Na continuidade das duas anteriores colectâneas desta
série, editadas em 2010 e 2015, apresenta-nos, agora, Renato Epifânio o
terceiro volume de A Via Lusófona: um novo
horizonte para Portugal, em que prossegue a sua persistente campanha para
uma compreensão futurante do mundo de língua portuguesa e do papel que poderá
desempenhar ao nível global, proposta cuja pertinência e actualidade os
acontecimentos a que estamos a assistir vêm tornar mais evidentes.
Tal como os dois volumes que o precederam, este
terceiro tomo de A Via Lusófona, no
seu conteúdo heterogéneo – votos, breves apontamentos, reflexões, pequenos
ensaios, comentários de actualidade, intervenções cívicas e culturais – e sob
uma aparente ou real diversidade, vem a constituir como que uma singular forma
de diário, mais cívico do que
estritamente pessoal ou centrado na subjectividade do autor, ao qual se
encontra subjacente uma atitude intelectual de serena e inteligente compreensão
que, no entanto, não o impede de assumir, tantas vezes isoladamente ou em
contra-corrente, com argumentada firmeza, as suas posições ou de expor e
defender as suas teses.
Inspirado na visão de Agostinho da Silva sobre o
futuro do mundo lusófono e atento à alta lição especulativa de José Marinho e
ao sentido sófico da interrogação, que deve preceder e acompanhar toda a acção,
Renato Epifânio, há mais de um decénio, vem dedicando, com persistente
diligência e entusiasmo, a sua rara capacidade organizativa e o seu sentido de
missão cívica e patriótica, ao fortalecimento dos laços espirituais, culturais,
históricos e afectivos entre as diversas parcelas dispersas do mundo lusófono,
da Galiza ao Brasil, do Cabo Verde a Macau, de Goa a Malaca, propugnando e
agindo na via da constituição de uma futura efectiva comunidade dos povos e
regiões de língua portuguesa, enriquecida, criadoramente, pela convergente e
complementar diversidade das várias culturas que a integram e nela se exprimem
e pensam, bem como do estabelecimento de uma cidadania lusófona que daquela seja, a um tempo, o prenúncio e o
suporte.
Sabendo aliar a dimensão visionária e futurante a um
lúcido sentido do real e do possível, uma invulgar capacidade de congregar
inteligências e vontades e uma não menor capacidade de dar expressão literária
clara e rigorosa aos seus projectos e ideias, a calma e afabilidade à convicção
e firmeza, Renato Epifânio tem conseguido dividir-se, com discreta eficácia,
por múltiplas iniciativas, da presidência do MIL: Movimento Internacional
Lusófono à direcção e divulgação da revista NOVA
ÁGUIA, da activa participação na direcção do Instituto de Filosofia
Luso-Brasileira – e também enquanto membro integrado do Instituto de Filosofia
da Universidade do Porto – à organização de colóquios, encontros e conferências
e à realização e promoção de edições.
Se as condições altamente negativas que, devido a
políticos tacanhos e medíocres, nos últimos anos, foram criadas à investigação
no domínio das Humanidades, e, de modo particular, no da Filosofia, têm
impedido Renato Epifânio de prosseguir predominantemente por essa via, de que,
no presente volume, o breve ensaio Entre
ser e sentido é ilustrativo exemplo, devemos congratularmo-nos por ter
sabido fazer de uma situação adversa uma possibilidade de exercitar outras das
suas capacidades na tarefa, em que está profundamente comprometido, de promoção
e defesa da “via lusófona” que, como ele, pensamos constituir “um novo
horizonte para Portugal”, que urge demandar como primeira prioridade nacional.
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