Recentemente, passaram nas
nossas televisões imagens chocantes, se é que ainda é possível, no século XXI,
falar de imagens chocantes. No essencial, viram-se africanos a serem leiloados
como escravos. Num país africano, ou no que resta dele: falamos da Líbia.
Estranhamente (leia-se: como
seria de esperar), as muitas vozes sempre prontas a apontar, da forma mais
ruidosa, o dedo aos portugueses de há séculos por terem praticado a escravatura
ficaram caladas. Bem compreendemos esse silêncio: habituados que estão a pensar
por “clichés” politicamente correctos, a imagem de, em pleno século XXI, ver
africanos a escravizar outros africanos não é de todo compreensível.
Na sua visão do mundo, a
escravatura é ontologicamente só praticável por europeus em geral e por
portugueses em particular sobre africanos. Que há séculos como ainda hoje
existam africanos que escravizem outros africanos só pode ser uma
impossibilidade ontológica. Por mais evidências que existam dessa prática.
Que essas vozes insistam que
Portugal deve hoje pedir desculpas por algo que se passou há séculos e nada
digam sobre os mesmos factos que se estão a passar aqui a agora, também é
infelizmente bem compreensível. Há muita gente que é capaz de se manifestar
contra a fome no outro lado do mundo mas nada fazer se alguma vítima da fome
for um vizinho do seu prédio. O “heroísmo” à distância, no espaço e no tempo,
é, de facto, para muita gente, bem mais realizável.
Quanto às desculpas que devem
ser pedidas aqui a agora, essas vozes nada dirão. Se falassem, acusariam, quanto
muito, as potências europeias de terem semeado o caos em África, o que
explicaria ainda as imagens da Líbia. Não compreendendo que esse é um argumento
que insiste na menorização dos africanos e que, no limite, legitima até, a
posteriori, o colonialismo. É tempo dos africanos serem responsabilizados por
aquilo que se passa nos seus países. Sem mais alibis.
E a saída para isso também não
passa certamente por acolher todos os refugiados que chegam à Europa. Um outro
exemplo: recentemente, noticiou-se que membros do exército regular iraquiano
estavam a pedir asilo em países europeus, para fugirem ao Estado Islâmico. Que
se aceitem, em situações de catástrofe, crianças, mulheres e homens que já não
podem combater, nada a opor. Quanto a todos aqueles que ainda podem combater
essa catástrofe cada vez maior, a ordem só pode ser: “voltem para os vossos
países e lutem pelo vosso futuro!”. Deixar que toda uma geração desista dos
seus países é desde já desistir do nosso futuro comum enquanto Humanidade.
2 comentários:
Clarifiquemos ideias acerca da escravatura. E não só...
Fiz shere. Para meditarmos
Obrigada Renato Epifânio.
AbraçoMIL
Caríssimo Professor, num cadinho resumiu tudo o que, em boa verdade, constitui um preconceito inaceitável, contra os Portugueses, e a sua administração de vastas áreas administrativas no Ultramar. Bem como, colocou o dedo na ferida. A Irresponsabilidade e a cupidez dos políticos e da política na hodierna África. O Neo-Colonialismo já lá está, de feição asiática e africana, e é brutal e degradante. Bravo pela coragem de ser incómodo, em tempos de indiferença. GLB.
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