Os ventos continuam a não
soprar de feição no espaço lusófono, neste ano de 2016. Somam-se os casos de (muita)
preocupação e as (poucas) boas notícias parecem ser apenas a excepção à regra.
No Brasil, a intenção do
Governo de acabar com a obrigatoriedade do ensino da literatura portuguesa parece
ser até uma questão menor, face à crise política que se vive. Alenta-nos apenas
a certeza de que, apesar dessa crise – que está a dividir por inteiro o país,
como pudemos constatar presencialmente (em meados de Março) – o Brasil não se
irá cindir. E que unido (desde logo, pela nossa língua comum) irá reencontrar o
seu caminho de futuro.
Em Moçambique, o fantasma da
guerra civil e da cisão ameaça ser de novo bem real. Também aí, é a nossa
língua comum uma das poucas razões, senão mesmo a única razão, para
continuarmos a acreditar que, apesar de todos os ventos em contrário,
Moçambique manterá a sua unidade nacional.
Em Angola, se o fantasma da
guerra civil e da cisão parece enterrado de vez, o panorama não é muito melhor.
Para além da crise económica, precipitada pela descida abrupta do preço de
petróleo, há a percepção cada vez maior de não haver ainda um verdadeiro Estado
de Direito. Seja qual for o ponto de vista sobre o regime angolano, não há
forma de aceitar a recente condenação de Luaty Beirão e dos seus companheiros.
Passe o eufemismo jurídico, as penas foram absolutamente desproporcionadas face
às acusações.
Perante tudo isso, a crise
institucional que se viveu recentemente na CPLP (Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa) até parece uma questão menor. Apesar da solução diplomática
– contra a vontade de alguns países, Portugal irá mesmo assumir, como era seu
direito, o secretariado-executivo da CPLP, ainda que partilhando o mandato com São
Tomé e Príncipe –, esta foi mais uma prova inequívoca de que, vinte anos após a
sua criação, a CPLP ainda não atingiu a sua maioridade institucional.
E o mesmo se diga da recente
decisão da Cúria Romana de abandonar a
língua portuguesa, até agora uma das línguas oficiais da Congregação para a
Causa dos Santos. Segundo as estatísticas que o próprio Vaticano reconhece, no
mundo existem 1254 milhões de católicos, dos quais 315 milhões vivem em países
onde o castelhano é a língua oficial – logo depois, vem o português, falado por
160 milhões de católicos. Sendo que a razão maior para a rejeição desta medida
não deve vir sequer destes números. Mal ou bem, se a Igreja Católica se
projectou globalmente, isso deveu-se desde logo à expansão marítima de
Portugal. Como é, pois, possível tamanha injustiça histórica? Caso para
perguntar: até tu, Francisco?
18 Abril, NOVA ÁGUIA 17 no Algarve - 15h30: Biblioteca
Municipal de São Brás de Alportel | 18h00: Clube Farense | 21h00: Universidade
Sénior de Olhão
3 comentários:
Talvez seja um pouco a culpa de Portugal
parece não desejar "valorizar" a sua história e então como se quer que os outros a valorizem ?!
Se bem julgo saber o AO90 determina que a referência escrita a Sua Santidade passa a ser feita em letra minúscula "papa".
Congratulo a Santa Sé por esta decisão tão acertada e lamento pelos governantes de "p"ORTUGAL.
Paulo Almeida.
Queridos Lusofonos que somos muitos apesar dos dissabores de alguns que andam por caminhos alheios à procura da galinha dos ovos d'ouro.
Acrescento que o único Ministério que cada governo do mundo da CPLP deveria existir era o
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Todo o resto vinha por acréscimo.
Um abraço fraterno
Luisa Timóteo
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