Nos 100 anos da Arte de Ser Português, de Teixeira de
Pascoaes, propomos aqui a uma (re)leitura dos seus quatro primeiros capítulos.
Assim, citaremos, em itálico, excertos desses quatro primeiros capítulos, que
nos permitimos actualizar em prol do novo horizonte que, a nosso ver, se abre a
Portugal no Século XXI: o da Convergência Lusófona.
*
Ser lusófono é também uma arte. Uma arte, porém, não apenas de alcance nacional, mas, sobretudo,
trans-nacional. A condição lusófona, com efeito, não é compatível com a posição
estritamente nacionalista.
O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um
escultor, modelando as almas juvenis para lhe imprimir os traços fisionómicos
do ser lusófono. São eles que a
destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no
passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo,
aquela unidade da morte e da vida, do espírito e da matéria, que caracteriza o
Ser.
O fim desta Arte é a renascença lusófona, tentada pela reintegração dos portugueses [e de todos os demais
lusófonos] no carácter que por tradição e
herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social,
subordinada a um objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa
Pátria [lusófona, não apenas portuguesa]
ressurgida em frente do seu Destino.
As Descobertas foram o início da sua Obra. Desde então até hoje tem
dormido. Desperta, saberá concluí-la…ou melhor, continuá-la, porque o
definitivo não existe.
(…)
A Lusofonia é uma Pátria porque existe uma Língua Portuguesa, uma
Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a religiosa) – uma actividade
moral; e, sobretudo, porque existe uma Língua e uma História.
A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus
sentimentos e pensamentos, é o que melhor revela o seu poder de carácter.
Por isso, quanto mais palavras intraduzíveis tiver uma Língua, mais
carácter demonstra o Povo que a falar. A nossa, por exemplo, é muito rica em
palavras desta natureza, nas quais verdadeiramente se perscruta o seu génio
inconfundível.
E é pelo estudo psicológico destes vocábulos, comparado com o estudo
das nuances originais (de natureza sentimental e intelectual) descobertas nas
Letras, na Arte, na Jurisprudência, no sentimento religioso de um Povo, que
podemos definir a sua personalidade espiritual, e daí concluir para o seu
destino social e humano.
Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou
em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais,
também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma
instintiva compreensão da Vida, em perfeito acordo com o génio da Língua
portuguesa.
*
Uma Pátria é também um ser vivo superior aos indivíduos que o
constituem, marcando, além e acima deles, uma nova individualidade. Esta nova
Individualidade representa consequentemente uma expressão da Vida superior à
vida animal e humana.
A Pátria Lusófona é um ser espiritual que depende da vida
individual dos lusófonos. Por outra:
as vidas individuais e humanas dos lusófonos, sintetizadas, numa esfera transcendente, originam a Pátria
Lusófona.
Temos de considerar a nossa Pátria como um ser espiritual, a quem devemos
sacrificar a nossa vida animal e transitória.
(…)
Observando agora o processo por que os seres se perpetuam e progridem,
vemos que os imperfeitos representam transições para os mais perfeitos. O
perfeito alimenta-se do imperfeito. O superior vive do inferior.
A lei suprema da vida é, portanto, a lei do sacrifício das formas
inferiores às superiores.
Até no mundo físico de revela e tem o nome de gravidade. O corpo menor
é atraído pelo maior. Atrair é viver; ser atraído é morrer. O pequeno corpo
atraído perde-se, morre no grande corpo que atrai…
Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que
sacrificam a sua existência.
O rio é a morte de muitas fontes e o mar é a morte de muitos rios; mas
o rio no mar é mar. A consciência humana é também morte, o sacrifício de muitas
vidas animais e vegetais inferiores a ela.
Assim o indivíduo sacrificado à Pátria fica também a ser Pátria.
Cumpriu a fonte o seu destino, tornando-se rio, e o rio, tornando-se
mar e o indivíduo tornando-se Família, Pátria, Humanidade, subindo da sua
natureza individual e animal à perfeita natureza do Espírito.
Nuno Álvares, por exemplo, morreu como homem para viver como Portugal.
Do mesmo modo, Portugal e as demais nações e regiões lusófonas devem
sacrificar-se em prol da Pátria Lusófona.
Como prefigurou Agostinho da
Silva, ao falar de um “Império, que só poderá surgir quando Portugal,
sacrificando-se como Nação, apenas for um dos elementos de uma comunidade de
língua portuguesa”. Na sua perspectiva, assim se cumpriria essa Comunidade
Lusófona, a futura “Pátria de todos nós”: “Do rectângulo da Europa passámos para algo
totalmente diferente. Agora, Portugal é todo o território de língua portuguesa.
Os brasileiros poderão chamar-lhe Brasil e os moçambicanos poderão chamar-lhe
Moçambique. É uma Pátria estendida a todos os homens, aquilo que Fernando
Pessoa julgou ser a sua Pátria: a língua portuguesa. Agora, é essa a Pátria de
todos nós.”. Conforme afirmou ainda: “Fernando Pessoa dizia ´a
minha Pátria é a língua portuguesa’. Um
dia seremos todos — portugueses, brasileiros, angolanos,
moçambicanos, guineenses e todos os mais — a dizer que a nossa Pátria é a língua portuguesa.”
Renato Epifânio
3 comentários:
Caro Renato
Andava por cá a pensar o que deveria responder ao texto publicado no Jornal Badaladas em Torres Vedras, de um chamado lusofono, Nozes Pires, professor de história na mesma cidade, arauto de programas da CDU para a cultura, sem respeito pelos verdadeiros homens que se bateram pela cultura, liberdade e democracia.
O texto publicado citando o autor sobre a cultura " É a síndrome da morte da cultura de quem são responsáveis os donos "disto tudo": mandarins do Governo e do capital".
Refere-se o dito professor à exposição aberta ao público até Setembro no Museu Leonel Trindade em Torres Vedras, dedicada à Viagem ao Oriente de Sarmento Rodrigues. Como diz e muito bem o Professor Adriano Moreira, que foi o notável Agostinho da Silva e o homem de Estado excecional, Almirante Sarmento Rodrigues, de todos os portugueses que mais recentemente cuidaram do valor português frequentemente esquecido.
Afirma o dito professor de história na sua filosofia, propor um Congresso de Associações do Municipio de Torres Vedras, ignorando o mapeamento das associações concelhias, seus compromissos e objetivos que vão para além do concelho, nacionais e internacionais, que ao referido professor de cabeça dura e curta visão não faz ideia dos programas de cada asociação, na defesa da cultura, da educação, do desporto, do património e do legado de origem portuguesa no mundo.
O Tema recomendado para ler e meditar vai ser mesmo este
"A arte de ser lusófono"
Deixando o convite a todos os lusofonos a visitar a exposição sito no Convento da Graça, Largo 25 de Abril, patente ao público até Setembro, no horário das 10h até às 18h. Encerra à 2ª feira.
O nosso agradecimento ao Museu Municipal Leonel Trindade - Câmara Municipal de Torres Vedras.
Luisa Timóteo
Boa inspiração:)
Abraço MIL
Renato
Nos 100 anos da Arte de Ser Português, de Teixeira de Pascoaes, propomos aqui a uma (re)leitura dos seus 4 primeiros capítulos. Assim, citaremos, em itálico, excertos desses 4 primeiros capítulos, que nos permitimos actualizar em prol do novo horizonte que, a nosso ver, se abre a Portugal e Portug@£ no Século XXI: o da Convergência Lusófona e da Nação da Portugalidade que é que língua e uma distinta forma de €$T@R.
*
Ser lusófono é uma arte e a maior entre as ARTES, sem desprimor pelas outas que também usamos. Uma arte, porém, não apenas de alcance nacional, mas, sobretudo, transnacional e da ONU e demais Alianças. A condição lusófona, com efeito, não é compatível com a posição estritamente nacionalista.
O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um artista , um militar (faz cousas por missão e não se fico por aí), modelando as almas juvenis para lhe imprimir os traços fisionómicos do ser lusófono. São eles que a destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo, aquela unidade da vida e de vencedor do amor, do espírito e da matéria, que caracteriza o Ser e o nosso Estar.
Um dos fins desta Arte é a renascença lusófona, tentada pela reintegração dos portugueses [e de todos os demais lusófonos] no carácter que por tradição e herança nos pertence, para que eles ganhem uma actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum de Portug@l. Em duas palavras: colocar a nossa Pátria[lusófona, não apenas portuguesa] ressurgida em frente deste mundo belicista e de “arte” militarista corruptível em privados o que não pode ser.
As Descobertas e o Seguro foram o início da sua Obra. Desde então até hoje tem dormido e bem, mas também dado liberdade e não libertinagem de pensamentos a outra congéneres. Desperta, saberá concluí-la…ou melhor, continuá-la, porque o definitivo não existe.
A Lusofonia é uma Pátria/Nação porque existe uma Língua Portuguesa, uma Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a militar, a cientifica e a religiosa) – uma actividade moral; e, sobretudo, porque existe Língua e com História.
A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos, é o que melhor revela o seu poder de carácter.
Por isso, quanto mais palavras intraduzíveis tiver uma Língua, mais carácter demonstra o povo que a falar. A nossa, por exemplo, é muito rica em palavras desta natureza, nas quais verdadeiramente se perscruta o seu génio inconfundível.
E é pelo estudo psicológico destes vocábulos, comparado com o estudo das nuances originais (de natureza sentimental, intelectual e vivencial) descobertas nas Letras, na Arte, na jurisprudência, no sentimento religioso de um Povo, na arte militar e no estar que podemos definir a sua personalidade espiritual vivificadora, e daí concluir para o seu destino social e humano.
Se a nossa alma ou consciência, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais, também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos (que viveram das suas artes) se nota uma instintiva compreensão da Vida, em perfeito acordo com o génio da Língua portuguesa.
Uma Pátria ou Nação é também um ser vivo superior (aglutinador e estruturado) aos indivíduos que o constituem, marcando, além e acima deles ou com eles, uma nova individualidade. Esta nova Individualidade representa consequentemente uma expressão da Vida superior à vida animal e humana.
P.S. Renato Epifânio deixou o negativismo balofo da cidade para valorizar o positivo da civilização pelo caminho da Naçãp da Portugalidade nesta era ainda atómica e tecnolófic@.
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