Nestes últimos tempos, as notícias que nos chegam do espaço lusófono são
quase sempre negativas – em particular, dos chamados PALOPs, Países Africanos
de Língua Oficial Portuguesa: em Moçambique, há um clima de regresso à guerra
civil; em Angola, apesar da recente libertação de Luaty Beirão e seus
companheiros, continua-se muito longe de um verdadeiro Estado de Direito; na
Guiné-Bissau, a crise política parece tornar-se crónica; em São Tomé e
Príncipe, as últimas eleições presidenciais foram boicotadas pelos candidatos
perdedores na primeira volta, etc. Como quase sempre, Cabo Verde tem sido a excepção
que confirma a regra.
Volta e meia, porém, há notícias que nos enchem a alma – eis um exemplo
recente: «O Conselho de Ministros de Timor-Leste aprovou a doação de dois
milhões de euros a Portugal para apoio no combate aos incêndios que atingem o
país e ajuda às vítimas, informou o governo timorense. Em comunicado, o governo
de Timor-Leste precisa que 1,25 milhões de euros se destinam "a apoiar as
autoridades portuguesas no combate aos incêndios" e 750 mil euros
"são para socorro directo às populações afectadas". O
primeiro-ministro timorense, Rui Maria de Araújo, convocou a reunião
extraordinária do Conselho de Ministros, por considerar "alarmante" a
situação em Portugal.».
Decerto, haverá quem em Portugal reaja de forma menos positiva a uma
notícia como esta – desde logo, alegando que Timor-Leste é um país muito mais
carenciado do que Portugal. Outros ficarão até indignados. Como posso
testemunhar, há portugueses que não compreendem de todo a afeição que os
timorenses continuam a ter por nós, considerando inclusive que isso decorre
ainda de uma insuficiente “descolonização das mentes”. Para tais pessoas (que
existem, reitero), a forma como, por exemplo, se comemorou em Timor-Leste a
recente vitória de Portugal no Europeu de Futebol não só deve não ser
valorizada como, inclusive, deve ser condenada, como se, de facto, a forma
efusiva como se comemorou em Timor-Leste a recente vitória de Portugal no
Europeu de Futebol fosse um sinal da menoridade política dos timorenses.
Escusado será dizer que a nossa visão é por inteiro contrária. Por isso, consideramos
que Portugal deve aceitar, sem qualquer sobranceria, a doação timorense – por
mais que, de facto, Timor-Leste seja um país muito mais carenciado do que
Portugal. Quanto ao mais, são esses sinais que nos fazem fortalecer a convicção
de que a lusofonia é muito mais do que um sonho. Como já foi mil vezes
defendido, as comunidades políticas só se constituem historicamente se forem,
antes de tudo o mais, comunidades de afectos. A comunidade lusófona está ainda
muito longe de ser uma comunidade política (como o relativo fracasso da CPLP:
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, vinte anos após a sua criação, bem
o atesta). Mas é já, inequivocamente, uma comunidade de afectos. E isso, por si
só, é garantia de futuro.
4 comentários:
Muito bem!
Plenamente de acordo. Parabéns!
Levei para partilhar.
Gratidão é sinal de saúde. <3
Viva Timor Leste...
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