 quilómetros para cada percurso) é superior a 600 dólares americanos (cerca de 530 euros). No mesmo período, um voo de ida e volta entre Darwin e Singapura (3350 quilómetros para cada percurso) custa perto de metade.
A ligação com a Indonésia depende igualmente de um monopólio, neste caso, do grupo Garuda com as marcas Citilink e Sriwijaya. Nos últimos seis meses, os preços dos voos destas transportadoras mais do que triplicou, forçando muitos em Timor-Leste a procurar alternativas mais baratas para sair do país.
Uma viagem ida e volta entre Díli e Denpassar, capital de Bali, (1.140 quilómetros cada percurso) custa mais de 590 dólares, enquanto um voo entre Kupang, capital de Timor Ocidental, e Surabaya, segunda maior cidade indonésia, (1236 quilómetros cada percurso) custa apenas 150.
Isso significa que o preço por quilómetro e por lugar Díli-Bali é de 26 cêntimos, 20 cêntimos mais que os seis cêntimos entre Kupang-Surabaya.
A alternativa envolve uma longa viagem de carro (que pode chegar às 14 horas) até Kupang, e daí apanhar um avião até Bali, ou viajar de carro entre Díli e Atambua, próximo da fronteira, apanhar um avião para Kupang e um segundo até Bali.
"Nenhuma das empresas tem que mudar preços ou serviços porque Timor-Leste não tem alternativas. Se quiserem agora aumentar para mil dólares podem fazê-lo", alertou. In “Sapo Timor-leste” com “Lusa”
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