A Língua Portuguesa não teve origem na Galiza, mas sim no Norte de Portugal e na Galiza, e não em toda, porque já se falava Galaico-Português na Galiza interior, junto ao que hoje é a fronteira portuguesa, e ainda enclaves da Galiza cantábrica falavam o Leonês, grupo a que também pertencem o Asturiano e o Mirandês de Portugal.
A Língua Portuguesa e a Língua Galega modernas não são a mesma língua, são línguas que evoluiram paralelamente a partir de uma raiz comum. A sua estrutura gramatical pouco difere e ao escrever-se o Galego com a norma ortográfica do Português torna-se ainda mais evidente a sua semelhança, de qualquer modo ambas as línguas têm funcionamentos sintagmático-semânticos que apontam para culturas diferentes; resumindo: um Português e um Galego não pensam da mesma maneira.
Parte da Galiza pode reivindicar com o Minho português (e a parte de Trás-os-Monte e Alto Douro chegada ao Minho) uma origem comum num povo arcaico: os Calaicos; tirando isso, os Galegos nada têm que ver com a Nação Portuguesa, cujo fundamento arcaico mais unificador é o povo Lusitano. Além do âmbito étnico, outros contributos linguísticos enformaram a Língua Portuguesa, porque os povos a Sul do Tejo também desenvolveram formas linguísticas novolatinas, que acabaram por se diluir no que hoje é o Português; Estrabão refere mesmo que no Séc. I os Turdetanos já só falavam o Latim – e Celtas alentejanos e Cónios algarvios também o falavam – e todos os povos arcaicos que formam hoje a Nação Portuguesa deixaram na Língua vestígios dos seus falares (e semântica e imaginário), e ainda o posterior contributo Árabe, que não alterou a estrutura gramatical latina, mas que acrescentou léxico, muito dele inexistente na Língua Galega.
Há que frisar ainda que os Moçárabes entre o Mondego e o Tejo falavam «língua cristã» (como o atesta um enviado papal no Séc. X – ou XI, estou a confiar na memória e sem tempo para andar a vasculhar alfarrábios), que foi recebido por uma escolta de cavaleiros – talvez dos condes Mendo –, que equipava ao modo árabe, mas falava a tal «língua cristã», que não era no todo o Galaico-Português... região de onde o enviado papal provinha.
Entretanto, num contexto cultural e político diverso, o Galego incorporou léxico do Castelhano e do Leonês, bem como conservou léxico do Galaico-Português, hoje inexistente na Língua Portuguesa, nem sequer já como arcaísmo. Desenvolveu ainda léxico, no seu percurso evolutivo próprio, diferente da Língua Portuguesa; esta, por sua vez, com os Descobrimentos Portugueses, foi buscar léxico e semântica a vários continentes, línguas, costumes e culturas, muitos inexistentes no Galego.
Um dos traços fonéticos que distinguem o Português (e que o diferenciam das demais línguas neolatinas, nomeadamente do Português falado no Brasil, que o contém pelas influências espanholas e itálicas; troço importante dos migrantes para terras brasileiras), é ser pouco cantabile (quando um não latino houve uma língua latina fica com a sensação que os latinos cantam ao falar); entre outros aspectos fonéticos isto resulta de nos ditongos a 2º vogal ser «fechada e baixa»; por outro lado, nas demais línguas neolatinas a segunda vogal é «aberta e alta» (casos do «yo» comparado ao «eu»), o que torna a Língua Portuguesa (de Portugal) uma singularidade no seio das línguas neolatinas, tornando o Português uma língua mais «grave e gutural» e de mais difícil fonação para um estrangeiro (uma vez um amigo Alemão disse-me que «falavamos como os Russos mas com assobios»; estes «assobios» é a nossa pronúncia arábica, no prolongamento dos ss duplos, etc). Por influências castelhanas o Galego fonético é muito mais cantabile.
Pequena amostra de diferenças lexicais
Português___Galego
cotovelo____cóbado
garganta___gorxa
em cima____enriba
uma_______unha
veado______corzo
menina____nena
instante____intre
26 comentários:
Eu quero um camarote para dia 5.
Realmente é uma pequena amostra. Algumas diferenças práticas entre o Lisboeta e o Portuense de cabeça sem parar...
Espilro - Espirro (no caso de pessoa)
Sertã - Frigideira
Isca (de bacalhau) <> Isca (Fígado)
Brunir - Passar a ferro
Pinchar - Saltar
Testo - Tampa (de panela)
Tomba - Remendo (de Sapato)
Festo - Vinco (na roupa)
Chicharro - Carapau
Fino - Imperial
Simbalino - Bica
Pastel de nata - Pastel de belém
E poderíamos encontrar muitas mais, por qualquer região de Portugal que escolhessemos... mas todas seriam Língua Portuguesa, nos seus regionalismos (até quase dialectais) próprios.
Portugal foi formado por muitos povos, ordenados em estractos paralelos de Norte para Sul... e todos formaram uma só Nação. Os Galegos não fazem, nem nunca fizeram parte dela.
Nem nunca farão. Deixemo-nos de fantasias...
Ainda não sei se dá para ir, Pires.
Abraço.
Serão as diferenças assim tão grandes?
Dados tirados de dicionários
cóbado -> côvado (bem parecido)
nome masculino antiga unidade de medida de comprimento, equivalente a 0,66 m do [punho ao cotovelo]
(Do lat. cubìtu-, «cotovelo; distância que vai do punho ao cotovelo»)
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gorxa -> gorja (substituição típica que não devia ter na escrita do j pelo x)
nome feminino1. garganta; goela
2. popular pescoço; cachaço
3. NÁUTICA a parte mais estreita da quilha de uma embarcação
(Do lat. *gurga, «garganta», pelo fr. gorge, «pescoço; garganta»)
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riba
nome feminino1. margem elevada ou declivosa de um rio
2. ribanceira; arriba;
em riba em cima;
em riba de em cima de, sobre
(Do lat. ripa-, «margem»)
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uma e unha -> (bem parecido)
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nena [e]
nome feminino1. popular boneca de pano
2. regionalismo grande bebedeira
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intre -> também quer dizer inter-valo
Não, não são grandes, são bem pequenas. O que não é de admirar, são ambas línguas neolatinas, ainda por mais com raiz na mesma língua arcaica...
Mas não são a mesma Língua.
Além de que, nem que fossem a mesma, isso seria suficiente para considerar que Galegos e Portugueses seriam o mesmo povo. Para isso é preciso a etnia e a cultura comuns; que os Galegos só têm alguma com as regiões de Portugal que referi, e arcaica. 85% dos Portugueses nada têm de comum, nem cultural nem etnicamente à Galiza.
Mas o mais importante é isto: não são a mesma Nação, nem nunca foram. E aqui já entram factores outros, de ordem política e geo-estratégica bem pregnantes.
Não se passa a fazer parte de uma Nação porque sim... E pela Europa fora, existem Nações a falar a mesma língua ou variantes da mesma (quase todo o norte da Europa fala variantes do Norse Antigo), que não são, nem nunca foram a mesma Nação - ainda que algumas remontem a povos arcaicos comuns.
P. S. O Porto nada tem que ver com a Galiza - em absoluto.
P. P. S. Essas pequenas diferenças - ou semelhanças, como se queira - existem também entre o Português, o Galego, o Castelhano, o Catalão, e até com o Francês e o Italiano e o Romeno; ou seja: línguas neolatinas.
Depois existe a diferença: sintagmático-semântica, que faz, por exemplo, com que o mar português seja masculino, feroz, tenebroso e heróico e o francês um útero materno...
No mar Galego vai-se à pesca, e pouco mais...
Precisamos de não esquecer que D. Afonso Henriques antes de tentar conquistar o sul, tentou conquistar a Galiza. Várias cidades galegas foram conquistadas por D. Afonso Henriques e retomadas. Então a questão é complexa.
Agora acho que temos de deixar a Galiza aos galegos e ser prudentes...
Amigo, eu tenho o maior apreço pela Galiza e os Galegos, e é também por isso que respeito a sua soberania, e não me meto onde, enquanto Português, não sou chamado...
Quando a Afonso Henriques, nenhuma complexidade acrescenta ao que debatemos... Se tivesse podido, o Rei soldado teria conquistado toda a Península Ibérica, e até a França.
Se o tivesse feito, hoje Portugal seria um país enorme.
Mas eu gosto dele assim pequenino, entalado entre a Espanha e o Atlântico... foi essa tensão que o fez crescer... para se tornar a primeira nação verdadeiramente moderna da Europa, e o último sopro da grande Civilização Mediterrânica.
Paulo, gostei dessas palavras minho-galegas (que são às vezes bem diversas das portuenses! - o Klatuu tem razão, o Porto ja não é Minho...) e poderiam acrescentar-se mais... lembro só os sapatos 'cambados' :)
Klatuu, prendes-te demais a origens arcaicas. Os últimos mil anos são muito tempo, e bastam. Mas não há uma fronteira cultural minimamente relevante no rio Minho. Se em 1640 (não vou sequer a 1140!) tivéssemos conquistado a Galiza, não davas hoje por isso; se tivéssemos conquistado a Andaluzia, ainda hoje se notava a diferença. Daqui não tiro nenhum argumento a favor da Portugaliza, fique claro.
Prendo-me todo, pá... :) Nada há de mais fundante e fundamental. Pois são, quase 1.000 anos é mesmo muito tempo, um tempo todo em que a Galiza nunca foi Portugal. Nada mais pregnante.
E as guerras peninsulares falam bem, e factualmente, pela mitologia de primos dos nortenhos (excepção à nobre Invicta): é que vais ver o mapa das praças fortes portuguesas na fronteira norte e que obténs?... 90% pela causa espanhola! E se fores conferir com a fronteira alentejana... 90% por Portugal!! Lá se vai o mito d' «o Norte é mais Portugal»...
Quanto à tua hipótese... sentiria toda a diferença: a mesma que sinto agora entre mim e o Minho, mas assim - só poderia - 3 vezes mais forte, e longe, em relação a essa hipotética Galiza à três séculos e meia portuguesa...
Resumindo: marimbámos em Olivença - e mal - para evitar desgraças e agora íamos arranjá-las pelos Galegos, por causa de um sempiterno «arrufo» entre Espanhóis. Ora está-se mesmo a ver!
Nós somos aquele povo peculiar - não esqueças - que, enquanto Espanha tudo fez para «converter» Olivença, por todos os mais engenhosos e opressivos meios... nós, ao invés, nunca ligámos muito a Barrancos (tanto como pouco sempre se ligou ao Alentejo todo), e se as gentes de Barrancos até falam um quase Português... olha, foi porque assim o quiseram.
Os nossos amiguitos daquela víbora em forma de galinha têm alguma razão: somos meio orientais, e adeptos de uma forma de zen, o «'tou-me a cagar!». Nesse estado fico em relação a coisas de Espanhóis, que, como sabes, conheço bem e gosto, e até são todos (Galegos incluídos) useiros e vezeiros em dizer mal dos Portugueses, sempre que lhes dá jeito, mas uns gajos porreiros, todos com aquele mesmo nariz empinado (e elas a mesma coisa, apesar de gostarem da fruta)... E agora vou aproveitar o zen que me sobra para ver se me entendo com o Morfeu, que acho que este blogue já me anda a tirar o sono... :)
Borrada por borrada... acho que se a «Portugaliza» se viesse a realizar, pirava-me para o Brasil, e ia ser pioneiro na causa do «Portugasil»!
Não serviria de nada, mas sempre animava os Brasucas (esses, sim, nossos irmãos) com mais umas anedotas de Portugueses!
Amigo, nunca me ouviste a mim falar da Portugaliza! Apenas digo que é tão errado alargar a todo o Portugal a galeguice do Minho (que nem sequer o é: é apenas o Alto Minho, o distrito de Viana do Castelo, nao já o de Braga) como a salazarice de dizer que quem não for campino não é bom portuga. Há uma praça de toiros em Viana (!) e outra em Pontevedra (!!): fica ridículo como uma gaita de foles em Mértola, e só lá vão americanos.
A 'Nação' é um conceito inventado no séc. XIX - quando à maçonaria interessava destruir as ideias de 'reino' e de 'império' (esta palavra sobreviveu nas caricatas versões dos 'impérios' napoleónico, brasileiro e mexicano, três comédias de baixo nível).
Nunca em momento algum, até ao Absolutismo, fez impressão a 'povos' diferentes integrar o mesmo Reino, e a diferentes reinos integrar o mesmo Império.
Uma coisa importante: se te referes às guerras de 1385, a história "nacionalista" do "patriota Nuno" é uma vigarice. Era uma espécie de Otelo a quem a vida premiou com a sorte grande, mais nada.
Casimiro, a Portugaliza é para limpar o cu.
Abraço!
Nunca me ouviste a defender bairrismos, e isto é facto: Portugal aconteceu quando a Reconquista passou o Tejo...
E espero - vincadamente - que o MIL abandone o discurso dos milenarismos e toda a cretinice do género.
Ou então entregamos isto à União Budista, ou a outro templo qualquer...
Klatuu, concordo em boa parte contigo. Não fica bem direcionarmo-nos para algo ambíguo, complicado, difícil e explosivo. Por outro lado não ficaria nada bem virar as costas a quem nos extende a mão. Vamos ver se conseguimos manter um equilíbrio.
Seria tão mal não dar as mãos aos galegos quando eles no-las estendessem, como provocar Espanha com um grande interesse por Galiza.
Durante fases difíceis, os Galegos sempre encontraram em Portugal a hospitalidade que é dada a povos irmãos.
Mas eu não vou dar nenhuma «mão» à Galiza. Porque essa «mão» não a estaria efectivamente a dar ao Povo Galego, mas a esquerdalhos nacionalistas!
O João Fernandes Andeiro que o diga, quanto à "hospitalidade" :)
Teve mais do que a que merecia...
Essa é boa, sabendo que foi ele que forjou a aliança inglesa... mas estava no caminho de outros. Eu adoro os 'patriotas', principalmente quando são vencedores :)
Que remédio teve... Mas à Espanha não serviu de muito, e não foi só pelos azares das tempestades...
Caíu em bom chão.
E o Andeiro tinha um «patriotismo» peculiar, que o fez apoiar D. Fernando...
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