Os seres humanos são também,
decerto, seres da natureza – em concreto, seres animais – mas são
essencialmente mais do que isso. Essa diferença essencial consubstancia-se no
pensamento e na forma como este se verbaliza: ou seja, na linguagem.
Contrapor aqui que os animais
também comunicam entre si – usando também, nessa medida, uma linguagem – é, uma
vez mais, não perceber que as diferenças são muito maiores do que as
semelhanças. Decerto, os animais também comunicam entre si – usando também,
nessa medida, uma linguagem –, mas os animais não pensam, pela menos da forma
como humanamente se constitui o pensamento.
Ora, é essa a diferença
essencial, a tese que não é infirmável por todas as excepções que se aduzam:
decerto, há seres humanos que por incapacidade perpétua ou temporária, não
pensam, no sentido forte do termo. Mas essas são apenas as excepções que, como
todas as excepções, confirmam a regra.
Afirmamos, pois, sem qualquer
pretensão de originalidade – em filosofia, a originalidade tende a ser
inversamente proporcional à verdade (salvaguardas as devidas excepções que,
também aqui, confirmam a regra) –, que o ser humano só é na exacta medida em
que pensa e em que verbaliza o seu pensamento através da linguagem. Ora, é aqui
que a questão do sentido entra realmente. Todo o pensamento, tal como
humanamente o experienciamos, é, essencialmente, uma procura de sentido.
É no pensamento, com efeito,
que o ser procura e encontra, pior ou melhor, em parte ou por inteiro, sentido.
Se pensar é sempre pensar em algo – mesmo que esse algo seja o ser em geral, o
não-ser ou até o próprio nada –, a motivação, mais expressa ou mais subliminar,
mais consciente ou mais inconsciente, é sempre esta: que sentido tem “isto”? É,
pois, no pensamento que essa tensão do ser para o sentido emerge com todo o
vigor. É no pensamento que o ser se sente. É no pensamento que o ser vem a
saber de si.
Daí, de resto, essa clássica
imagem – bem presente, por exemplo, em Hegel – da humanidade como a
“consciência do ser”. Porque, de facto, é no humano, no nosso pensamento, que
todo o ser ganha verdadeira consciência de si, na medida em que se interroga
sobre o seu ser e, mais fundamentalmente, sobre o seu sentido. Se a humanidade
não existisse, o mundo, tal como o conhecemos, poderia até continuar a ter sentido.
Apenas – subtil, abissal diferença – não o saberia, não teria consciência
disso. É pois a humanidade que dá sentido – pelo menos, um sentido consciente
–, ao mundo, à própria natureza. É pois na humanidade que a natureza realmente
se consuma, se completa.
1 comentário:
Um sorriso de satisfação. Paulo Almeida.
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