No início de Março, o programa
“Prós e Contras” (RTP1) convidou-nos para debater a permissão de entrada de
animais de companhia em restaurantes, entretanto votada no Parlamento por
unanimidade (?!).
A forma como o debate fluiu,
tal como as votações que se seguiram, junto do público presente e dos telespectadores,
evidenciaram bem o quanto o argumentário animalista é de facto um bluff.
Manifestamente, as correntes
animalistas não estão habituadas a lidar com contra-argumentos, como foi mais
do que óbvio no debate. Hipnotizados com a sua própria retórica, em que “tudo o
que é pró-animais é bom”, por mais absurda que seja a medida em causa, ficam
depois bloqueados sempre que alguém os questiona nas suas certezas absolutas,
repetindo apenas o mantra de que se
trata de uma “medida civilizacional”.
Tratando-se de uma “medida
civilizacional”, quem a contesta só pode ser, com efeito, bárbaro,
reaccionário, etc. No nosso Parlamento, pelos vistos, essa retórica teve
vitória plena, o que só comprova o desfasamento cada vez maior entre a nossa
sociedade civil e a nossa classe política ou, pelo menos, parlamentar.
Pela nossa parte, procurámos
sobretudo, ao longo de debate, reafirmar a diferença qualitativa e irredutível
entre humanos e animais, salvaguardando que isso não implica qualquer desprezo
pelos animais. O contra-argumento foi sempre o mesmo e, por mais que repetido
até à náusea, não se torna por isso menos absurdo: reafirmar uma diferença
qualitativa e irredutível entre humanos e animais constitui, para os animais,
uma forma de descriminação negativa, senão mesmo um insulto intolerável.
Eis, aliás, a táctica
“invencível” do todo o pensamento relativista pós-moderno: começar por defender
que tudo é relativo, que tudo tem mais ou menos o mesmo valor, em última
instância, que tudo é essencialmente igual. Se alguém tem a veleidade de dizer
que não – que, para além da relatividade de tudo, há diferenças qualitativas e
irredutíveis –, esse alguém é logo posto fora de jogo pelos árbitros-arautos do
politicamente correcto. Face a isso, resta apenas perguntar: até quando durará
o bluff?
Não temos resposta para isso,
mas o facto de, no debate em causa, a maior parte das pessoas ter votado no fim
contra a medida não deixa de ser um bom sinal. A maior parte das pessoas pode
não conseguir verbalizar, com toda a minúcia conceptual, os seus próprios
argumentos. Mas tem algo que muitos dos nossos intelectuais já deixaram há
muito de ter e que até fazem gala em desprezar: o bom senso. Decerto por isso,
o líder do PAN, André Silva, presente no debate, não teve o desplante de se
assumir como “anti-especista”, apesar de instado a isso por mais do que uma
vez. Honra lhe seja feita: ele bem sabe que negar o estatuto qualitativamente diferenciado
da espécie humana desafia todos os limites do bom senso.
Agenda MIL: 9 de Abril, 15h,
na Universidade Europeia –
Conferência sobre “O Projecto Lusófono”.
1 comentário:
Muito bom Renato Epifânio!
Vou fazer shere.
Que nojo! Com tanta exigência de limpeza absurda nos restaurantes e depois metem os cães lá dentro?
Só me lembro de um amigo meu, que chegava a casa dos amigos com os cães (muito bem educados mas cães) que começavam logo a marcar o território, nas cortinas e nos sofás...
Julgam que a Natureza são os filmes do Walt Disney.
Isto é como em Yellowstone, em que há turistas que recorrentemente se põem a alimentar os ursos e depois são comidos por eles.
Viver na cidade afasta-nos da realidade.
Já fui assim ;) Mas curei-me.
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