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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A Lusofonia na Birmânia...

São algumas centenas de milhares os católicos birmaneses, quase todos descendem de portugueses. Entre as pouca coisas que os ligam a Portugal inclui-se a fé, o chouriço e um enorme orgulho nas raízes. 
As aldeias católicas do Myanmar estão vazias por estes dias, quase toda a população viajou para Rangum, a principal cidade do país, para poderem concretizar o sonho de ver o Papa Francisco.
“As pessoas estão muito entusiasmadas. Para eles é quase um milagre. A maioria não tem dinheiro para viajar até Roma e agora o Papa vem ter com eles. Vão ver tudo à distância, mas estão muito entusiasmados”, explica James Swe, um birmanês católico radicado no Canadá, há 42 anos, mas que voltou ao seu país natal para poder participar neste evento.
Mas se os bayingyi, como são conhecidos os católicos deste país, estivessem ainda nas suas aldeias, é muito possível que estivessem a fazer chouriço. A iguaria é uma das poucas heranças gastronómicas que sobrevive dos seus antepassados, os portugueses que estiveram naquela parte do mundo e que por lá casaram, e ficaram, há cinco séculos.
James Swe, que também pertence a esta comunidade e escreveu um livro sobre a presença portuguesa na Birmânia, que vai ser publicado em português no próximo ano, explica que os seus correligionários nem sequer conseguiriam encontrar Portugal num mapa, “mas têm muito orgulho no facto de serem descendentes dos portugueses. A expansão da Birmânia em termos de poder e de influência deve-se aos portugueses e seus descendentes, que serviram os reis birmaneses como artilheiros”.
Muitos dos bayingyi têm ainda feições caucasianas, ou olhos claros. De resto, “na maioria das aldeias sabem fazer chouriço, como os portugueses faziam há centenas de anos”, mas o mais importante, o que dá identidade ao grupo, é a fé. “Todos os católicos são descendentes dos portugueses. Mesmo o primeiro cardeal da Birmânia, Charles Bo, é descendente deles. O catolicismo é uma parte fundamental da nossa cultura, somos muito conservadores”, afirma James Swe.
Poucos são os católicos birmaneses que tiveram a sorte de visitar Portugal, mas James fê-lo quando pesquisava o seu livro. “A primeira sensação que tive quando cheguei a Portugal foi de reunificação. Há 400 anos que os meus antepassados não sabiam se alguma vez voltariam a Portugal, mas passado este tempo todo eu, enquanto herdeiro espiritual, estava a regressar a Portugal. Foi isso que senti. Posso não parecer português, mas sinto-me português, foi como regressar a casa”
Reis, soldados e piratas
A história da presença portuguesa no Myanmar remonta ao século XVI, mas ao contrário do que se poderia pensar, a chegada dos primeiros aos reinos que ocupavam o que é agora o Myanmar, não foi organizada.
Um exemplo é Sebastião Tibau, um militar que mal chegou à Índia desertou e foi procurar fortuna e glória para os lados de Arracão, hoje o estado birmanês de Rakhine, onde ocorre a situação humanitária com os rohingya, que se dizem perseguidos pelo regime e pelas forças armadas do país.
“Ele transforma-se lentamente num rei pirata da ilha de Sundiva. Depois é claro que com tantas traições e mudanças de campo acabou por ser destruído pelos birmaneses. Mas há depois o famosíssimo Rei do Sirião, ou rei do Pegú, que é um Filipe Brito de Nicote, que era também um mercenário, que ganhou tanto relevo que acabou por ser investido como Senhor do Sirião”, explica o historiador Miguel Castelo Branco, especialista na presença portuguesa na Ásia.
Mas para além destes dois casos isolados, há uma presença mais consolidada, que acabará por dar origem aos birmaneses que actualmente se chamam bayingyi. “Onde há portugueses à solta, que era o nome que se lhes dava, geravam espontaneamente comunidades ditas portuguesas. Casavam com mulheres locais, os filhos recebiam educação portuguesa e a religião dos portugueses. Por conseguinte, ao fim de 20 ou 30 anos geravam-se os chamados bandéis, que são povoados inteiramente ocupados por esta população mista, neste caso luso-birmanesa.”
“Eram comunidades espontâneas que desabrochavam espontaneamente e que eram especializadas, isto é, estas comunidades tinham uma função no quadro das monarquias locais. Eram soldados, eram intérpretes, não nos esqueçamos que o português era a língua franca internacional”, explica o funcionário da Biblioteca Nacional.
O que se passou no Myanmar passou-se também nos estados vizinhos. Os portugueses serviam os Reis locais e nas guerras eram sempre um alvo cobiçado pelos inimigos, que os tentavam capturar em vez de matar.
A lealdade aos Reis budistas da Birmânia, neste caso, era inquestionável. “No Século XIX quando os ingleses chegaram para invadir pela primeira vez a Birmânia, a população católica acompanhou os seus reis até Mandalay”, explica o historiador.
Esquecidos pelas “Necessidades”
James Swe não tem conhecimento de tentativas de contacto por parte do Estado português com a sua comunidade, até que há alguns anos o embaixador de Portugal para o Myanmar, que acumula funções como representante na Tailândia, onde reside, visitou o país. O actual embaixador também já demonstrou interesse.
Para Miguel Castelo Branco esta é uma questão que devia preocupar mais as autoridades. “Da mesma forma que a Assembleia da República, há cerca de um ano, aprovou a concessão da nacionalidade portuguesa a judeus sefarditas que façam testemunho e prova da sua ancestralidade portuguesa, julgo que se deveria estudar uma forma, mesmo que fosse simbólica, de restituir parte da cidadania portuguesa” aos descendentes dos portugueses nos países asiáticos.
 
“Até ao século XIX a cidadania antiga portuguesa era todo aquele que fosse católico, vivesse ou não em domínio português e que fosse leal, de uma certa forma, ao Rei de Portugal, que era o responsável pelo padroado português no Oriente. Todos eles se consideravam portugueses. Subitamente há uma revolução em 1820, fazem uma Constituição escrita a dizer que são portugueses os cidadãos nascidos em Portugal, essa gente sofre desde então uma certa orfandade, porque eles consideram-se, e legitimamente, na sua perspectiva, portugueses”, explica.
Na sua experiência qualquer gesto tende a ser bem recebido pelos locais, e recorda o caso de uma professora que foi ensinar português para Malaca, onde rapidamente reuniu centenas de alunos. “Poderiam enviar uns 20 professores de português básico para o Bangladesh; para as comunidades portugueses no Myanmar; para os bairros católicos de Banguecoque, para tanto lado onde há uma fome imensa de aprendizagem da língua portuguesa, porque eles consideram-se portugueses.”
“São portugueses, mas não têm cidadania, não são ouvidos, nem se quer – julgo eu, para nosso mal – haverá muitas pessoas no Palácio das Necessidades que tenham sequer a percepção de que este problema existe”, conclui Miguel Castelo Branco.

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