O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, considerou «lamentável a aposta da Frelimo de um ataque» à sua comitiva, na zona de Zimpinga, Gondola, centro de Moçambique, mas assegurou que não se vai vingar.
"Como já disse, Deus existe. Mas é bonito assim, e que estejam a fazer assim [emboscadas], porque, no dia que a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] declarar ou pretender declarar a guerra mesmo no país, ninguém irá nos condenar", afirmou Afonso Dhlakama à Lusa no local do incidente.
Dhlakama referiu que não vai se vingar do ataque para não criar o caos no seio da população, mas apelou à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder), "para parar, porque isso é uma brincadeira de mau gosto".
O líder da Renamo disse hoje à Lusa que escapou ileso a um novo ataque em menos de duas semanas na província de Manica, centro de Moçambique.
O ataque ocorreu hoje ao fim da manhã na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, distrito de Gondola, quando a comitiva da Renamo seguia para Nampula, segundo o presidente do partido
"Nunca pensei que depois de 23 anos da 'paz', entre aspas, a Frelimo em pleno dia fosse nos atacar", afirmou Dhlakama.
O dirigente da oposição mencionou que três dos seus guardas foram feridos, mas o jornalista da Lusa que se dirigiu para o local observou pelo menos nove mortos, entre os quais dois homens com uniformes da Renamo.
No local, estava também um "chapa" (carrinha de transporte semipúblico) acidentado, cujo motorista morreu, bem como alguns dos passageiros.
A Lusa testemunhou ainda a existência de civis feridos, em número incerto, alguns dos quais com marcas de balas.
"É guerra, em guerra morre-se e fere-se", comentou Afonso Dhlakama, referindo que os tiros saíram de uma elevação próxima da estrada e que os seus homens apreenderam três armas, uma das quais AK47, um carregador com munições e uma arma antitanque RPG7, que disse pertencerem às forças estatais.
Os homens da Renamo, descreveu, responderam aos tiros e entraram mata adentro em perseguição dos supostos atacantes, acrescentando que, "se não fugissem, seriam capturados à mão" e que os ataques estão a "estão a fazer morrer os filhos do dono".
Dhlakama apelou para que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, leve a sério a atual situação e pare os ataques.
"Ele, Nyusi, é que roubou-me votos, ele é que me atacou e nem tem capacidade militar", afirmou o presidente do maior partido de oposição, insistindo que, apesar da suposta emboscada, os seus homens conseguiram "correr com eles [os alegados atacantes]".
Após o ataque, declarou, quatro viaturas 4X4 de cabina dupla brancas aproximaram-se do local da emboscada carregando militares, mas estes, segundo Dhlakama, viriam a recuar quando se depararam com a comitiva da Renamo imobilizada.
Além dos mortos deitados na estrada e, na encosta junto da via, de onde terá partido o alegado ataque, vários civis permaneciam deitados, à espera de socorro.
O trânsito rodoviário no troço Beira-Machipanda foi interrompido, levando a longas filas de camiões e transportes públicos na região da Maforga.
"Estão a criar instabilidade nas estradas, mas há pessoas que querem passar da Beira para Chimoio, isso é retardar o desenvolvimento, mas é a Frelimo que diz quer a paz, é a Frelimo", insistiu Afonso Dhlakama.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de setembro, a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.
A Frelimo acusou por sua vez a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército, afirmando que "a natureza vai encarregar-se de fazer a justiça".
Moçambique vive sob o espetro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
Diário Digital com Lusa
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